São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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SOMBRA NO TUCANATO

Gregorio Marin Preciado obteve R$ 2 bilhões para disputar privatização de estatais de energia elétrica

Ex-sócio de Serra representou espanhóis em leilão

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Atuando como representante da empresa espanhola Iberdrola, o empresário Gregorio Marin Preciado, contraparente e ex-sócio do presidenciável tucano José Serra num terreno em São Paulo, obteve R$ 2 bilhões na Previ, nos últimos cinco anos, para disputar leilões de privatização de três estatais estaduais de energia.
A Iberdrola atualmente comanda as ex-estatais Coelba, da Bahia, Celpe, de Pernambuco, e Cosern, do Rio Grande do Norte, apesar de haver gasto R$ 1,6 bilhão nos três leilões, menos do que a Previ, que investiu R$ 2 bilhões. O Banco do Brasil, também sócio nesses investimentos, entrou com R$ 500 milhões. O negócio, ao todo, saiu por cerca de R$ 4,1 bilhões.
Marin não tinha cargo formal na empresa, mas foi seu representante tanto na Previ como nos governos dos Estados que privatizaram companhias energéticas.
Na semana passada, a Folha revelou que duas empresas de Marin, a Gremafer e a Aceto, tiveram suas dívidas no BB reduzidas em R$ 73,7 milhões. Ambas doaram recursos para a campanha de José Serra ao Senado, em 1994.
A redução da dívida foi aprovada pela diretoria do Banco do Brasil, com o voto do então diretor Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa de campanha de Serra, também em 1994, e indicado para o cargo com o aval do tucano.
Na privatização das empresas de energia, porém, Ricardo Sérgio não só deu seu voto favorável à união do BB com a Iberdrola como trabalhou para que a Previ, o maior fundo de pensão do país, integrasse o consórcio dos espanhóis. Em leilões de estatais, conseguir o apoio da Previ é um grande trunfo, já que o fundo tem um patrimônio para investimento de cerca de R$ 38 bilhões. Foi assim nas privatizações da Vale, da Telebrás, da CPFL e da Ferronorte.
No dia 10 de julho de 1997, a direção da Previ reuniu-se no Rio de Janeiro para discutir uma proposta do então diretor João Bosco Madeiro da Costa. Ex-assessor de Ricardo Sérgio no Banco do Brasil, Madeiro foi indicado para a Previ por ele e representava, no fundo de pensão, Ricardo Sérgio.
Madeiro propôs que a Previ aceitasse o pedido da Iberdrola e se aliasse à empresa para disputar o leilão da Coelba, em julho.
"A Diretoria decidiu aprovar a proposta do sr. diretor técnico (Madeiro) constante da Nota Diret/Gecap, de 03.07.97, ou seja, a associação da Previ com a Iberdrola e ao prosseguimento das negociações com vistas a participação no processo de privatização da Coelba", diz a ata da reunião, obtida pela Folha.
Na disputa pelas estatais de energia, a Previ, a Iberdrola e o BB - Banco de Investimentos formaram um consórcio, chamado Guaraniana. Entraram, respectivamente, com 49%, 39% e 12% de seu capital, participação que definiu o valor a ser desembolsado pelos sócios em cada leilão.
Com 49%, a Previ tinha o suficiente para dar a vitória aos espanhóis e, ao mesmo tempo, não deter o controle acionário das empresas a serem leiloadas.
Enquanto negociava com a Previ e com o Banco do Brasil, Marin liderou duas viagens de executivos espanhóis a Salvador, em 1997, para reuniões com o governo estadual. Nas duas ocasiões, o empresário apresentou-se como "consultor" da Iberdrola.
A parceria entre Marin, Ricardo Sérgio e João Bosco Madeiro da Costa foi consagrada em 31 de julho de 1997, quando o consórcio Guaraniana -composto pela Iberdrola, pela Previ e pelo BB -Banco de Investimento- levou a Coelba por R$ 1,7 bilhão, com ágio de 77%. Foi o primeiro de três leilões de estatais nordestinas de energia vencidos pelo trio. Em dezembro de 1997, a Guaraniana comprou a Cosern por R$ 676 milhões e, em fevereiro de 2000, levou a Celpe por R$ 1,8 bilhão.
Depois de levar as três companhias, os executivos da Iberdrola pressionaram a Previ e o Banco do Brasil para que vendessem suas participações nos negócios. Os primeiros sinais de interesse em assumir o controle das empresas surgiram em julho de 2000.
Em dezembro do ano passado, o presidente do BB, Eduardo Guimarães, chegou a discutir o assunto com demais diretores do banco e com a Previ. Mas na Previ a proposta não foi bem recebida.
Marin não foi localizado para comentar sua atuação nas privatizações. Ricardo Sérgio não respondeu ao recado deixado com sua assessoria. O ex-diretor da Previ João Bosco Madeiro da Costa não foi localizado. A Previ disse que comentará o assunto hoje.



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