|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Os bares na reeleição
Junção de candidato, evento e verba pública em congresso de donos de bares constitui indício de crime eleitoral
|
A ESTA ALTURA em que a hipótese de terceiro mandato está
na moda, parece apropriado
relacionar o apoio de R$ 300 mil do
governo federal ao 18º congresso
dos populosos donos de bares e restaurantes, a ocasião desse evento e o
comparecimento de Lula lá. Em
agosto de 2006, a eleição ou reeleição para presidente já entrava na reta final, o que deu à prestigiada presença de Lula, acertada por amigos
seus e pelo então ministro Walfrido
dos Mares Guia, a característica de
ato de campanha eleitoral financiado com dinheiro público.
Mais do que a revelação de gasto
irregular, proveniente de exames do
Tribunal de Contas da União ontem
relatados na Folha por Marta Salomon e Leila Suwwan, a junção de
candidato, evento e verba pública
constituiu um indício de crime
eleitoral. Tão despercebido quanto
muitos outros de possível ocorrência, também despercebidos ou apenas suspeitados. Todos decorrentes da disputa de reeleição sem
afastar-se do governo. Seja reeleição presidencial, de governador ou
de prefeito.
Já conhecida em suas outras formas, a relação também política de
Lula com donos de bares e restaurantes não condiz com a idéia de
que seja caso único nos R$ 12,6 bilhões de contribuições, em seus
dois mandatos até agora, a entidades variadas. Nesse montante, é
bom notar, a múltipla utilidade dos
bares para Lua e seu governo é
confirmada pela contribuição, afora a do congresso, do total de R$ 24
milhões de dinheiro público para a
associação dos donos de tais estabelecimentos. Com proveito financeiro especial, sugere o relatório do
TCU, dos dirigentes e parte dos associados.
Se na política brasileira (dá vontade de dizer: e na mídia) se discutissem os problemas mais sérios e
deformantes, em vez do terceiro
mandato, ou segunda reeleição, estaria em debate a modalidade das
reeleições. Já nascidas como obra
de corrupção política.
Extra
A esta altura em que o problema
da ocupação ilegal na Amazônia está em moda, com o risco de confronto feroz na reserva indígena
Raposa/Serra do Sol, justifica-se
retomar um conceito formulado na
semana passada pelo ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger:
"A Amazônia não é uma coleção
de árvores. É um grupo de pessoas".
Até onde sabíamos, a Amazônia é
a mais formidável coleção de árvores do Universo. E a mais importante para o destino do planeta.
Cujos habitantes não se reduzem,
numérica nem humanamente, a
um grupo.
A formulação do ministro extraordinário é extraordinariamente admirável, como síntese perfeita
dos propósitos que têm feito o desmatamento e projetam a descaracterização geral da Amazônia.
Na certa
A esta altura em que o movimento estudantil volta à moda, com a
rebeldia na Universidade de Brasília, o ministro da Educação, Fernando Haddad, dá útil lição ao governo Lula: não foi omisso, não
exagerou na presença e no poder, e
não perdeu tempo para providenciar alterações de regimento que
dificultem o desvio de verbas de
pesquisas e outros fins responsáveis.
Texto Anterior: UNE convocará ato de apoio aos alunos da UnB Próximo Texto: Recursos de fundação para universidade terão de passar por licitação Índice
|