São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2008

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JANIO DE FREITAS

Os bares na reeleição


Junção de candidato, evento e verba pública em congresso de donos de bares constitui indício de crime eleitoral

A ESTA ALTURA em que a hipótese de terceiro mandato está na moda, parece apropriado relacionar o apoio de R$ 300 mil do governo federal ao 18º congresso dos populosos donos de bares e restaurantes, a ocasião desse evento e o comparecimento de Lula lá. Em agosto de 2006, a eleição ou reeleição para presidente já entrava na reta final, o que deu à prestigiada presença de Lula, acertada por amigos seus e pelo então ministro Walfrido dos Mares Guia, a característica de ato de campanha eleitoral financiado com dinheiro público.
Mais do que a revelação de gasto irregular, proveniente de exames do Tribunal de Contas da União ontem relatados na Folha por Marta Salomon e Leila Suwwan, a junção de candidato, evento e verba pública constituiu um indício de crime eleitoral. Tão despercebido quanto muitos outros de possível ocorrência, também despercebidos ou apenas suspeitados. Todos decorrentes da disputa de reeleição sem afastar-se do governo. Seja reeleição presidencial, de governador ou de prefeito.
Já conhecida em suas outras formas, a relação também política de Lula com donos de bares e restaurantes não condiz com a idéia de que seja caso único nos R$ 12,6 bilhões de contribuições, em seus dois mandatos até agora, a entidades variadas. Nesse montante, é bom notar, a múltipla utilidade dos bares para Lua e seu governo é confirmada pela contribuição, afora a do congresso, do total de R$ 24 milhões de dinheiro público para a associação dos donos de tais estabelecimentos. Com proveito financeiro especial, sugere o relatório do TCU, dos dirigentes e parte dos associados.
Se na política brasileira (dá vontade de dizer: e na mídia) se discutissem os problemas mais sérios e deformantes, em vez do terceiro mandato, ou segunda reeleição, estaria em debate a modalidade das reeleições. Já nascidas como obra de corrupção política.

Extra
A esta altura em que o problema da ocupação ilegal na Amazônia está em moda, com o risco de confronto feroz na reserva indígena Raposa/Serra do Sol, justifica-se retomar um conceito formulado na semana passada pelo ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger:
"A Amazônia não é uma coleção de árvores. É um grupo de pessoas".
Até onde sabíamos, a Amazônia é a mais formidável coleção de árvores do Universo. E a mais importante para o destino do planeta. Cujos habitantes não se reduzem, numérica nem humanamente, a um grupo.
A formulação do ministro extraordinário é extraordinariamente admirável, como síntese perfeita dos propósitos que têm feito o desmatamento e projetam a descaracterização geral da Amazônia.

Na certa
A esta altura em que o movimento estudantil volta à moda, com a rebeldia na Universidade de Brasília, o ministro da Educação, Fernando Haddad, dá útil lição ao governo Lula: não foi omisso, não exagerou na presença e no poder, e não perdeu tempo para providenciar alterações de regimento que dificultem o desvio de verbas de pesquisas e outros fins responsáveis.


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