|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui
para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
40% de carne e soja vêm da Amazônia Legal
Dados oficiais mostram que agronegócio avança sobre floresta; 73% das 74 milhões de cabeças de gado da região estão na mata
Governo e empresários rejeitam recuar a produção; ambientalistas classificam o agronegócio como principal causa de devastação local
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com pouco mais de 5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 83% são dominados por floresta, a Amazônia
Legal já responde por quase
40% da produção de carne e
soja do país. Os dados são do
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Comparados aos números gigantes da produção, são "simbólicos" os primeiros resultados da ação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis) contra o agronegócio associado ao desmatamento da
Amazônia -região que concentra 36% da pecuária e 39% da
cultura de soja nacionais.
Na investida contra o "boi pirata", o instituto acaba de
apreender 3.500 cabeças de gado em propriedades embargadas por desmatamento ilegal.
Os fiscais já haviam apreendido
4.300 toneladas de grãos em
áreas igualmente embargadas.
Floresta
Embora a fatia de cerrado da
Amazônia Legal (16% da área)
se mostre altamente produtiva
ao agronegócio, os dados oficiais mostram que a atividade
ocupa amplas áreas do que já
foi floresta um dia.
O avanço sobre a floresta se
mostra mais contundente no
caso da pecuária: 73% das 74
milhões de cabeças de gado da
região são criadas no bioma
Amazônia, jargão que designa a
floresta. Esse avanço é mais expressivo em Mato Grosso, Rondônia e Pará, que lideram o ranking do desmatamento.
O agronegócio é apontado
por ambientalistas como principal causa da devastação da
Amazônia, algo contestado por
ruralistas e setores do governo.
Acompanhando o aumento dos
preços de commodities como
soja e carne, as motosserras se
aceleraram desde 2007, depois
de três anos de queda no ritmo
do abate de árvores.
Neste ano, o desmatamento
deve superar 12 mil quilômetros quadrados, o equivalente a
oito vezes a cidade de São Paulo. O ritmo acelerado das motosserras, captado por imagens
de satélites do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais), ainda não aparece nos
dados colhidos pelo IBGE.
Sem recuo
O recuo do agronegócio na
Amazônia Legal é uma hipótese descartada pelo governo e
por representantes dos produtores ouvidos pela Folha. "A
tendência é um aumento da
produção em áreas de floresta
já abertas", resume Rodrigo
Justos de Britto, assessor técnico da CNA (Confederação
Nacional de Agricultura), em
coro com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.
"Não é preciso derrubar uma
árvore para aumentar a produção", argumenta Carlos Rodenburg, em uma espécie de mantra repetido em público pelos
produtores. Rodenburg preside a Agropecuária Santa Bárbara e está à frente do maior rebanho bovino da Amazônia, em
sociedade com o banqueiro Daniel Dantas.
Pouco mais de dois anos depois de se instalar na região, a
Santa Bárbara já cria meio milhão de cabeças de gado no sul
do Pará e no norte de Mato
Grosso, na região que concentra ações de combate ao desmatamento.
As pastagens já ocupam 700
mil quilômetros quadrados, ou
13,5% da Amazônia Legal. Nessa área, foram produzidas 2,7
milhões de toneladas de carne
em 2006, o equivalente a 36%
da produção nacional.
Dados organizados pela
ONG Amigos da Terra em estudo ainda inédito sobre a atividade econômica na Amazônia
mostram um peso ainda maior
da produção local de soja (39%)
e algodão (47%). A Amazônia
Legal produziu, em 2005, 20,1
milhões de toneladas de soja,
ou quase 10% da produção
mundial. Segundo a CNA, mais
de 98% dos 66 mil quilômetros
quadrados de plantações de soja dessa safra da Amazônia Legal foi plantada e colhida em
áreas de cerrado.
A participação na produção
nacional de soja, carne e algodão da Amazônia já supera o
percentual da produção local
de madeira.
Álcool
Ainda de acordo com dados
compilados pela ONG Amigos
da Terra, com base em informações da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), a
Amazônia Legal produziu, em
2006, aproximadamente 1 milhão de litros de álcool, ou 6%
dos 16 milhões de litros produzidos no país. Os números,
mais uma vez, contrariam o
discurso do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de que a
produção de álcool se mantém
distante da floresta.
Quando o governo divulgar
regras do zoneamento ecológico-econômico, com indicações
de onde ficará liberado o cultivo de cana-de-açúcar, encontrará uma atividade em expansão, segundo relatório da Embrapa (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária), vinculada ao Ministério da Agricultura. É previsto para o mês que
vem o anúncio do zoneamento.
Texto Anterior: Minas Gerais: Peemedebistas decidem quem vai disputar BH Próximo Texto: Frases Índice
|