São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Historiador vê esforço de Obama para melhorar relação com AL

Moniz Bandeira acha que Brasil só conseguirá vaga no Conselho de Segurança da ONU se a crise econômica provocar um colapso no sistema internacional

DA REDAÇÃO

O historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, 73, avalia que o encontro Lula-Obama resulta do empenho do governo norte-americano em melhorar seu relacionamento com a América Latina. Autor de "Presença dos Estados Unidos no Brasil", Moniz Bandeira acredita que a crise econômica vai obrigar os EUA a reduzir suas atividades militares na América do Sul.

 

FOLHA - Obama aparentemente aceita mudanças na ONU, mas não a inclusão de novos membros com poder de veto no Conselho de Segurança. O que o Brasil pode esperar?
LUIZ ALBERTO MONIZ BANDEIRA
- A reivindicação do Brasil com respeito à participação no Conselho de Segurança da ONU vem de um compromisso de Franklin Roosevelt com Getúlio Vargas, que ele não conseguiu cumprir em virtude dos vetos da Inglaterra e da União Soviética em 1945. O presidente Fernando Henrique Cardoso também lutou pela inclusão do Brasil no CS, razão pela qual assinou o TNP, mas nada conseguiu. Creio que seja muito difícil, por enquanto, qualquer reforma substancial nesse órgão. As potências que compõem o CS da ONU dificilmente cederão o poder a outros países, salvo se a crise econômica provocar um colapso político no sistema internacional de poder.

FOLHA - Bush tinha uma relação tensa com a Venezuela e Cuba, mas uma relação tranquila com o Brasil. Quais as perspectivas sob Obama?
MONIZ BANDEIRA
- Obama demonstra que deseja melhorar seu relacionamento com os países da América Latina. O Departamento de Estado reconheceu o caráter democrático do plebiscito mediante o qual Hugo Chávez conseguiu o direito de candidatar-se sucessivamente à Presidência e tende a aliviar a política contra Cuba. Mas a curto prazo Obama não poderá revogar as leis Helms Burton e Torricelli e o embargo decretado por John Kennedy em 1962, porque isso depende de aprovação do Congresso, o que por enquanto ele não terá condições de conseguir.

FOLHA - A Marinha dos EUA recriou sua Quarta Frota, mas não ampliou o número de navios na América do Sul. Qual é o sentido dessa decisão?
MONIZ BANDEIRA
- A dívida pública dos EUA já atingiu US$ 10,9 trilhões. E essa dívida recresce com os trilhões que Obama vem aplicando para conter o agravamento da crise. Diante de tal situação, os EUA não poderão manter o aparato militar que hoje têm em todo o mundo. A crise vai levar os EUA a reduzir ou mesmo abandonar o Plano Colômbia e outras atividades militares, não só na América do Sul, mas em outras regiões também. A guerra no Iraque está perdida, e no Afeganistão a situação só tem piorado.


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