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Ex-embaixador diz que encontro tem "um valor simbólico"
Para Rubens Barbosa, visita não resolverá pendências entre os países, mas revela que Brasil será um interlocutor privilegiado
Diplomata considera que estratégia do Brasil de abrir embaixadas para conseguir vaga em conselho da ONU é "custosa e desnecessária"
DA REDAÇÃO
O diplomata Rubens Barbosa, 70, ex-embaixador do Brasil
nos EUA de 1999 a 2004, avalia
que o encontro entre os presidentes Barack Obama e Luiz
Inácio Lula da Silva tem um
grande valor simbólico, mas
não resolverá as pendências comerciais entre os dois países.
FOLHA - O Brasil insiste numa vaga
permanente no Conselho de Segurança. Quais são as perspectivas?
RUBENS BARBOSA - Não creio
que, no meio dessa crise econômica, o tema possa ser tratado
com a prioridade que merece.
Essa questão só vai avançar na
medida em que os EUA mudarem de posição e apoiarem claramente a reforma da ONU, inclusive a do Conselho de Segurança, com o aumento do número de membros. Não acho
provável que Washington mude de posição e declare apoio
público ao Brasil. O Brasil tem
todos os títulos para ser incluído entre os membros permanentes do conselho e isso vai
ocorrer quando os cinco membros permanentes decidirem
pela ampliação do colegiado.
A campanha do governo brasileiro para esse fim, inclusive
com abertura de embaixadas, é
custosa e desnecessária porque
esse é ainda um não-assunto.
FOLHA - Obama não parece disposto a cortar os subsídios agrícolas e a
tirar barreiras ao etanol brasileiro. A
Rodada Doha vai seguir emperrada?
BARBOSA - A crise econômica
global está tendo grande repercussão sobre o comércio internacional. O nacionalismo financeiro e o protecionismo comercial começam a ganhar força, como exemplificado pelas
medidas tomadas nos EUA e na
Europa. Nesse quadro, apesar
de importante, a Rodada Doha
dificilmente será retomada nos
próximos meses -talvez anos.
FOLHA - Bush defendia a criação da
Alca, enquanto Lula priorizava o
Mercosul. Há chance de que essas
posições possam se compatibilizar?
BARBOSA - Não há disposição
política nem dos EUA nem do
Brasil em retomar os entendimentos para reviver a Alca. O
ânimo restritivo do Congresso
dos EUA tem impedido a ratificação de acordos já firmados
com a Coreia, a Colômbia e o
Panamá. O lobby agrícola nos
EUA se oporá tenazmente a um
amplo acordo com o Brasil, temendo a concorrência do agrobusiness brasileiro.
FOLHA - A gestão Bush tinha uma
relação tensa com Hugo Chávez e
manteve o embargo a Cuba, mas
possuía uma relação bastante cooperativa com Lula. O que se pode esperar da gestão Obama?
BARBOSA - Mais do mesmo. O
governo Obama vai continuar a
fazer do Brasil um interlocutor
privilegiado para temas regionais. O interesse americano em
relação ao hemisfério não mudou de uma administração para
outra. O Brasil continuará a ser
visto como um fator de moderação junto a governos, vistos
de Washington, como de esquerda radical (Venezuela, Bolívia, Equador) e como uma força de estabilidade política e
econômica capaz de influir no
comportamento dos vizinhos.
FOLHA - Que proveito os dois países podem tirar desse encontro?
BARBOSA - O encontro presidencial Lula-Obama tem um
grande valor simbólico. Lula
será o terceiro chefe de Estado
a ser recebido por Obama, o
primeiro da América do Sul. A
agenda inclui temas bilaterais,
hemisféricos e globais, o que
acentua a diferenciação de tratamento que o governo de Washington está dando ao Brasil.
Não se deve esperar a assinatura de qualquer acordo, mas
sim uma ampla troca de opiniões, o que será proveitoso para ambos. O Brasil tem posições
fortes na defesa do fortalecimento dos organismos financeiros internacionais com uma
participação maior dos emergentes. Parece-me difícil que o
G20 venha a substituir o G7, como quer o Brasil, mas a ampliação do G7 é questão de tempo e
por isso faz bem o governo brasileiro em insistir nesse tema.
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