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TCM paga supersalários a 66 servidores
Funcionários ganham mais do que o prefeito paulistano, R$ 12,3 mil, o que é proibido pela lei; oito deles recebem mais que R$ 20 mil
Os conselheiros têm salários que variam de R$ 16,4 mil a R$ 25,5 mil; o tribunal aluga 33 veículos de uma locadora de Brasília por R$ 465 mil
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal de Contas do Município de São Paulo paga a 66
servidores salários superiores
ao do prefeito, descumprindo o
limite fixado pela Constituição
Federal. Gilberto Kassab
(DEM) recebe R$ 12.384,06
mensais, brutos. Oito servidores do TCM ganham acima de
R$ 20 mil. O maior salário bruto é o de um agente fiscal com
30 anos de casa: R$ 27.998,65.
A Folha teve acesso à lista
dos supersalários do tribunal,
requisitada pelo Ministério Público Estadual. Ela contrasta
com o quadro publicado no
"Diário Oficial da Cidade de
São Paulo", na edição de 29 de
dezembro de 2007, que registra apenas 17 servidores com
remuneração acima de R$
9.000,00. Esses valores escondem as "vantagens de caráter
pessoal auferidas ao longo da
carreira", como as gratificações
mantidas pela Justiça.
Criado em 1968 pelo então
prefeito Faria Lima para fiscalizar receitas e gastos da administração municipal, evitando
desperdícios, o TCM administra um orçamento de R$ 163,2
milhões em 2008. Os salários
representam 75% dos gastos.
O histórico da corte é marcado por denúncias de irregularidades, nepotismo, contratações sem concurso, aumentos
de salários e aposentadorias
decididos pelo próprio tribunal. Questiona-se, até hoje, se
os custos do TCM correspondem à sua utilidade.
Segundo a assessoria, 18% do
quadro não prestaram concurso e 72% são servidores de carreira. O tribunal informa que
enfrenta uma defasagem de
quase 100 funcionários (738
em 2007, 645 atualmente). A
diferença entre os ganhos de
técnicos concursados e os de
servidores mais antigos que
acumularam gratificações e benefícios levou novos auditores
e fiscais a prestarem concursos
para outros órgãos públicos.
Projeto de lei de fevereiro
cria 28 cargos de confiança. Na
hipótese de preenchimento de
todos os cargos, haverá uma
despesa mensal de R$ 180,4
mil, mais encargos patronais.
O TCM tem poderes para
aplicar multas e determinar o
ressarcimento ao erário. Emite
pareceres sobre as contas
anuais de prefeitos, que são
submetidas à Câmara Municipal. Sua rejeição pelos vereadores pode tornar o administrador inelegível por cinco anos.
Em 1999, na gestão do presidente Walter Abrahão no tribunal, a Comissão de Finanças
e Orçamento da Câmara Municipal questionou os gastos com
funcionários. O TCM sustentou que "os salários dos funcionários eram regidos por leis
aprovadas pela Câmara Municipal". As contas daquele exercício só foram aprovadas em
novembro de 2007. "O TCM
nunca teve contas rejeitadas",
informa a assessoria.
Os julgamentos do TCM são
feitos por cinco conselheiros
escolhidos por critérios políticos. Dois são indicados pelo
Executivo municipal e três pela
Câmara Municipal. Curiosamente, o TCM não fornece currículos dos conselheiros.
"Fui indicado por ampla
maioria de votos, 44 a favor, zero contra", diz o atual presidente da corte, Edson Simões.
Ex-vereador pelo PMDB, seu
nome foi escolhido em 1987,
num acordo na Câmara. Simões assumiu a presidência
em janeiro deste ano.
O TCM é um órgão auxiliar
do Legislativo. Seus julgadores
imitam a liturgia do Judiciário.
Usam togas e têm impedimentos e garantias iguais às da magistratura -como vitaliciedade
(aposentam-se aos 70 anos) e
vencimentos equiparados aos
de juízes. A faixa salarial dos
conselheiros vai de R$
16.466,28 a R$ 25.500,00.
O TCM usa uma frota de 33
veículos, modelo do ano, de
uma locadora com sede em
Brasília. O contrato de R$ 465
mil foi firmado em 2006. Oito
automóveis sedan são usados
pelos cinco conselheiros e pelo
secretário-geral. Cada conselheiro dispõe de cota mensal de
300 litros de combustível.
A sede do TCM ocupa uma
área de nove mil metros quadrados. Erguida em área de
brejo, cedida na gestão do prefeito Paulo Maluf (1969-1971),
a sede já sofreu intervenções
do Instituto de Pesquisas Tecnológicas. As obras foram contratadas com a Construtora
Beter, uma das financiadoras
de campanhas eleitorais de
Maluf e de Celso Pitta.
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