São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2010

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Palocci abre as portas do empresariado para Dilma

Ex-ministro da Fazenda se transforma em general oculto da campanha petista

Convocado por Lula, Palocci troca possível candidatura ao governo de SP por missão de vencer resistências ao nome de Dilma Rousseff

Leonardo Wen - 6.abr.09/ Folha Imagem
O deputado federal Palocci na Assembleia Legislativa de SP

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Não fosse o episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro, ele poderia ser o candidato de Lula à Presidência. Para se recuperar do prejuízo político, submergiu, optou pelo trabalho nos bastidores e se transformou, hoje, no "escudeiro" daquela que ocupou seu espaço. É um "abridor de portas" para aliados e "o interlocutor" escalado pelo presidente para identificar resistências e aparar arestas no meio empresarial em favor de Dilma Rousseff.
Essas são definições, com pequenas variações, feitas sobre Antonio Palocci Filho, 49, por ministros, petistas, aliados e empresários ouvidos pela Folha. Há, porém, os que torcem o nariz para o ex-ministro da Fazenda. Na área econômica, a pergunta que se faz é: qual Palocci irá integrar a campanha de Dilma, o conservador do passado ou um adaptado à nova fase do governo Lula?
Sem falar em grupos do PT que criticaram sua intervenção em encontro de empresários de comunicação, quando condenou a ideia de "controle de mídia" lançada pelo partido.
Reservadamente, Palocci disse que não podia deixar prosperar a ideia. "Era comprar briga com a mídia num ano eleitoral, uma loucura", disse a interlocutores, citando que foi a primeira vez que falou sobre algo relacionado à campanha sem consultá-la. "Sabia que ela também é contra."
O deputado integra o comando da campanha petista por escolha do presidente. Quando decidiu armar a estratégia da candidatura de Dilma, Lula foi claro sobre o papel do ex-ministro. "Você chama o [Fernando] Pimentel que eu chamo o Palocci", disse a Dilma.
Desafetos nos tempos em que eram colegas de ministério, os dois vivem hoje uma "fase de sintonia". Nas palavras de um petista ligado aos dois, deixaram para trás a relação de "alguns tapas" e são agora só "muitos beijos".
Segundo amigos, Dilma sabe que Palocci encarnará a figura de "âncora" na campanha para o empresariado. Exemplo: banqueiros estavam preocupados com sua posição em relação ao Banco Central e procuraram Palocci. Ele se reuniu com Dilma, que mandou dizer que manteria a autonomia informal adotada no governo Lula. A mensagem foi repassada no início do ano.

Definições
Não por outro motivo Palocci é definido pelo presidente da Federação Brasileira de Bancos, Fábio Barbosa, "como uma referência de bom senso em qualquer ambiente que esteja". Ou de "fundamental" pelo presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Simão, na aproximação do setor com Lula e Dilma.
Para aliados da base governista, ele é mais que isso. "Ele abre portas no governo, no Congresso e no meio empresarial. É o melhor quadro petista hoje, depois de Lula", diz um peemedebista, que pede anonimato para não criar ciumeira com Dilma.
Palocci foi convocado por Lula no final do ano passado para integrar o comando de campanha de Dilma, presente na reunião. Disse que aceitava, desde que a ministra concordasse. "As palavras do presidente são minhas também", respondeu Dilma.
Desde então, Palocci fala quase diariamente com a ministra, agenda encontros com empresários e não negocia nada sem consultá-la. "Quem diz que fui escalado pelo presidente para ser sua voz na campanha está equivocado. A voz do Lula na campanha é a Dilma. Tenho de passar para empresários e outros setores seu pensamento e buscar equilíbrio", diz Palocci a interlocutores.
Ele forma com o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel a dupla forte da campanha. Pimentel é a "pessoa de total confiança" da ministra, enquanto Palocci é o "homem do Lula", identificado como tal pelos empresários.

Recomeço
A participação na campanha pode reabrir as portas do governo ao ex-ministro, movimento com o qual chegou a flertar antes do julgamento do Supremo Tribunal Federal que arquivou ação contra ele pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Na ocasião, havia a expectativa de que ganharia por unanimidade e, livre do processo, seria reconduzido ao governo. A vitória apertada no STF, 5 a 4, foi apontada como motivo para Lula desistir. "Eu nunca tive essa expectativa", costuma dizer sobre o assunto que provocou sua queda.
"Lamentei a saída dele", afirma o empresário Paulo Simão, que revela sua expectativa de que Palocci faça parte da futura equipe se Dilma vencer: "Uma pessoa dessa, dando respaldo a um governo Dilma, é um sinal positivo".
Desde que foi convocado por Lula, Palocci toca jornada dupla de deputado e membro do comando de campanha. Na divisão de tarefas, costuma dizer que não irá "mexer com grana". Não significa, porém, que não terá importância nesse setor. Em conversas reservadas, diz que tem muito empresário que o procura e pergunta "como doar, para quem doar". Sua resposta é que haverá um tesoureiro exclusivo da campanha para tratar do assunto.
Ele será o responsável por negociar com os aliados, PMDB à frente, o futuro programa de governo de Dilma. "Não tenho ilusões, mais uma vez serei classificado de conservador pelo PT. Tudo bem, alguém tem de desempenhar esse papel e não pode ser ela", afirma ele a interlocutores.
Palocci e Pimentel já desempenharam essa tarefa quando ajudaram a ministra a redigir seu discurso no congresso do PT, no mês passado, que a oficializou como candidata.
O texto final, sob recomendação do presidente, foi recheado de citações sobre a importância de manter o tripé da política econômica: "ajuste fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação", tópicos esquecidos de propósito nas diretrizes lançadas pelo PT como sugestões para um programa de campanha presidencial.
A intervenção no texto do discurso veio depois de colhidas informações de que as diretrizes assustaram o setor empresarial. O empresário Paulo Simão, por exemplo, classifica o projeto de governo do PT como "extremamente retrógrado, estatizante, que não interessa ao país".
Palocci define sua missão na montagem do programa da seguinte maneira: "Teremos teses complicadas e vou atuar no sentido de ponderar, de equilibrar forças. Agora, seria falta de inteligência minha imaginar que vou fazer o programa de governo dela. Quem vai dar a palavra final é ela, ela é a candidata", confidencia.
Os empresários, contudo, esperam mais dele. "Palocci será fundamental na campanha. Se a ministra ganhar, será a ponte entre o governo Lula e um governo Dilma", diz o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch.
O ex-ministro espera mais do que isso. "Não quero ficar só com essa fama de especialista em empresário", diz ele a interlocutores.


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