São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Para analistas, só TV não muda

Segundo marqueteiros, horário eleitoral, que começa hoje, não altera sozinho o cenário da eleição presidencial

Notícias influem mais do que propaganda, dizem especialistas, que destacam a importância das inserções para surpreender o eleitor

MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO

Embora o candidato do PSDB Geraldo Alckmin aposte suas fichas no horário eleitoral, marqueteiros ouvidos pela Folha vêem pouca chance de alteração no cenário a partir de hoje, quando começa a propaganda na TV e no rádio.
A ressalva que fazem é unânime: somente um fato muito relevante contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas, será capaz de reverter o quadro atual.
As previsões se assemelham ao que aconteceu em 1998, quando um também candidato à reeleição -Fernando Henrique Cardoso (PSDB)- começou a campanha na TV à frente dos demais, posição da qual não saiu até o fim da disputa.
Já para a candidata do PSOL, Heloísa Helena, que estava em terceiro no último Datafolha, com 12%, o ideal seria que ocorresse o mesmo de 2002.
Antes do horário eleitoral daquele ano, Ciro Gomes (PPS) estava dez pontos atrás de Lula, com 27%, segundo o Datafolha. José Serra (PSDB) vinha em terceiro, com 13%. Em 30 de agosto, dez dias depois do início da propaganda na TV, Serra já havia subido à segunda posição, tecnicamente empatado com Ciro: 19% contra 20%.
"Desde 2002, principalmente, grandes mudanças de voto não aconteceram por causa de programas eleitorais, mas sim por causa de notícias", afirma Einhart Jacome da Paz, marqueteiro de Ciro em 2002.
Nos primeiros dias de horário eleitoral, a campanha de Serra mirou em Ciro. Reproduziu uma entrevista na qual o então candidato do PPS chamou um ouvinte de "burro".
Dias depois uma declaração de Ciro pareceu enterrar de vez as suas chances. No dia 31 de agosto, ele disse que o papel na campanha de sua mulher, Patrícia Pillar, estava no fato de "dormir" com ele. Em 9 de setembro, Serra já tinha ultrapassado Ciro, 21% contra 15%.
"O cenário só muda muito se acontecer de o Lula cometer uma seqüência de gafes muito grande ou ofender o eleitor de alguma maneira", disse o publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, que fez as campanhas de Lula em 1989 e 1994.
Para os marqueteiros, o que é realmente importante são as inserções, pequenas peças publicitárias que as TVs distribuem ao longo da programação. Elas são curtas, de até 60 segundos, e têm a vantagem de pegar o eleitor de surpresa.
"As inserções são mais importantes até", diz Fernando Barros, marqueteiro das campanhas presidenciais de FHC.
Com 65 inserções a mais do que Lula até 28 de setembro, Alckmin pode se beneficiar de outra característica das inserções, que é a de poder fazer ataques aos adversários sem quase ser identificado.
É comum os ataques virem acompanhados apenas de uma minúscula série de siglas. "Inserções são muito importantes. Dá para atacar sem ficar com o ônus", diz Jacome da Paz.
Com ataques ou só "paz e amor", o horário político, segundo Paulo de Tarso, vai trazer o eleitor para a campanha.
"Sem outdoor e faixas, as pessoas estão distantes da campanha. A eleição ainda não entrou na vida das pessoas", afirma o marqueteiro.


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