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Gravação revela negociação de coronel com empresário
Militar foi preso pela PF, que apura fraudes em licitações públicas no Amazonas
Justiça autorizou escuta que mostra como funcionava venda superfaturada de alimentos para escolas, Exército e famílias carentes
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Gravações telefônicas feitas
pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, mostram o
coronel Vitor Augustos de Fellipes -que há três meses era o
gerente da Diretoria de Subsistência do Comando do Exército, em Brasília, responsável pela liberação do pagamento de
fornecedores- combinando
com um empresário a antecipação de um pagamento.
O coronel foi um dos presos
na última sexta-feira durante a
Operação Saúva, da PF, que
desmontou um esquema de
fraudes em licitações públicas
no Amazonas para a venda superfaturada de alimentos para
merenda escolar, quartéis do
Exército e famílias carentes.
Entre os 32 presos pela PF,
havia 11 militares, sendo oito
oficiais. No trecho da gravação
a que a Folha teve acesso, ele
conversa sobre a antecipação
de um pagamento de valor R$
900 mil para o empresário
João Leitão Limeira, cujas empresas ganharam R$ 11 milhões
em licitações em 2005, para
fornecer alimentos ao 12º Batalhão de Suprimentos do
Amazonas. A conversa entre o
coronel e o empresário foi gravada no dia 17 de novembro do
ano passado.
O coronel primeiro diz que
não quer antecipar o pagamento de R$ 900 mil para não levantar suspeitas: "Eu não estou
querendo forçar muita onda
para esses 900 paus, porque eu
até aceito que vocês metam desagendado o próximo. Porque
tudo bem, eu seguro, porque eu
não quero abrir muito, senão
eu vou ter que acabar pagando
o Brasil, sou perante o Ministério do Planejamento o gerente
da atividade... Quem assina pela gerência da atividade sou eu,
Leitão, não é o Nilton [tenente-coronel Francisco Nilton de
Souza Júnior, também preso]".
Mas depois o coronel acaba
cedendo à pressão do empresário: "Então eu acho o seguinte,
se o Nilton topar desagendar
novamente, dizer que foi um
engano, qualquer coisa assim,
ótimo, eu finjo que não sei e vamos tocar em frente".
Segundo a investigação da
PF, os militares recebiam propina de 2% (oficiais) ou 1%
(praças) para facilitar as licitações no 12º Batalhão de Suprimento. A quadrilha obtinha informações privilegiadas das
concorrências e agilizava os pagamentos. Em alguns pregões,
violavam os envelopes dos concorrentes para inabilitá-los e
desviavam de dentro dos quartéis parte dos alimentos e os revendiam a particulares.
Com o apoio do Comando
Militar da Amazônia, segundo
um oficial que participou das
investigações, a PF filmou e fotografou a quadrilha desviando
diversos alimentos dos quartéis. Ontem, o comando informou que abriu inquérito para
investigar os militares.
A Folha não localizou o advogados dos militares e do empresário. "Meu cliente se sente
surpreso com as acusações, ele
é um ordenador de despesas e
não tem qualquer influência
em nenhum fato", disse o advogado José Carlos Cavalcante
Júnior, que defende Francisco
Nilton de Souza Júnior.
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