São Paulo, sábado, 15 de agosto de 1998

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SUCESSÃO
Para o presidente-candidato, bancos não seguem política do governo
FHC critica banqueiros por juros de empréstimo pessoal


EMANUEL NERI
enviado especial a São Luís

Preocupado com possíveis prejuízos eleitorais em sua campanha de reeleição por causa dos juros altos, o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou ontem duramente os banqueiros por não seguirem a política do governo de redução dos juros.
"Será que não tem gente ganhando com a especulação financeira e com a intermediação bancária?", perguntou FHC em São Luís. "É bom que comecem a perguntar aos banqueiros para eles explicarem por que não baixam também as taxas de empréstimos pessoais", declarou.
FHC foi a São Luís apenas para acompanhar a governadora local, Roseana Sarney (PFL), que ficou 60 dias afastada por motivos de saúde. A viagem teve caráter eleitoral -a assessoria do candidato diz que a campanha pagará as despesas da viagem, inclusive o frete do Boeing presidencial.
O presidente falou sobre os juros ao comentar a situação do país diante da crise financeira internacional. Ele afastou a possibilidade de uma nova elevação dos juros. A tendência, disse, é continuar a política de redução das taxas.
"Mas o mais importante é que os bancos têm que baixar também suas taxas", afirmou. Para FHC, a redução dos juros de crediários e de empréstimos pessoais não é uma tarefa do governo.
O governo, segundo FHC, não pode "interferir diretamente" nos bancos para que os juros sejam reduzidos. "É preciso que haja também uma pressão da área privada para que (os bancos) modifiquem suas práticas de cálculo de riscos e comecem a baixar as taxas de juros", afirmou.
A Febraban, federação dos bancos, não quis comentar as declarações de FHC.
Quanto aos efeitos da situação financeira internacional no país, FHC disse que "alguns apressados ficam até torcendo" para que a crise também atinja a moeda brasileira. Não disse quem são.
Para FHC, a crise internacional não terá o mesmo efeito "delicado" que teve em outubro passado sobre a economia do país, porque o sistema financeiro brasileiro foi "saneado graças ao Proer".
Proer é o plano em que o governo aplicou mais de R$ 20 bilhões para salvar bancos quebrados. Segundo FHC, o Proer teve a "coragem de tomar bancos de antigos proprietários e também de tomar bens desses proprietários".
Um outro "ponto positivo" que FHC apontou para que não se repita a crise de outubro passado são as reservas em moedas estrangeiras, superiores a R$ 70 bilhões.
A assessoria de FHC tentou evitar que a passagem de FHC por São Luís fosse marcada pelo uso da máquina pública.
Segundo os assessores, a campanha pagou R$ 2.500 à Infraero para utilizar um antigo aeroporto da cidade para realizar um comício.
Mas a Folha presenciou a chegada de carros oficiais trazendo autoridades para o comício.
O prefeito de Poção de Pedras, João Batista Santos (PSD), chegou ao local no carro da prefeitura que administra. "Não sabia que era proibido. Não devia ser, né?"
Centenas de estudantes foram liberados ontem das escolas de São Luís para receber a governadora.
Acompanhados das professoras, eles apareceram no aeroporto vestidos com camisas da governadora-candidata. A assessoria da governadora disse não saber se os estudantes foram liberados para participar do comício.



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