São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RANKING DAS NAÇÕES

IDH sobe de 0,739 para 0,775 durante gestão tucana, mas país estagna no ranking

Avanço tímido na era FHC põe Brasil em 72º em desenvolvimento humano

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

A era FHC produziu um tímido progresso no desenvolvimento humano do Brasil. É a conclusão inescapável que emerge do IDH-2004, primeiro Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas que permite a radiografia completa dos oito anos de gestão Fernando Henrique Cardoso.
Como os dados utilizados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) têm um atraso de dois anos, o IDH-2004 usa estatísticas de 2002, o ano em que terminou o segundo governo de FHC, que tomara posse, pela primeira vez, em 1995.
É preciso, em todo o caso, tomar muito cuidado na comparação entre os indicadores da ONU para 1995 e os de 2002 -várias mudanças de metodologia e a inclusão de outros países no ranking podem distorcer a avaliação.
Uma avaliação de má-fé diria que o desenvolvimento humano retrocedeu no Brasil no período "tucano", na medida em que, em 1995, o Brasil era o 68º classificado no IDH e caiu para o 72º em 2002. Má-fé porque a queda não significa retrocesso nos indicadores sociais, mas a inclusão de outros países com melhor desempenho (antes como depois do governo Fernando Henrique) nos itens que compõem o índice.

Desenvolvimento médio
Nos anos FHC, o IDH brasileiro subiu de 0,739 para 0,775 (quanto mais perto de 1, mais desenvolvido socialmente é um país).
É um progresso tímido: dá a média de 0,60% de avanço ao ano, quando, no período 1970-1980, o IDH brasileiro melhorava ao ritmo de 2,9% ao ano.
Mas o que mais demonstra o progresso apenas tímido é o fato de que o Brasil nunca saiu, no ranking, do bloco de países de desenvolvimento médio. Mais: continuou, ao terminar a era FHC, bem atrás da Argentina (34ª colocada, com IDH de 0,853), apesar de 2002 ter sido o ano do auge do colapso econômico do país vizinho.
Foi na educação que o governo FHC alcançou progressos menos tímidos. "A educação continua sendo a dimensão em que o Brasil tem seu melhor desempenho, com uma marca superior à média latino-americana e proporcionalmente mais próxima dos valores dos países desenvolvidos", diz o comunicado do Pnud a respeito do IDH-2004 do Brasil.
Entre 177 países, o Brasil é o 62º colocado no subíndice educação, quando, no global, é o 72º.
Mesmo assim, o avanço é insuficiente. O país continua levando uma década para que seus estudantes tenham um ano a mais de estudo na média.
Além dessa deficiência, há o fato de que o IDH está medindo quantidade, mas não ainda qualidade. A melhora de posição em educação se deve ao fato de que o número de matriculados em todos os níveis de ensino subiu de 72% em 1995 para 92% em 2002.
"Aumentaram as matrículas, mas agora é preciso ver quantos vão concluir os respectivos cursos", diz João Carlos Libânio, porta-voz do Pnud em Brasília.
Na saúde, ao contrário da educação, os dados brasileiros no IDH são negativos. A esperança de vida ao nascer aumentou, mas pouco: passou dos 66,4 anos de 1995 para 68 anos em 2002.

Esperança de vida
É sintomático que o Brasil seja o 111º colocado entre 177 países, em termos de esperança de vida ao nascer, posição pior que a sua classificação no IDH global e absurdamente incompatível com um país que tem a 15ª economia do mundo (e que era a 10ª ao terminar a era FHC há um ano e meio). Mas o grande problema brasileiro, tanto antes como depois do período FHC, é a renda per capita. Primeiro, continua sendo muito baixa: o brasileiro é apenas o 63º colocado no ranking da renda, entre 177 países.
Sua renda (US$ 7.700 ao ano, pela paridade de poder de compra, que leva em conta os diferentes níveis de preços em cada país) continuava sendo inferior à da atormentada Argentina, para não mencionar Chile e Uruguai, entre outros países latino-americanos.

Linha de pobreza
Segundo problema no quesito renda: o número de pobres permanece muito elevado. Para o Pnud, são 22,4% os brasileiros que estão abaixo de uma linha de pobreza definida como sendo de até US$ 2 por dia. Daria, portanto, US$ 60 ao mês ou R$ 180 reais, inferior ao salário mínimo. Mas há outras maneiras de medir a pobreza, entre elas a que é utilizada pela Fundação Getúlio Vargas, que aponta para 33% de pobres (ou 56 milhões de pessoas).
Os dados do Pnud não permitem uma comparação sobre a evolução da pobreza no período FHC. É certo que ela caiu logo que a inflação foi derrubada, a partir do segundo semestre de 1994, mas há estudos que mostram que voltou a subir no período 2000/02.
O que é certo é que "dificilmente o Brasil atingirá a meta de reduzir a pobreza à metade até 2015", diz Libânio, aludindo a um dos objetivos fixados pela Cúpula do Milênio e assinados por FHC.


Texto Anterior: "Julho vermelho": MST promete onda de ações na próxima semana
Próximo Texto: Ex-ministro ataca mudança de metodologia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.