São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REAÇÃO

Deputado do PL aponta inconsistências no depoimento do presidente do PTB

Mabel trava duelo nervoso com Jefferson sobre cargos

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um bate-boca carregado de ofensas entre o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) e o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sandro Mabel (GO), deu ontem a medida das tensões na base aliada, principalmente quanto à repartição de cargos federais.
A discussão, de cerca de 35 minutos, foi o momento mais quente do depoimento de Jefferson ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara até as 19h. O questionamento ao deputado não havia sido concluído até o encerramento desta edição.
De pé, no meio do plenário, Mabel pediu a palavra para responder às acusações de Jefferson de que deputados de seu partido teriam se beneficiado com o suposto "mensalão" pago pelo PT.
Ele também foi apontado por Jefferson como tendo assediado Raquel Teixeira (PSDB-GO), atual secretária de Ciência e Tecnologia de Goiás e deputada federal licenciada, oferecendo a ela R$ 40 mil de mesada e R$ 1 milhão por ano de "bônus" para que ela trocasse de partido.

Teatro
"O nobre deputado faz teatro. Não vou aceitar. Vossa Excelência deveria ganhar o Oscar da mentira", disse Mabel, em discurso que pronunciou aos berros. Rouco, batendo na mesa, o líder do PL afirmou que Jefferson tentava "dar uma de gostoso, de bonitão".
Mabel também acusou Jefferson de ter mentido quando disse que tentou levar a denúncia de mensalão a Lula, mas não conseguiu porque havia uma "blindagem" em torno dele.
"Em 14 de outubro de 2004, Vossa Excelência fez um jantar para o presidente, de quatro horas. Não teve um tempinho para falar com ele a sós?", questionou Mabel. Ele mencionou ainda as diversas ocasiões em que Jefferson foi recebido no Palácio do Planalto para criticar sua versão de que não tinha acesso ao presidente e que só conseguiu contar-lhe a verdade sobre o "mensalão" no início deste ano.
Em seguida, afirmou que Jefferson enviou um emissário falar com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), propondo um acordo: o petebista "aliviaria" no depoimento e o PL retiraria o processo de cassação no Conselho de Ética. "Nós não faremos acordo nenhum", disse o líder.
Por mais de uma vez Mabel afirmou que começou a trabalhar cedo, carregando sacos de farinha -a família é dona de uma empresa de biscoitos-, enquanto Jefferson era advogado.
Comparou ainda os placares de votações importantes na Câmara, em que PTB, PL e PP davam números equivalentes de votos ao governo. "Então o PTB estava no mensalão também, né? Porque todo mundo vota igualzinho", declarou o líder do PL.

Cargos
Entrando no assunto da partilha dos cargos, Mabel disse que estranhava o fato de o PTB ter tentado indicar um diretor de Furnas, apesar de ter o Ministério do Turismo. "Prestem atenção no paladino. O que tem a ver Furnas com Turismo? Só se for para passear de barco no lago. Onde tem cargo o sr. vai atrás?", questionou.
Jefferson ouviu calado ao discurso de quase 20 minutos de Mabel -o tempo normal seria cinco minutos. O presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), tentou interromper o líder do PL algumas vezes, mas foi impedido pelos próprios deputados presentes.
No final, Mabel fez uma provocação. "Se o sr. é macho para contar mentira, eu sou macho para contar a verdade".
O petebista respondeu no mesmo tom, "Não é a mim que a deputada Raquel acusa. Mas a CPI vem aí", disse Jefferson.

Lula
Jefferson disse que a indicação para uma diretoria em Furnas foi uma oferta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E devolveu a acusação de fisiologismo, mostrando como a ocupação de cargos na esfera federal está na origem da atual guerra civil entre partidos da base governista. "Vamos investigar o Dnit [Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, da cota do PL]", respondeu Jefferson.
Negando ter tentado um acordo com o PL, o petebista virou-se para Valdemar Costa Neto e o acusou de estar mentindo.
Um trecho da discussão teve toque involuntariamente cômico. Foi quando Jefferson desafiou Sandro Mabel a dizer quanto seu partido recebeu: "Diga se for homem". O líder do PL na Câmara não se intimidou. "Sou muito homem, por isso fico de pé para falar com o senhor", retrucou Mabel.
Deputadas que estavam no plenário nesse momento protestaram contra o tom do diálogo entre os dois parlamentares. "Precisa ser homem para ficar de pé? Mulher não fica de pé?", disse Zulaiê Cobra (PSDB-SP).


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