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Oficiais tentam anular promoção de Lamarca
Clubes Militar, Naval e da Aeronáutica, que reúnem militares da reserva, vão à Justiça para anular portaria do governo
Oficiais argumentam que guerrilheiro desertou em 1969; Ministério da Justiça diz que não comenta a ação por não ter sido notificado
DA SUCURSAL DO RIO
Os clubes Militar, Naval e da
Aeronáutica recorreram nesta
semana à Justiça Federal para
tentar a anulação da portaria
do Ministério da Justiça, publicada em 13 de julho, que promoveu ao posto de coronel o
ex-capitão do Exército Carlos
Lamarca, guerrilheiro morto
em 1971, no regime militar.
A portaria também determinou o pagamento à viúva de Lamarca de pensão mensal no valor recebido por um general-de-brigada (R$ 11.444,40).
A ação impetrada pelos clubes militares foi distribuída anteontem para a 14ª Vara Federal do Rio, que ainda não se manifestou. O primeiro passo da
Justiça deverá ser uma notificação à União, para que se manifeste sobre as pretensões dos
clubes, que representam oficiais da reserva do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica.
Na ação, os dirigentes dos
clubes militares alegam que a
portaria assinada pelo ministro
da Justiça, Tarso Genro, fere a
legislação. Lamarca desertou
do Exército em 1969 para ingressar na luta armada, militando nas organizações clandestinas VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), Var-Palmares e MR-8 (Movimento
Revolucionário 8 de Outubro).
A portaria de Genro concede
ainda anistia política a Lamarca e determina o pagamento,
como reparação econômica, de
R$ 902.715,97 à viúva Maria
Pavan Lamarca, referente à diferença entre a data de seu pedido, em 1988, e a do julgamento do caso pela Comissão de
Anistia, em 13 de junho último.
Além disso, A viúva e seus dois
filhos, Cláudia e César, ainda
receberão, individualmente,
indenização no valor teto de R$
100 mil, correspondente a 30
salários mínimos por ano de
perseguição política.
A ação pede a suspensão dos
pagamentos e a devolução ao
erário dos valores já recebidos
por ela. A promoção de Lamarca e as indenizações foram decididas pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
A promoção de Lamarca a coronel, com vencimento de general -conforme a legislação
militar do tempo em que ele
serviu, que concedia salários
equivalentes a uma patente acima daquela em que o profissional deixou o trabalho-, irritou
as cúpulas dos clubes militares.
"Minhas manifestações são
pautadas pelo equilíbrio. Entendo que em democracia tem
que ser assim. Mas é absurdo
que uma pessoa que traiu, roubou, torturou e matou a pauladas um indefeso receba esse reconhecimento. Eu não consigo
entender", disse o presidente
do Clube Militar, general da reserva Gilberto Figueiredo.
Para o presidente do Clube
Naval, almirante reformado
José Júlio Pedrosa, a ação conjunta dos clubes não é emocional. "É uma ação bem técnica. A
portaria contraria decisões do
Supremo Tribunal Federal a
respeito da promoção de militares e leis que regulam o assunto. Temos a obrigação de recorrer contra essa decisão, até
para proteger o erário."
O terceiro signatário, o presidente do Clube da Aeronáutica,
brigadeiro da reserva Ivan Frota, afirmou que um dos objetivos da ação é despertar a sociedade para a questão das indenizações pagas pelo governo a
pessoas supostamente vitimadas pelo regime militar. "A Lei
da Anistia concedeu favorecimentos financeiros só para um
dos lados. Hoje em dia, qualquer indivíduo requer e consegue recompensas milionárias."
Segundo o advogado dos clubes, Nina Ribeiro, a portaria "é
completamente ilegal no que
trata das promoções do Exército" e "fere os brios dos militares". "Lamarca queria no fundo
instaurar no Brasil uma ditadura comunista. Queria sair de
um regime de exceção para outro muito pior", disse.
O Ministério da Justiça disse
que não comentaria a ação por
não ter sido ainda notificado e
limitou-se a divulgar a seguinte
declaração do presidente da
Comissão de Anistia, Pedro
Abrão Lopes Júnior: "Em um
ambiente democrático, o caminho para o questionamento da
decisão de alguma autoridade
pública é a via judicial".
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