São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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CAIXA PETISTA

Tesoureiro do partido deve deixar o cargo aos poucos; justificativa será candidatura por Goiás em 2006

Governo e PT já articulam saída de Delúbio

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo e a cúpula do PT já articulam a saída de Delúbio Soares da tesouraria do partido no próximo ano. A justificativa será o lançamento de uma candidatura dele a senador ou a deputado federal (mais provável) por Goiás em 2006.
A saída de cena de Delúbio, já acertada por ele com o ministro José Dirceu (Casa Civil) e com o presidente do PT, José Genoino, será feita aos poucos, até porque o partido e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostam dele e reconhecem a importância de seu papel nas eleições de 2002.
Delúbio coordenou as atividades de arrecadação de recursos em 2002. Foi o membro da cúpula do partido que se expôs mais. No início do governo Lula, Delúbio foi mantido no posto.
Sua missão era reorganizar as finanças do PT e melhorar a estrutura do partido, como o aluguel de uma grande e moderna sede em Brasília, bem como preparar o esquema de arrecadação de recursos do partido para as eleições municipais.
Desde então, Delúbio passou a freqüentar o Palácio do Planalto, especificamente a Casa Civil, e a falar diretamente com os escalões superiores dos ministérios. Publicamente, ele admitiu encaminhar pleitos que considerou justos e nunca escondeu sua forte relação com o chefe da Casa Civil.
No entanto, dois episódios recentes levaram Lula a concluir que Delúbio perdeu credibilidade para a função de tesoureiro e que pode virar uma espécie de alvo freqüente do governo.

Alvo e imagem
O primeiro episódio foi a sua participação no caso em que o Banco do Brasil comprou ingressos para 70 mesas, a R$ 1.000 cada uma, para um show da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano em um restaurante de Brasília. A renda seria revertida para a compra de uma nova sede nacional para o PT em São Paulo.
Henrique Pizzolato, diretor de Marketing do Banco do Brasil, foi o responsável pela compra dos ingressos. Ele chegou ao posto por indicação de Delúbio e de Dirceu. Em 2002, Pizzolato participou do comitê financeiro da campanha de Lula à Presidência.
Após fortes críticas da oposição e até mesmo de petistas, a compra da nova sede do PT, no bairro do Paraíso, zona nobre de São Paulo, é incerta. O presidente do PT, José Genoino, disse: "O PT não tem dinheiro para pagar a sede. Estamos fazendo uma campanha para arrecadar [fundos]. Não sei se teremos condições para isso [a compra] no curto prazo".
O segundo episódio, revelado pelo jornal "O Globo", referiu-se à compra de terras para familiares de Delúbio no sul de Goiás em dinheiro vivo. O tesoureiro deu explicações que o governo e o partido consideraram satisfatórias, mas a imagem de Delúbio foi afetada. Membros da cúpula do governo já conversaram com empresários que disseram temer se encontrar com Delúbio e ter seus nomes divulgados na imprensa de forma negativa.
Ou seja, colou em Delúbio uma imagem que é prejudicial ao governo, ao partido e a ele. O partido e o governo, porém, estão dispostos a defender a imagem de Delúbio para não parecer que há uma espécie de confissão de culpa.
Genoino afirmou que o PT interpelará judicialmente quem comparar Delúbio a PC Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Collor, que caiu por acusações de corrupção feitas a ele e a PC, comparou Delúbio a seu tesoureiro. Disse que o petista agia de forma mais "abrangente".
Delúbio respondeu: "O Brasil inteiro conhece o ex-presidente. Não vou polemizar com ele".


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