São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PT

Presidente nacional do PT admite porém ter dividido despesas de campanha nas cidades onde os dois partidos estavam coligados

Genoino nega repasse de R$ 4 mi ao PTB

CATIA SEABRA
FABIANE LEITE

DA REPORTAGEM LOCAL
Após assistir ao depoimento de Roberto Jefferson (PTB-RJ) "na casa de um amigo" e ao lado do tesoureiro do partido, Delúbio Soares, o presidente do PT, José Genoino, negou, na noite de ontem, o repasse de R$ 4 milhões para o PTB nas eleições de 2004, mas admitiu ter tratado de "apoio material" nas cidades onde PT e PTB estavam coligados, "tipo programa de TV, camisetas, folhetos".
"A planilha era a relação de cidades onde íamos fazer campanha conjunta. Jamais repasse de dinheiro para o PTB. Era a divisão de despesas e, onde o PT tinha a cabeça de chapa, a maior parte era por conta do PT", disse. Ele não precisou o total gasto com o PTB na campanha de 2004 sob o argumento de que o registro era feito por município e não por partido.
"Não tenho noção dos valores porque era cidade por cidade. A planilha à que ele se refere era de cidades", repetiu. Embora resistindo, Genoino confirmou ter participado da reunião citada por Jefferson, em maio do ano passado, no PT de Brasília. Mas frisou: "Nunca tratei de dinheiro com o senhor Roberto Jefferson. Não teve só essa reunião, não. Teve em maio, teve em abril. Deve ter havido outras. Tratávamos de acordos eleitorais nessas cidades".
Segundo ele, foram dezenas as cidades em que houve aliança entre PTB e PT, como São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba. "Lembro agora de São João de Meriti e Juiz de Fora", aludindo a duas cidades onde o PT apoiou o PTB no segundo turno. Genoino afirma que essas despesas (incluindo shows, deslocamento de políticos, campanha de vereadores) foram registradas na prestação de contas do PT. Insistindo em acusar Jefferson de calúnia, mentira e difamação, Genoino alterou o tom de voz ao responder se o fato de Delúbio e o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, não se manifestarem era uma estratégia de defesa.
"Não aceito que esse cidadão, com a minha história, com a minha vida, faça de uma mentira uma acusação e e eu esteja aqui fazendo uma estratégia de defesa. Não preciso. A verdade é isso. O PT não vai aceitar se transformar em uma nova Escola Base", reagiu, referindo-se à acusação, que se provou falsa, feita em 1994 contra os donos da escola de terem abusado sexualmente de crianças.
Ele disse que aceita uma acareação com Jefferson: "Claro. Agora! Olho no olho. Ele está fazendo um rol de mentiras e calúnias. Estou tranqüilo, indignado de ver um acusado fazer um teatro para acusar as pessoas do PT sem limite de responsabilidade".
Por orientação da cúpula, a sede do PT foi esvaziada na tarde de ontem. Alvos de Jefferson, Delúbio e Silvio Pereira saíram do prédio logo de manhã. A permanência de Delúbio foi de cerca de uma hora. Na véspera, segundo um integrante da Executiva, os dois foram orientados a não participar da reunião da cúpula do PT em Brasília. A idéia é não dar ressonância ao "teatro" de Jefferson.
Ontem, Delúbio chegou com Genoino à sede do PT, enquanto, encaminhados pela assessoria de imprensa, jornalistas esperavam no auditório do partido. Delúbio não participou da coletiva. Silvinho, que, segundo Genoino, também passou na casa desse "amigo petista", não foi ao PT. Segundo o presidente do PT, a Executiva decidiu que ele falará em nome da sigla. Mas os dois "não estão proibidos". "Falam na hora que quiserem. É uma decisão pessoal."
Na entrevista, Genoino fez um apelo para que não haja um prejulgamento do PT. Mas as denúncias já ameaçam contaminar a reunião do diretório no sábado.


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