São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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SÃO PAULO

Ao defender guerra fiscal, pepebista erra dados, omite contextualização de números e cita casos que depois são negados

Empresas contestam "terrorismo" de Maluf

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao atacar seu adversário Geraldo Alckmin (PSDB) e falar sobre sua promessa de entrar na guerra fiscal para manter empresas em São Paulo, o candidato do PPB ao governo paulista, Paulo Maluf, erra dados, omite a contextualização de números que menciona e cita empresas que estariam deixando o Estado sem que a mudança seja confirmada por elas.
É essa a conclusão a que se chega ao verificar declarações feitas pelo próprio pepebista, como na última quinta, quando ele falava para donos de supermercados sobre suas propostas para barrar a fuga de empresas do Estado.
Disse Maluf na palestra: "Mas, meus amigos, não é pegar a Lacta, que está aqui do lado, fornecedora de vocês (...), e levar para o Paraná, deixando aqui 2.000 mulheres desempregadas".
A Kraft Foods Brasil, controladora da Lacta, nega que a "desativação gradativa" de uma unidade da empresa na zona sul de São Paulo vá deixar 2.000 desempregados e que isso esteja ocorrendo devido à guerra fiscal.
"A linha industrial do Brooklin está sendo desativada em virtude do crescimento do bairro", diz a empresa em nota oficial.
No documento, a empresa diz não ter encontrado no bairro "espaço físico disponível" para ampliar o processo produtivo e que continuará investindo "fortemente" em São Paulo, onde manterá 4 de suas 12 unidades de produção.
A Kraft não divulga o número de funcionários que serão demitidos em São Paulo para não polemizar com Maluf, mas informa que o número citado por ele não corresponde à realidade.
No mês passado, a Mabel e a Cory, de Ribeirão Preto (314 km de SP), e a Tilibra, de Bauru (343 km de SP), também foram citadas por Maluf como exemplos de empresas que estariam deixando o Estado, informação que também foi desmentida pelas indústrias.
Em Ribeirão, o gerente de marketing da Cory, Daniel Andreolli, diz que a declaração causou apreensão em funcionários, até que a empresa conseguiu convencê-los de que não pretendia deixar a cidade, onde opera desde 1974.
Na Mabel, a declaração de Maluf foi uma reprise das da última sucessão estadual. Alvo do mesmo tipo de boato na campanha de 98, o presidente do grupo, Sandro Mabel, usou a experiência para contornar um problema maior.
"A declaração [de Maluf] criou uma instabilidade, mas a empresa aprendeu a contornar esses boatos", disse o empresário.

Tilibra e sabatina
Na Tilibra, a informação dada por Maluf foi classificada como "boato que está longe da verdade". A empresa, há quase 74 anos em Bauru, não comenta a declaração após ter divulgado no mês passado nota para desmenti-la.
Ao ser questionado se não estaria usando a informação para fazer "terrorismo econômico", Maluf já chegou a dizer que se enganou ao fazer a declaração sobre a Tilibra. A correção feita por ele, contudo, foi enviesada.
"Por um pedido do governador, vão esperar a eleição [para deixar Bauru]. Mas se vão sair e não vão sair. Se eu dei a informação errada, eu quero me penitenciar", disse ele na sabatina promovida pela Folha no último dia 22.
Após a resposta, Maluf continuou no tema e, de novo, se equivocou. "O prefeito de Americana me disse que está com mais de 13 mil desempregados em função do fechamento ou saída de 600 pequenas e médias indústrias."
Os números citados pelo ex-prefeito de São Paulo são, na verdade, até maiores: 761 empresas e 13.933 empregos fechados, respectivamente. O problema está no contexto, no período e no local em que isso realmente ocorreu.
Segundo a Prefeitura de Americana, o dado mencionado pelo prefeito Waldemar Tebaldi (PDT) é baseado em levantamento que inclui também as cidades de Nova Odessa, Santa Bárbara d'Oeste e Sumaré. O dado se refere a dez anos, entre 1990 e 2000.
No levantamento, de um sindicato das empresas do setor, não há menção de "saída" de empresas. O máximo que o estudo menciona é uma redução de produção devido à crise no setor causada por importação de tecidos.
Na sabatina, informações de Maluf sobre a cidade de Franca também não se confirmam, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, Valdir Barbosa.
"(...) Em Franca saíram quase metade das indústrias de lá e tem quase mil desempregados", disse o pepebista sobre dados que teria recebido após visitar a cidade.
"O que houve foi um fechamento de empresas no início da década de 90. E foi em função do câmbio", disse o secretário.
Segundo Barbosa, o fechamento atingiu, no setor de calçados, 160 empresas na década de 90. Hoje, 450 delas mais 900 "terceirizadas" somam uma produção de 32 milhões de pares, retomando a média de quatro anos atrás.


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