São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 2008

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Defesa critica Tarso e diz que Abin é "SNI"

Advogado de Dantas afirma ter constatado grampos ilegais de conversas entre advogados, segundo ele uma "barbaridade"

Para Nélio Machado, que vê interesse político de Tarso, é reprovável ministro ter dito que será "muito difícil" para Dantas provar sua inocência


ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

O advogado Nélio Machado, que defende Daniel Dantas, acusou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) de estar agindo de forma ilegal e paralela à investigação da Polícia Federal e criticou o comportamento do ministro da Justiça, Tarso Genro, no episódio da prisão do dono do Opportunity.
Preso duas vezes na semana passada e beneficiado por habeas corpus concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), Dantas é acusado de chefiar uma quadrilha responsável por diversos crimes financeiros e fiscais a partir das empresas do grupo Opportunity.
O advogado afirmou que existem indícios de que agentes da Abin interceptaram ilegalmente conversas telefônicas. "Eu constatei interceptação da conversa de advogados, o que é uma barbaridade. Tem inclusive interceptação de conversa do meu cliente com um advogado dele nos Estados Unidos."
Segundo Machado, há indícios de que a Abin tenha monitorado a comunicação entre os advogados de Dantas, no Rio e em Brasília. "Incluindo troca de e-mails entre o meu escritório e o do Pedro Gordilho e Alberto Pavie. Também com o de Luiz Carlos Madeira, em Brasília. São todos advogados da maior seriedade. É uma audácia interferir mediante grampo, que eu acredito que seja ilegal."
Disse ter indícios de que a ida de Pavie ao STF, na última terça, horas após a prisão de Dantas, foi monitorada pela Abin: "Essa investigação é muito estranha porque revela, de maneira chapada e indisfarçável, a presença de uma entidade que não tem nenhuma atribuição de atuar em investigação de natureza penal, que eu chamo de SNI [Serviço Nacional de Informações, antigo nome da Abin]."
O advogado de Dantas afirmou que Tarso teria interesses políticos no episódio. "Vê-se que o presidente da República lançou, ou pelo menos prestigiou, a ministra Dilma [Rousseff]. Subitamente vê-se o ministro Tarso ocupar espaço. Ele integra o Executivo e está agindo meio à solta. O próprio presidente deu declarações posteriores muito mais comedidas."
Machado disse que a avaliação de Tarso, em entrevista à Folha publicada no domingo, de que seria "muito difícil" para Dantas provar inocência é "reprovável". "Ele está agindo como o algoz. Faz juízo de valor."
Sobre o depoimento de Hugo Chicaroni, que disse ter recebido dinheiro para tentar subornar um delegado da PF em benefício de Dantas, Machado afirmou tratar-se de ação "isolada". "Não há envolvimento do meu cliente com aquela ação."
Ao criticar a atuação do juiz da 6ª Vara Criminal de São Paulo Fausto De Sanctis, que ordenou as prisões de Dantas, Machado antecipou uma das linhas que utilizará na defesa. "Um juiz tem que se preocupar com o julgamento técnico. Esse caso está viciado desde o início porque violaram o HD [disco rígido] do banco [Opportunity] contra uma ordem judicial do STF. Juiz de primeira instância não pode ir contra o Supremo."


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