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Meta do Luz para Todos em 2010 não deve ser atingida
Programa visa alcançar 3 milhões de famílias, mas 168 mil devem ficar de fora
Alto custo para ligar energia em áreas remotas é o maior obstáculo; programa foi revisto em 2007 a fim de poder chegar a mais pessoas
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dos programas federais
com maior apelo social e eleitoral, o Luz para Todos será concluído em 2010 sem universalizar o acesso à luz elétrica no
país, como prometeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O programa tirou da exclusão elétrica 1,8 milhão de famílias entre 2004 e 2008 e, para o
biênio 2009/2010, prevê o
atendimento de 1,1 milhão de
novos domicílios. Fora dessa
meta, porém, restaram ao menos 168 mil famílias sem luz.
Elas estão espalhadas por
Amazonas, Bahia e Minas Gerais e somente poderão ser
atendidas a partir de 2011, o
que, na prática, tira do governo
o discurso da "universalização". A sobra, segundo as distribuidoras e os comitês gestores
do programa, está assim dividida: 37 mil famílias em Minas
Gerais, 41 mil no Amazonas e
90 mil na Bahia.
Lançado em 2003 pela então
ministra de Minas e Energia
Dilma Rousseff, hoje na Casa
Civil e o principal nome petista
para a sucessão do presidente
Lula, o programa tinha como
meta inicial atender 2 milhões
de famílias até 2008. Esse número, devido ao aumento da
demanda, foi ampliado, em
2007, para quase 3 milhões de
ligações.
Incorporado como um dos
selos sociais do PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento), o Luz para Todos nasceu
com data para terminar.
Em dezembro de 2010, o programa será extinto e junto com
ele acabam os subsídios para levar fios, tomadas, postes e lâmpadas aos pontos mais distantes e isolados, o que tornará
mais complicada a situação das
famílias fora da meta.
Hoje a maior parte (aproximadamente 70%) do programa
é financiada pelos próprios
consumidores de energia elétrica, por meio de percentuais
cobrados nas tarifas. O restante
dos recursos vem dos governos
estaduais e das distribuidoras
de energia.
José Gabino, da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica),
afirma que, para atender os domicílios fora da meta, solicitará
ao governo federal a prorrogação dos subsídios do Luz para
Todos para além de 2010.
"No ponto de partida do programa, você tinha realidades
muito diferentes, com alguns
Estados com índices de atendimento bem maiores que outros. O que se verifica hoje, na
prática, é que em outros Estados restou um investimento
muito grande para poder atender a todos", afirma Gabino.
Crescimento vegetativo
Esse déficit de 168 mil famílias não inclui os novos domicílios erguidos em áreas já atendidas com sistema de energia
elétrica, dentro do chamado
"crescimento vegetativo". Segundo as distribuidoras, elas ficaram de fora por conta do alto
custo das ligações e da insuficiência de material e de mão de
obra na região.
Procurado, o Ministério de
Minas e Energia não comentou
os domicílios excluídos pelo
Luz para Todos. Disse apenas
que atuará para o cumprimento das metas.
O programa é tido como vitrine eleitoral por provocar
uma mudança no cotidiano dos
beneficiários e na economia
das comunidades atendidas.
Os benefícios são diretos: a
família passa a assistir televisão, a conservar alimentos na
geladeira e a puxar água de um
poço artesiano, sem falar na
aposentadoria dos pré-históricos (mas ainda presentes) candeeiros a óleo.
No campo econômico, torna
desnecessário o uso oneroso de
geradores e, aos pequenos agricultores, facilita a trituração da
ração animal e abre espaço para
ampliar a produção de leite.
Neste ano, a meta é atender
510,1 mil famílias e, em 2010,
578,4 mil. Desse total de 1,1 milhão de domicílios, 45% estão
na chamada Amazônia Legal
(Estados do Norte, além de Mato Grosso e de parte do Maranhão).
Esse é o chamado "osso" do
programa, ou seja, onde estão
as localidades com dificuldade
de acesso e nas quais, pelo custo e pela logística, fica impossível ou inviável fincar postes e
esticar fios, o que obriga as distribuidoras a buscar fontes alternativas de energia.
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