São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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QUESTÃO AGRÁRIA

Para Pantoja, Almir Gabriel é responsável por mortes de sem-terra

Coronel culpa governador pelas 19 mortes em Carajás

Jorge Araújo/Folha Imagem
O coronel Mário Colares Pantoja, um dos acusados pela morte de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás


MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O coronel Mário Colares Pantoja, comandante do Batalhão da PM durante o confronto de Eldorado do Carajás, responsabilizou ontem o governador do Pará, Almir Gabriel (PSDB), e o Comando Geral da PM pela morte de 19 sem-terra em 17 de abril de 1996. Outros 81 ficaram feridos no confronto - 69 sem-terra e 12 PMs.
Com isso, Pantoja repetiu a estratégia usada no julgamento em que foi absolvido em 1999 -que acabou anulado.
O comandante afirmou ao juiz Roberto Moura ter recebido ordens por telefone do então comandante-geral da PM, Fabiano Lopes, para desocupar "de qualquer jeito" a chamada curva do S, na rodovia PA-150. O local estava bloqueado por cerca de 1.100 sem-terra, em Eldorado dos Carajás.
"Avisei que a missão era de risco e o coronel Lopes me disse: corra, vai que a ordem é do governador. Ele (Gabriel) já está chateado com o movimento e o senhor tem que cumprir", declarou Pantoja.
Em seu depoimento dado em 99 à Justiça, o governador disse que mandou a PM desobstruir a área, mas de forma pacífica (leia texto nesta página).
Pantoja disse que tentou negociar a ida da tropa de choque da PM de Belém para o local, mas recebeu nova ordem do coronel Lopes. "O governador (Gabriel) disse que não iria gastar um tostão e que eu desse um jeito com a tropa de Marabá."
Para o promotor Rui Barbosa, a acusação que Pantoja fez ao governador faz parte de sua estratégia de defesa. "Se ele alega que não tinha condição de desocupar a área, então que não o fizesse."
Para o advogado de defesa dos oficiais, Roberto Lauria, "quem falhou na época foi o Estado, que não apurou direito o caso". "É uma pirotecnia acusar todos os policiais. Os verdadeiros autores deveriam ter sido identificados na ocasião", disse.

Julgamento separado
No início da sessão, o advogado Jânio Siqueira conseguiu separar o major José Maria de Oliveira do julgamento com os demais oficiais. Oliveira será julgado sozinho no dia 21. O advogado alegou que ele não estava a caminho do local no momento do confronto e, por isso, não poderia ser julgado em conjunto.
A sentença de Pantoja e Lameira será anunciada até sexta-feira. Hoje deverão ser ouvidos os peritos Ricardo Molina e Fortunato Badan Palhares.
Pantoja caiu em contradição ontem em relação a uma declaração de 99, durante o julgamento que foi anulado. O coronel disse, na época, ter mandado um soldado levar os mortos numa caminhonete para o IML de Curionópolis (PA). Ontem declarou não ter visto sequer um morto ou ferido logo após o confronto.


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