São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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Elio Gaspari

O tucanato teve o seu "Momento Renan'


No Senado, o PSDB defende uma conduta para o Conselho de Ética. Na Assembléia de São Paulo, faz o contrário

NA CRISE DE 2005 o PSDB achou que poderia sangrar Lula e varrer para baixo do tapete as impressões digitais de seu presidente, o senador Eduardo Azeredo, encontradas nas arcas de Marcos Valério. Jogaram no lixo a própria credibilidade, contrariando os conselhos de FFHH. Como tucano tem muito bico e pouca memória, sua brigada paulista está fazendo tudo de novo.
O nome do líder do partido na Assembléia Legislativa, Mauro Bragato, foi posto na roda por policiais e promotores que investigam um esquema de uma empreiteira que superfaturava a construção de casas populares. Até aí, zero provas. Um funcionário da empreiteira disse que levava dinheiro ao escritório do deputado. (O lobista da Mendes Júnior sustenta que o dinheiro da gestante era de Renan Calheiros e não da empreiteira.) A história do funcionário pode ser mentirosa.
A prestação de contas da campanha de Bragato informa que ele desembolsou R$ 40 mil do próprio cofre. Nada mais razoável, não fosse o fato de o patrimônio declarado do doutor ficar em R$ 6.540. Como uma pessoa que tem R$ 6.540 (e nenhuma cabeça de gado) doa a si próprio R$ 40 mil? Deve ser um empréstimo, diriam o ex-senador Joaquim Roriz e seu suplente, Gim Argello. Bingo. Diferentemente de Roriz e Argello, que revelam a identidade de seus benfeitores, Bragato cala-se: "Não haveria problema nenhum em identificar, mas prefiro não dizer quem é".
Nesse cenário de real valor, o Conselho de Ética da Assembléia Legislativa, controlado pelos tucanos, associou-se ao mundo encantado que Mauro Bragato criou. Rejeitou uma denúncia de quebra de decoro apresentada pelo PSOL e pelo PT. Numa manobra que ecoa o estilo de Renan Calheiros, pediram mais informações, devolveram o caso à Mesa e varreram o assunto para baixo do recesso parlamentar de julho.
O tucanato acredita que recebeu do Padre Eterno uma bula concedendo-lhe o direito de ofender a inteligência da escumalha. Se a Assembléia de São Paulo não deve tratar do caso de Bragato, porque o Senado deve discutir o de Renan?

HENRY PAULSON TEVE SEU MOMENTO VICE-REI

Passou pelo Brasil o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson. Ele dirigiu a casa bancária Goldman Sachs que, em 2002, produziu o infame Lulômetro, uma elegante equação que permitia aos interessados medir o medo que a candidatura de Nosso Guia espalhava pelo mercado. (Temia-se um dólar a R$ 4. Está a R$ 1,90.)
Antes de chegar a Brasília, Paulson reuniu-se em Belo Horizonte com empresários nativos.
Alguns deles trataram-no como um vice-rei, queixando-se do governo da possessão. O secretário arriscou até um elogio: "Não há nada como estar num grupo como este, de empresários que falam a verdade".
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil deveria prestar mais atenção ao velho protocolo da diplomacia. Quando se vai visitar um presidente, evitam-se entrevistas e reuniões barulhentas. É uma questão de etiqueta, como não comer arroz com a faca. Aos 26 anos, Paulson foi assistente de um notável transgressor de protocolos. Chamava-se John Ehrlichman, e era um escudeiro do presidente Richard Nixon. Acabou na cadeia pelas bobagens que fez na Casa Branca durante o delírio do Caso Watergate.
O Departamento de Estado tem profissionais capacitados para lidar com essas filigranas que parecem não servir para nada, mas previnem desastres. De vez em quando, empresários, banqueiros e amigos de gente poderosa acham que podem fazer melhor à sua maneira.
No caso das relações Brasil-EUA, há uma constante: os embaixadores americanos que deixaram pior lembrança (às vezes nos dois países) foram aqueles que se julgaram capazes de tudo.

PT+DEM
Pelo andar da carruagem, a base fiel do governo será insuficiente para votar a prorrogação da CPMF. Ou o PT se entende com os Democratas do ex-PFL, ou arrisca perder R$ 32 bilhões de arrecadação. Pelo lado do governo, nada demais. Feio será o papel do velho e bom PFL, caso decida alugar uma de suas bandeiras.

MÁQUINA DO TEMPO
Qualquer dia desses a polícia detona as quadrilhas de fabricantes de documentos falsos. A melhor delas, muito requisitada por bancas de Brasília, fica em São Paulo. Um cliente pode pedir um documento de qualquer ano, saído de qualquer cartório, empresa ou repartição. Basta levar outro, autêntico, para orientar os falsários.
No escritório há papéis envelhecidos, esferas de máquinas de escrever, impressoras, fitas de época e até carimbos. Um verdadeiro museu. Nos últimos meses a empresa líder desse mercado meteu-se num passo maior que a perna.

ORDEM DO PCC
O PCC acabou com o crack em quase todos os presídios de São Paulo. Isso significa uma espécie de restabelecimento da ordem (dos bandidos). Essa modalidade de droga desorganiza a cabeça de quem a toma e o ambiente onde ele vive.
Há sinais de que o mesmo PCC está afastando o tráfico de crack de algumas localidades da periferia. O crack incapacita seus viciados em poucas semanas, matando-os em poucos anos. Aí estava uma grande diferença entre o tráfico de São Paulo e o do Rio, onde praticamente não há crack. Hoje, um dos principais negócios do PCC na periferia de São Paulo é a cobrança de pedágio ao comércio e a exploração de transportes.

O JUIZ EREMILDO
Eremildo é um idiota e está atrás de uma das onze vagas do Tribunal Superior da Probidade Administrativa, proposto pelo deputado tucano Paulo Renato Souza.
Eremildo garante que há uma relação direta entre a moralidade pública e o número de juizes e tribunais. Por isso, a administração brasileira é mais proba do que a americana. Afinal, aqui os ministros do Supremo Tribunal são onze. No Estados Unidos a Corte Suprema só tem nove.

CAIR FORA
Diante da conveniência da saída dos Estados Unidos do Iraque, o presidente George Bush deveria estudar velhas propostas, feitas por dois senadores, no início do desastre da guerra do Vietnam:
Em 1964 os EUA tinham 16 mil homens e 200 mortos na região. Richard Russell, um dos mais poderosos parlamentares da época sugeriu ao presidente Johnson: "Precisamos botar lá um sujeito que nos peça para ir embora. Assim, teriamos uma desculpa."
Dois anos depois, a tropa chegara a 385 mil homens e a conta subira para seis mil mortos. O senador George Aiken foi breve: "Devemos proclamar nossa vitória e cair fora."
Hoje Bush tem 160 mil soldados no Iraque e perdeu 3,6 mil homens.

COMPANHEIRO EVO
Há um cheiro de malandragem nas queixas do governo boliviano contra a construção das hidrelétricas do Madeira. O que o companheiro Morales quer é a transformação das usinas de Jirau e Santo Antonio num projeto binacional. Ambas ficam em território brasileiro e produzirão o equivalente a meia Itaipu.


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