|
Texto Anterior | Índice
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
Identidade de Cabo Anselmo tem confirmação de perícia
Impressões digitais e assinatura batem com as disponibilizadas pela Marinha
Ex-marujo, que vive na clandestinidade desde 64,
vai poder tirar documentos; ele pede à União reparação
por suposta perseguição
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As impressões digitais disponibilizadas pela Marinha são de
José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, que moveu ação
na Justiça para reaver seus documentos originais, como CPF,
carteira de identidade e título
eleitoral, cassados desde 1964.
Uma perícia encomendada
pela Justiça Federal de São
Paulo, a que a Folha teve acesso, confirmou que as impressões digitais nos documentos
são mesmo do ex-marujo, que
foi um dos detonadores da queda do governo João Goulart e
do golpe de 1964 e, depois, ficou conhecido por delatar militantes da esquerda para os órgãos de repressão.
O perito Sebastião Edison
Cinelli, destacado para fazer o
trabalho, encaminhou à Justiça, na semana passada, o resultado da perícia. "É ele mesmo.
Está mais do que comprovado", disse à reportagem.
Em seu trabalho, Cinelli analisou as impressões digitais e a
assinatura de Cabo Anselmo. O
resultado deu positivo em ambos os casos.
A publicação da sentença
ainda deve levar mais algumas
semanas, pois a Marinha também vai apresentar à Justiça
uma análise semelhante. Só depois o ex-marinheiro, hoje com
67 anos, poderá requisitar novos documentos.
Não se tem notícia de personagem da ditadura -ou de
qualquer outro período histórico recente- que tenha recorrido à Justiça para ter direito à
própria identidade.
Isso foi necessário porque
José Anselmo dos Santos vive
desde 1964 na clandestinidade.
Naquele ano, por liderar a rebelião dos marinheiros, ele foi
expulso da Marinha, preso e
banido do país pelo primeiro
instrumento de exceção do regime militar (AI-1).
Militante de organizações da
esquerda armada, Anselmo
mudou de lado após ser preso,
em 1971. Virou informante do
Dops (Departamento de Ordem Política e Social) em São
Paulo e entregou vários ex-companheiros -que morreram ou foram torturados.
A Marinha, mesmo no período democrático (pós 1985),
sempre disse desconhecer o
paradeiro dos documentos do
ex-marujo. Ela foi forçada a
apresentá-los depois que Anselmo entrou na Justiça, no
ano passado, e a União virou ré
no processo.
Foram apresentados uma
"individual datiloscópica" e um
"prontuário de identificação"
com seus dados biométricos e
fotos. Sua certidão de nascimento, contudo, desapareceu.
Por causa da falta de identidade, Anselmo diz ser o único
brasileiro não beneficiado pela
Lei de Anistia, instituída 30
anos atrás. E reclama, como
disse à Folha no final do mês
passado, ser perseguido pelo
governo Lula. Ele pede à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça reparação econômica pela perseguição que afirma ter sofrido na ditadura.
Na semana passada, o ministro Tarso Genro (Justiça) disse
ter dúvidas sobre a real perseguição sofrida por Cabo Anselmo. Para ele, há indícios de que
o ex-marinheiro já era, à época
da rebelião que precipitou a
queda do governo João Goulart, "agente infiltrado dos golpistas". O ministro ponderou
que falava em tese por desconhecer o processo protocolado
na Comissão de Anistia. Cabo
Anselmo nega ter ferido ou matado durante a ditadura.
Texto Anterior: Mídia 2: Segurança de templo ameaça fotógrafo da Folha Índice
|