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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REAÇÃO
Deputado do PL aponta inconsistências
no depoimento do presidente do PTB
Mabel trava duelo nervoso com Jefferson sobre cargos
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um bate-boca carregado de
ofensas entre o deputado federal
Roberto Jefferson (PTB-RJ) e o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sandro Mabel (GO), deu ontem a medida das tensões na base
aliada, principalmente quanto à
repartição de cargos federais.
A discussão, de cerca de 35 minutos, foi o momento mais quente do depoimento de Jefferson ao
Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara até as 19h. O
questionamento ao deputado não
havia sido concluído até o encerramento desta edição.
De pé, no meio do plenário, Mabel pediu a palavra para responder às acusações de Jefferson de
que deputados de seu partido teriam se beneficiado com o suposto "mensalão" pago pelo PT.
Ele também foi apontado por
Jefferson como tendo assediado
Raquel Teixeira (PSDB-GO),
atual secretária de Ciência e Tecnologia de Goiás e deputada federal licenciada, oferecendo a ela R$
40 mil de mesada e R$ 1 milhão
por ano de "bônus" para que ela
trocasse de partido.
Teatro
"O nobre deputado faz teatro.
Não vou aceitar. Vossa Excelência
deveria ganhar o Oscar da mentira", disse Mabel, em discurso que
pronunciou aos berros. Rouco,
batendo na mesa, o líder do PL
afirmou que Jefferson tentava
"dar uma de gostoso, de bonitão".
Mabel também acusou Jefferson de ter mentido quando disse
que tentou levar a denúncia de
mensalão a Lula, mas não conseguiu porque havia uma "blindagem" em torno dele.
"Em 14 de outubro de 2004,
Vossa Excelência fez um jantar
para o presidente, de quatro horas. Não teve um tempinho para
falar com ele a sós?", questionou
Mabel. Ele mencionou ainda as
diversas ocasiões em que Jefferson foi recebido no Palácio do
Planalto para criticar sua versão
de que não tinha acesso ao presidente e que só conseguiu contar-lhe a verdade sobre o "mensalão"
no início deste ano.
Em seguida, afirmou que Jefferson enviou um emissário falar
com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), propondo
um acordo: o petebista "aliviaria"
no depoimento e o PL retiraria o
processo de cassação no Conselho de Ética. "Nós não faremos
acordo nenhum", disse o líder.
Por mais de uma vez Mabel afirmou que começou a trabalhar cedo, carregando sacos de farinha
-a família é dona de uma empresa de biscoitos-, enquanto
Jefferson era advogado.
Comparou ainda os placares de
votações importantes na Câmara,
em que PTB, PL e PP davam números equivalentes de votos ao
governo. "Então o PTB estava no
mensalão também, né? Porque
todo mundo vota igualzinho", declarou o líder do PL.
Cargos
Entrando no assunto da partilha
dos cargos, Mabel disse que estranhava o fato de o PTB ter tentado
indicar um diretor de Furnas,
apesar de ter o Ministério do Turismo. "Prestem atenção no paladino. O que tem a ver Furnas com
Turismo? Só se for para passear
de barco no lago. Onde tem cargo
o sr. vai atrás?", questionou.
Jefferson ouviu calado ao discurso de quase 20 minutos de Mabel -o tempo normal seria cinco
minutos. O presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo
Izar (PTB-SP), tentou interromper o líder do PL algumas vezes,
mas foi impedido pelos próprios
deputados presentes.
No final, Mabel fez uma provocação. "Se o sr. é macho para contar mentira, eu sou macho para
contar a verdade".
O petebista respondeu no mesmo tom, "Não é a mim que a deputada Raquel acusa. Mas a CPI
vem aí", disse Jefferson.
Lula
Jefferson disse que a indicação
para uma diretoria em Furnas foi
uma oferta do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. E devolveu a
acusação de fisiologismo, mostrando como a ocupação de cargos na esfera federal está na origem da atual guerra civil entre
partidos da base governista. "Vamos investigar o Dnit [Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, da cota do
PL]", respondeu Jefferson.
Negando ter tentado um acordo
com o PL, o petebista virou-se para Valdemar Costa Neto e o acusou de estar mentindo.
Um trecho da discussão teve toque involuntariamente cômico.
Foi quando Jefferson desafiou
Sandro Mabel a dizer quanto seu
partido recebeu: "Diga se for homem". O líder do PL na Câmara
não se intimidou. "Sou muito homem, por isso fico de pé para falar
com o senhor", retrucou Mabel.
Deputadas que estavam no plenário nesse momento protestaram contra o tom do diálogo entre os dois parlamentares. "Precisa ser homem para ficar de pé?
Mulher não fica de pé?", disse Zulaiê Cobra (PSDB-SP).
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