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Planalto prefere evitar "efeito Chávez"
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e seus principais ministros
traçaram cenários nos últimos
dias para nortear a estratégia do
governo em relação à crise política. Lula espera que se confirme o
cenário mais favorável, chamado
de "plano A" no Palácio do Planalto. Nele, a crise, no limite, fica
concentrada no ex-ministro da
Casa Civil José Dirceu, e eventuais
bons resultados na economia permitiriam a reeleição em 2006.
Já o "plano B" seria a radicalização da aliança com movimentos
sociais tradicionalmente aliados
ao PT para enfrentar uma eventual tentativa da oposição de patrocinar um impeachment. Lula
não gostaria de adotar essa saída
devido às semelhanças com o que
ocorre na dividida Venezuela presidida por Hugo Chávez. "Não
sou e não serei Chávez", tem dito
Lula ao ver comparações com o
venezuelano na imprensa, segundo relato de auxiliares à Folha.
Chávez tem ao apoio de cerca de
metade da população da Venezuela, a mais pobre e menos escolarizada. Adota uma política econômica antiliberal e vive hostilizando os Estados Unidos.
Lula mantém forte apoio entre
os mais pobres e menos escolarizados -apesar de ter começado a
sangrar nesse segmento devido à
crise política, como revelou pesquisa Datafolha publicada na sexta. No entanto, afasta a possibilidade de adotar uma retórica de
confronto com "a direita internacional", como faz Chávez.
Na reunião ministerial de sexta-feira, Lula repetiu que não mudará a política econômica. "Não vamos mexer nisso [política econômica] de jeito nenhum."
Para o Planalto, falar em saída
chavista é simplificar o que seria a
adoção do "plano B", pois Lula sabe que seu maior trunfo é uma
política econômica bem aceita pela elite nacional e internacional.
"Se a oposição insistir na tese de
impeachment, o país ficará dividido. Podem sobrar 30% com o
Lula, mas serão 30% que deixarão
o país ingovernável." Essas foram
as palavras de um ministro que
pediu para não ser identificado.
Dirceu e economia
O sucesso do "plano A" dependerá de uma complicada administração do desfecho da situação
que Dirceu enfrenta na Câmara,
onde responde a processo por
cassação. E também de bons resultados na economia.
A relação entre Lula e Dirceu,
que já era formal e fria nos bons
tempos, piorou desde que o ex-ministro caiu. Apesar disso, um
sabe que depende do outro, o que
os obriga a manter contatos diretos e por emissários.
Auxiliares de Lula gostariam
que Dirceu, como fez o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, assumisse de vez a responsabilidade
pela montagem do esquema de financiamento político-eleitoral
ilegal com o publicitário Marcos
Valério. Avaliam que esse gesto
esvaziaria a crise.
O ex-ministro da Casa Civil resiste à idéia, mas a evolução dos
fatos, que tem sido negativa para
o governo e para o PT como um
todo, poderia comprometer de
vez Dirceu e levá-lo a assumir
uma eventual culpa.
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