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Fundação Sarney repassa verba a seu diretor
Entidade do Maranhão transferiu recursos obtidos com patrocínio da Petrobras para empresa de um de seus próprios dirigentes
A SGC Leite & Cia recebeu da fundação R$ 6.500 em 2007 para ministrar curso para capacitar 13 funcionários a preencher fichas de museu
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO A SÃO LUÍS
A Fundação José Sarney repassou recursos de patrocínio
cultural provenientes da Petrobras para a empresa de um dos
diretores da própria entidade,
revelam documentos obtidos
pela Folha.
Bancada pela estatal para fazer a preservação do acervo da
época em que o senador José
Sarney (PMDB-AP) era presidente da República, a fundação
terceirizou parte do serviço a
Sidney Gonçalves Costa Leite,
diretor do Núcleo de Processamento de Dados da instituição,
pelo menos em uma ocasião.
Em novembro de 2007 a
SGC Leite & Cia, empresa que
tem as iniciais de seu dono, recebeu da fundação R$ 6.500
para ministrar curso de capacitação de funcionários.
Leite admitiu ter sido contratado. Disse que ensinou 13
pessoas a preencher corretamente no computador fichas
com dados sobre as peças do
museu da fundação: "Fui contratado em uma emergência,
pois eu conhecia o sistema [de
computação] disponível".
Mas não considera sua contratação irregular ou imoral.
Afirmou ainda que foi contratado outras vezes pela fundação, antes de fazer parte da diretoria, mas não deu detalhes.
A Petrobrás repassou R$ 1,3
milhão à Fundação José Sarney via Lei Rouanet, que dá incentivos fiscais a quem investe
em projetos culturais. Há a suspeita de que parte destes recursos tenha sido desviada.
O caso da SGC mostra agora
que a fundação -uma instituição privada- beneficiou um de
seus próprios integrantes.
Se os serviços para os quais a
empresa foi contratada não tiverem sido prestados, isto pode
caracterizar a prática do crime
de emprego ilegal de verba pública, segundo criminalistas.
Caberá ao Ministério da Cultura, fiscalizador da Lei Rouanet,
checar a prestação de contas.
De acordo com as informações prestadas pela SGC à Receita Federal, a empresa não
está apta a ministrar cursos. A
descrição de sua atividade
principal é "reparação e manutenção de computadores e de
equipamentos periféricos".
A empresa não tem nenhum
funcionário e está registrada
no mesmo endereço onde mora o seu dono, em São Luís.
Sidney Gonçalves Costa Leite também é um elo de ligação
da Fundação Sarney com outra
entidade relacionada à família
do presidente do Senado: a
Abom (Associação dos Amigos
do Bom Menino das Mercês).
Leite é tesoureiro da Abom
desde 2000. Ele chegou a negar
essa informação, mas voltou
atrás ao ser informado que a
reportagem tinha documento
com a lista de diretores da associação.
É também um dos quatro integrantes em comum nas diretorias e conselhos das duas entidades. Outro é o advogado
Ronald Augusto Furtado, irmão de Sarney, que na Abom
tem cargo no conselho fiscal.
A Abom também recebeu recursos públicos por meio de
patrocínio cultural. Parte (R$
389 mil) veio da Eletrobrás,
empresa controladas por aliados de Sarney.
Anteontem, o Ministério Público Federal decidiu investigar a Fundação Sarney pela
suspeita de desvio de recursos
do projeto de recuperação de
seu acervo.
(ALAN GRIPP E HUDSON CORRÊA)
Colaborou LARISSA GUIMARÃES, da Sucursal de Brasília
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