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Saio de cabeça erguida, diz cassado
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O plenário da Câmara dos Deputados cassou na noite de ontem, em votação secreta, o mandato do deputado federal Roberto
Jefferson (PTB-RJ), 52, autor das
denúncias sobre o escândalo do
"mensalão".
Foram 313 votos pela cassação,
contra 156 a favor de Jefferson, ou
seja, 56 votos a mais dos 257 necessários para a perda do mandato. Jefferson torna-se o primeiro
parlamentar a ser cassado na
atual crise política. Outros dois
-Carlos Rodrigues (RJ) e Valdemar Costa Neto (SP), ambos do
PL- renunciaram.
O petebista fica agora inelegível
até 2015 e só poderá concorrer a
cargo eletivo, na melhor das hipóteses, nas eleições municipais de
2016. O resultado mostrou ainda
cinco votos em branco, dois nulos
e 13 abstenções. O quórum total
foi de 489 deputados.
"Esta é a última semana de inverno. A primavera está chegando", disse Jefferson, segundo seus
assessores, ao saber do resultado,
proclamado às 21h33. Minutos
antes, o anúncio do 257º voto que
tornava definitiva a cassação foi
recebido com silêncio no plenário
e nas galerias.
Jefferson, que estava em seu
sexto mandato consecutivo como
deputado federal, foi o responsável pelo surgimento da pior crise
política do governo Luiz Inácio
Lula da Silva ao denunciar, em entrevista publicada na Folha em 6
de junho, o suposto esquema de
pagamento de mesada pelo PT a
deputados de partidos aliados.
Em conseqüência, ministros
deixaram os cargos, dois deputados já renunciaram, toda a direção do PT foi afastada e uma série
de diretores de estatais perderam
o emprego.
Bem ao seu estilo, Jefferson fez
um discurso de despedida, antes
de saber o resultado da votação,
recheado de frases de efeito, de
elogios e agradecimentos a aliados, a familiares, mas não poupou
os adversários políticos, entre os
quais incluiu, agora, o presidente
Lula -a quem ele vinha poupando de ataques diretos.
Acusado pelo Conselho de Ética
da Câmara de quebrar o decoro
ao fazer acusações sem provas e
ao admitir a prática de crimes como o tráfico de influências em estatais, Jefferson disse que Lula foi
"omisso" e relapso ao delegar
funções que, segundo o petebista,
foram usadas por auxiliares para
promover "o mais escandaloso
processo de aluguel de mandatos"
da história do Congresso.
Ovacionado por galerias lotadas
de pessoas com camisetas e cartazes com dizeres "eu acredito em
Roberto Jefferson", o petebista
disse que sai "de cabeça erguida"
e que não retira "nenhuma vírgula" das acusações que fez.
Ao saber do resultado no Congresso, cancelou uma entrevista
que havia marcado. Mas receberia a visita em sua casa de uma série de deputados do PTB, partido
do qual foi presidente.
A estratégia de tentar obter votos de última hora com o argumento de que o Palácio do Planalto estaria tentando espalhar uma
"guerra fratricida" no Congresso
não surtiu efeito. Mesmo assim, o
petebista teve adeptos declarados
-e não só no PTB. Cleonâncio
Fonseca (PP-SE), por exemplo,
dizia para quem quisesse ouvir
que não vota "a favor de cassação
de deputado".
Questionado como se sentiria se
Jefferson escapasse por apenas
um voto, respondeu: "Aí subo na
Mesa e grito: "Eu salvei Roberto
Jefferson!'".
A cassação do petebista deve
marcar o início de uma série de
punições contra deputados acusados de envolvimento no escândalo do "mensalão".
O próximo da fila a enfrentar a
votação no plenário deve ser o ex-ministro José Dirceu (PT-SP), que
ontem foi acusado por Jefferson
de tratar o Congresso como "um
prostíbulo" quando chefiava a
Casa Civil e atuava como articulador político do governo.
Além de Dirceu, Sandro Mabel
(PL-GO) e Romeu Queiroz (PTB-MG) já sofrem processo de cassação no Conselho de Ética e poderão ter o mesmo destino de Jefferson. Mais 13, entre eles seis petistas, devem ter os processos abertos nos próximos dias. Alguns podem renunciar para escapar à inelegibilidade resultante da cassação do mandato.
"Foram as "mentiras" de Jefferson que promoveram a maior reforma moral no governo Lula",
afirmou na tribuna um dos advogados do petebista, Itapuã de
Messias.
O suplente que assumirá a vaga
de Jefferson é o ex-deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ).
(RANIER BRAGON, FÁBIO ZANINI, SÍLVIO NAVARRO E LUIZ FRANCISCO)
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