São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2005

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Planalto prefere evitar "efeito Chávez"

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais ministros traçaram cenários nos últimos dias para nortear a estratégia do governo em relação à crise política. Lula espera que se confirme o cenário mais favorável, chamado de "plano A" no Palácio do Planalto. Nele, a crise, no limite, fica concentrada no ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, e eventuais bons resultados na economia permitiriam a reeleição em 2006.
Já o "plano B" seria a radicalização da aliança com movimentos sociais tradicionalmente aliados ao PT para enfrentar uma eventual tentativa da oposição de patrocinar um impeachment. Lula não gostaria de adotar essa saída devido às semelhanças com o que ocorre na dividida Venezuela presidida por Hugo Chávez. "Não sou e não serei Chávez", tem dito Lula ao ver comparações com o venezuelano na imprensa, segundo relato de auxiliares à Folha.
Chávez tem ao apoio de cerca de metade da população da Venezuela, a mais pobre e menos escolarizada. Adota uma política econômica antiliberal e vive hostilizando os Estados Unidos.
Lula mantém forte apoio entre os mais pobres e menos escolarizados -apesar de ter começado a sangrar nesse segmento devido à crise política, como revelou pesquisa Datafolha publicada na sexta. No entanto, afasta a possibilidade de adotar uma retórica de confronto com "a direita internacional", como faz Chávez.
Na reunião ministerial de sexta-feira, Lula repetiu que não mudará a política econômica. "Não vamos mexer nisso [política econômica] de jeito nenhum."
Para o Planalto, falar em saída chavista é simplificar o que seria a adoção do "plano B", pois Lula sabe que seu maior trunfo é uma política econômica bem aceita pela elite nacional e internacional.
"Se a oposição insistir na tese de impeachment, o país ficará dividido. Podem sobrar 30% com o Lula, mas serão 30% que deixarão o país ingovernável." Essas foram as palavras de um ministro que pediu para não ser identificado.

Dirceu e economia
O sucesso do "plano A" dependerá de uma complicada administração do desfecho da situação que Dirceu enfrenta na Câmara, onde responde a processo por cassação. E também de bons resultados na economia.
A relação entre Lula e Dirceu, que já era formal e fria nos bons tempos, piorou desde que o ex-ministro caiu. Apesar disso, um sabe que depende do outro, o que os obriga a manter contatos diretos e por emissários.
Auxiliares de Lula gostariam que Dirceu, como fez o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, assumisse de vez a responsabilidade pela montagem do esquema de financiamento político-eleitoral ilegal com o publicitário Marcos Valério. Avaliam que esse gesto esvaziaria a crise.
O ex-ministro da Casa Civil resiste à idéia, mas a evolução dos fatos, que tem sido negativa para o governo e para o PT como um todo, poderia comprometer de vez Dirceu e levá-lo a assumir uma eventual culpa.

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