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análise
Promoção é teste de fogo para general
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O novo comandante do
Exército, general Enzo
Martins Peri, está passando pelo seu teste de fogo
menos de seis meses depois de assumir o cargo
-para o qual, aliás, não era
o favorito da tropa.
Esse teste de fogo passa
pelo nome do guerrilheiro
e ex-capitão do Exército
Carlos Lamarca e por uma
fase da história nacional
que constrange as Forças
Armadas e atiça os aliados
tradicionais de Lula e do
PT: a ditadura militar e a
reação a ela.
Ler nos jornais que Lamarca (para eles o "desertor", o "assassino") está
sendo promovido a coronel, que seus dependentes
receberão pensão de general e indenização milionária não é nada simples. Ao
contrário, mexe com os
brios da tropa. E o general
Enzo recorre a contorcionismos verbais para tentar
responder à ira dos comandados sem cavar a ira
dos comandantes civis.
Uma no ferro, outra na ferradura. Não é fácil.
À Folha ele disse que
compreende a reação da
Força: "Uma reação esperada, que não poderia ser
de satisfação, claro". Mas
acrescentou que também
compreende a decisão da
Comissão de Anistia do
Ministério da Justiça:
"Não comento a decisão
da comissão. Ela tem sua
competência e atuou dentro dessa competência".
Quem tenta agradar a
todos ao mesmo tempo
corre o sério risco de conseguir o oposto. Essa foi
uma aposta complicada do
general, que aguarda agora o novo lance de mais esse imbróglio entre o governo Lula e a área militar:
a ratificação da decisão da
comissão pelo ministro da
Justiça, Tarso Genro.
O general diz que reclamou com "quem de direito" e, não por coincidência, Waldir Pires levou o
caso pessoalmente para
Genro. Agora, a decisão é
dele. O mais provável é
que Genro ratifique a posição da comissão, enquanto Lula trata de jogar
sua lábia mais uma vez para acalmar os adversários
-os aliados fardados.
Tem dado certo desde o
primeiro mandato, mas a
tropa está vendo muito dinheiro sugado pela corrupção, muita enrolação
quanto a soldos. E vai ser
difícil digerir o "general
Lamarca". Engole agora,
mas o espinho pode ficar
arranhando o pescoço.
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