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SOMBRA NO TUCANATO
Gregorio Marin Preciado obteve R$ 2 bilhões para disputar privatização de estatais de energia elétrica
Ex-sócio de Serra representou espanhóis em leilão
WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Atuando como representante
da empresa espanhola Iberdrola,
o empresário Gregorio Marin
Preciado, contraparente e ex-sócio do presidenciável tucano José
Serra num terreno em São Paulo,
obteve R$ 2 bilhões na Previ, nos
últimos cinco anos, para disputar
leilões de privatização de três estatais estaduais de energia.
A Iberdrola atualmente comanda as ex-estatais Coelba, da Bahia,
Celpe, de Pernambuco, e Cosern,
do Rio Grande do Norte, apesar
de haver gasto R$ 1,6 bilhão nos
três leilões, menos do que a Previ,
que investiu R$ 2 bilhões. O Banco do Brasil, também sócio nesses
investimentos, entrou com R$
500 milhões. O negócio, ao todo,
saiu por cerca de R$ 4,1 bilhões.
Marin não tinha cargo formal
na empresa, mas foi seu representante tanto na Previ como nos governos dos Estados que privatizaram companhias energéticas.
Na semana passada, a Folha revelou que duas empresas de Marin, a Gremafer e a Aceto, tiveram
suas dívidas no BB reduzidas em
R$ 73,7 milhões. Ambas doaram
recursos para a campanha de José
Serra ao Senado, em 1994.
A redução da dívida foi aprovada pela diretoria do Banco do Brasil, com o voto do então diretor
Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa de campanha de Serra, também em 1994, e indicado para o
cargo com o aval do tucano.
Na privatização das empresas
de energia, porém, Ricardo Sérgio
não só deu seu voto favorável à
união do BB com a Iberdrola como trabalhou para que a Previ, o
maior fundo de pensão do país,
integrasse o consórcio dos espanhóis. Em leilões de estatais, conseguir o apoio da Previ é um grande trunfo, já que o fundo tem um
patrimônio para investimento de
cerca de R$ 38 bilhões. Foi assim
nas privatizações da Vale, da Telebrás, da CPFL e da Ferronorte.
No dia 10 de julho de 1997, a direção da Previ reuniu-se no Rio de
Janeiro para discutir uma proposta do então diretor João Bosco
Madeiro da Costa. Ex-assessor de
Ricardo Sérgio no Banco do Brasil, Madeiro foi indicado para a
Previ por ele e representava, no
fundo de pensão, Ricardo Sérgio.
Madeiro propôs que a Previ
aceitasse o pedido da Iberdrola e
se aliasse à empresa para disputar
o leilão da Coelba, em julho.
"A Diretoria decidiu aprovar a
proposta do sr. diretor técnico
(Madeiro) constante da Nota Diret/Gecap, de 03.07.97, ou seja, a
associação da Previ com a Iberdrola e ao prosseguimento das
negociações com vistas a participação no processo de privatização da Coelba", diz a ata da reunião, obtida pela Folha.
Na disputa pelas estatais de
energia, a Previ, a Iberdrola e o BB
- Banco de Investimentos formaram um consórcio, chamado
Guaraniana. Entraram, respectivamente, com 49%, 39% e 12% de
seu capital, participação que definiu o valor a ser desembolsado
pelos sócios em cada leilão.
Com 49%, a Previ tinha o suficiente para dar a vitória aos espanhóis e, ao mesmo tempo, não deter o controle acionário das empresas a serem leiloadas.
Enquanto negociava com a Previ e com o Banco do Brasil, Marin
liderou duas viagens de executivos espanhóis a Salvador, em
1997, para reuniões com o governo estadual. Nas duas ocasiões, o
empresário apresentou-se como
"consultor" da Iberdrola.
A parceria entre Marin, Ricardo
Sérgio e João Bosco Madeiro da
Costa foi consagrada em 31 de julho de 1997, quando o consórcio
Guaraniana -composto pela
Iberdrola, pela Previ e pelo BB
-Banco de Investimento- levou
a Coelba por R$ 1,7 bilhão, com
ágio de 77%. Foi o primeiro de
três leilões de estatais nordestinas
de energia vencidos pelo trio. Em
dezembro de 1997, a Guaraniana
comprou a Cosern por R$ 676 milhões e, em fevereiro de 2000, levou a Celpe por R$ 1,8 bilhão.
Depois de levar as três companhias, os executivos da Iberdrola
pressionaram a Previ e o Banco
do Brasil para que vendessem
suas participações nos negócios.
Os primeiros sinais de interesse
em assumir o controle das empresas surgiram em julho de 2000.
Em dezembro do ano passado,
o presidente do BB, Eduardo Guimarães, chegou a discutir o assunto com demais diretores do
banco e com a Previ. Mas na Previ
a proposta não foi bem recebida.
Marin não foi localizado para
comentar sua atuação nas privatizações. Ricardo Sérgio não respondeu ao recado deixado com
sua assessoria. O ex-diretor da
Previ João Bosco Madeiro da Costa não foi localizado. A Previ disse
que comentará o assunto hoje.
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