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Generais atacam a decisão sobre Lamarca
"É lamentável", diz Luiz Cesário da Silveira Filho, comandante militar do Leste, responsável por tropas de MG, RJ e ES
General Peri, comandante do Exército, diz no Rio que, na visão da corporação, ele
é "desertor" e foi o autor de "uma série de crimes"
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Numa das mais fortes demonstrações de descontentamento desde o fim do regime
militar, em 1985, generais do
Exército atacaram ontem, no
Rio, a concessão da patente de
coronel ao guerrilheiro Carlos
Lamarca e de benefícios a sua
família, pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
O general-de-exército Luiz
Cesário da Silveira Filho, comandante militar do Leste
(responsável pelas tropas no
Rio, em Minas e no Espírito
Santo) foi o mais enfático.
"Tudo o que é falta grave que
pode ser cometida esse assassino cometeu. E está sendo premiado aí! É lamentável, lamentável! Espero que não vá até o
final esse processo. Pode dizer:
os generais de Exército, os generais da ativa do Alto Comando do Exército [15 generais
quatro estrelas da Força mais
dois do Ministério da Defesa]
estão indignados. Causou profunda indignação na Força",
afirmou Cesário, em tom de voz
elevado durante reunião da Cúpula do Exército ontem.
Uma palestra do comandante do Exército, general Enzo
Martins Peri, na sede do Clube
Militar, no centro do Rio, reuniu membros do Alto Comando, cinco ex-ministros ou comandantes do Exército e muitos generais e oficiais da ativa e
da reserva contrariados com o
benefício obtido por Lamarca.
O comandante Peri deixou
clara a visão da corporação sobre Lamarca: "Para o Exército,
ele é desertor; para o Exército,
o que ele é? Para o Exército, ele
cometeu uma série de crimes".
Momentos antes, em resposta a
pergunta de audiência de oficiais da ativa e da reserva, Peri
afirmou: "O fato é que o pensamento que nós temos em relação ao caso e em relação à pessoa envolvida é o mesmo do
Exército de sempre", disse.
Lamarca foi integrante da
VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) -grupo de esquerda adepto da luta armada- e deixou o Exército em 25
de janeiro de 1969, furtando 63
fuzis, dez metralhadoras e munição. Protagonizou uma série
de ações, como assaltos a bancos e o roubo do cofre do governador de São Paulo Adhemar
de Barros. Foi morto em 1971.
Peri confirmou ter ligado para o ministro da Defesa, Waldir
Pires para protestar. À Folha
ele sorriu quando questionado
sobre a ligação para Pires. "É
evidente que conversamos."
Em seguida, ao microfone,
afirmou: "O que tinha de fazer,
eu fiz. Manifestei a quem devia
o nosso pensamento. A resposta e as providências são semelhantes a outros casos, em situações semelhantes. O nome
da pessoa beneficiada, Lamarca, é que é uma figura singular,
mas a solução é semelhante a
outros casos e está dentro da
competência da comissão".
Outro general da ativa que
não quis ser identificado disse
que os militares estão revoltados porque Lamarca desertou
do Exército como capitão,
abrindo mão da carreira, foi
promovido a coronel e ainda
recebeu benefício de proventos
como se tivesse o posto acima.
A família de Lamarca terá
pensão de R$ 12.152,61 mensais, o equivalente a vencimento de general-de-brigada, além
de indenização de R$ 300 mil, a
ser dividida por três familiares.
O comandante do Exército
disse que a análise jurídica preliminar sobre o caso era de que
não cabia recurso ao Superior
Tribunal Militar, mas ressalvou que ainda não havia estudado o assunto a fundo.
O ex-ministro do Exército
(1985-1990) Leônidas Pires
Gonçalves afirmou: "Não me
sinto bem tendo como conviva,
mesmo morto, um desertor,
traidor, ladrão e assassino frio
do tenente Mendes, que se ofereceu para defender seus soldados. Quero que diga assim!".
Ele se referia a Alberto Mendes
Júnior, tenente que participou
do cerco a Lamarca e foi morto
a coronhadas em 1970
O Planalto e o Ministério da
Justiça não comentaram as críticas. O ministro Waldir Pires
também não se manifestou.
Apenas negou, por meio de sua
assessoria, ter recebido ligação
de Peri.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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