São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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Governo busca acordo para sucessor

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo deu início a articulações para tentar um acordo com a oposição a fim de eleger o sucessor de Severino Cavalcanti (PP-PE) à presidência da Câmara. Para governo e oposição, a renúncia de Severino é questão de tempo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deu sinal verde para seu articulador político, o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais), buscar um acordo.
"No momento em que a sociedade está abalada por denúncias que chegaram a envolver até a presidência da Câmara, a prioridade deve ser o resgate das instituições, o que deve estar acima da legítima disputa entre governo e oposição", disse Wagner à Folha.
Indagado se via chance de um acordo, o ministro disse que isso dependeria da "evolução dos fatos". Ele, porém, afirmou que já estava conversando com políticos de todos os partidos.
Dirigentes da oposição, como o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), demonstraram disposição para um acerto com o governo. "Se houver a busca de um acordo em torno de alguém que terá independência na presidência da Câmara, acho bom", disse Maia.
Fazendo a ressalva de que era um senador e de que não tinha interesse em interferir em assuntos da Câmara, o tucano Tasso Jereissati (CE) afirmou que "a gravidade da crise exige responsabilidade de todos os partidos". Para ele, governo e oposição devem evitar vetos partidários e buscar "um nome acima de qualquer suspeita" para dirigir a Câmara.
Governistas e oposicionistas concordam com Tasso de que o debate sobre um acordo não deve começar com vetos. Dizem ainda que o prazo para esse entendimento dependerá da reação de Severino, cuja família deseja que renuncie logo para preservar a aposentadoria parlamentar e os direitos políticos para concorrer a deputado em 2006.
Governo e oposição acham pouco provável prosperar a hipótese de licença de Severino, o que daria o comando temporário da Câmara ao pefelista José Thomaz Nonô (AL). Isso desagrada o governo e inviabilizaria saída por acordo, pois há temor no Planalto de que seja uma forma de permitir a abertura de um futuro processo de impeachment de Lula.
Ontem, o nome mais forte do governo continuava a ser o de Sigmaringa Seixas (DF). O petista independente Antonio Carlos Biscaia (RJ) é aventado por setores da oposição. O presidente do PMDB, Michel Temer (SP), também está no centro do debate.
Contra Sigmaringa pesa o fato de ter ido pescar com o ex-ministro José Dirceu no último final de semana. Amigo de Dirceu, seria visto com desconfiança para presidir uma sessão de cassação do mandato do petista. O governo, porém, acha que esse "escorregão" seria superável pelo bom trânsito com o PSDB.
Além de Sigmaringa e de Biscaia, o petista José Eduardo Cardozo (SP) é uma opção que o governo acha que seria palatável para boa parte da oposição.
Ricardo Barros (PP-PE) foi um dos defensores de Biscaia. O parlamentar petista integra o grupo suprapartidário "Pró-Congresso", que busca resgatar a imagem da Casa. A dificuldade para o governo aceitá-lo é a possibilidade de que saia do PT até o dia 30.
O PMDB deu início a conversas para arregimentar apoio a Temer. Respeitado na Câmara e com trânsito com todos os partidos, Temer tem um problema: o PMDB já ocupa a presidência do Senado, com Renan Calheiros.


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