São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2006

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Gravação revela negociação de coronel com empresário

Militar foi preso pela PF, que apura fraudes em licitações públicas no Amazonas

Justiça autorizou escuta que mostra como funcionava venda superfaturada de alimentos para escolas, Exército e famílias carentes

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, mostram o coronel Vitor Augustos de Fellipes -que há três meses era o gerente da Diretoria de Subsistência do Comando do Exército, em Brasília, responsável pela liberação do pagamento de fornecedores- combinando com um empresário a antecipação de um pagamento.
O coronel foi um dos presos na última sexta-feira durante a Operação Saúva, da PF, que desmontou um esquema de fraudes em licitações públicas no Amazonas para a venda superfaturada de alimentos para merenda escolar, quartéis do Exército e famílias carentes.
Entre os 32 presos pela PF, havia 11 militares, sendo oito oficiais. No trecho da gravação a que a Folha teve acesso, ele conversa sobre a antecipação de um pagamento de valor R$ 900 mil para o empresário João Leitão Limeira, cujas empresas ganharam R$ 11 milhões em licitações em 2005, para fornecer alimentos ao 12º Batalhão de Suprimentos do Amazonas. A conversa entre o coronel e o empresário foi gravada no dia 17 de novembro do ano passado.
O coronel primeiro diz que não quer antecipar o pagamento de R$ 900 mil para não levantar suspeitas: "Eu não estou querendo forçar muita onda para esses 900 paus, porque eu até aceito que vocês metam desagendado o próximo. Porque tudo bem, eu seguro, porque eu não quero abrir muito, senão eu vou ter que acabar pagando o Brasil, sou perante o Ministério do Planejamento o gerente da atividade... Quem assina pela gerência da atividade sou eu, Leitão, não é o Nilton [tenente-coronel Francisco Nilton de Souza Júnior, também preso]".
Mas depois o coronel acaba cedendo à pressão do empresário: "Então eu acho o seguinte, se o Nilton topar desagendar novamente, dizer que foi um engano, qualquer coisa assim, ótimo, eu finjo que não sei e vamos tocar em frente".
Segundo a investigação da PF, os militares recebiam propina de 2% (oficiais) ou 1% (praças) para facilitar as licitações no 12º Batalhão de Suprimento. A quadrilha obtinha informações privilegiadas das concorrências e agilizava os pagamentos. Em alguns pregões, violavam os envelopes dos concorrentes para inabilitá-los e desviavam de dentro dos quartéis parte dos alimentos e os revendiam a particulares.
Com o apoio do Comando Militar da Amazônia, segundo um oficial que participou das investigações, a PF filmou e fotografou a quadrilha desviando diversos alimentos dos quartéis. Ontem, o comando informou que abriu inquérito para investigar os militares.
A Folha não localizou o advogados dos militares e do empresário. "Meu cliente se sente surpreso com as acusações, ele é um ordenador de despesas e não tem qualquer influência em nenhum fato", disse o advogado José Carlos Cavalcante Júnior, que defende Francisco Nilton de Souza Júnior.


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