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ELEIÇÕES 2004/DEBATE
Prefeita também ataca o vice do tucano, Gilberto Kassab (PFL) e disse que na ausência do candidato do PSDB, a 'turma do Pitta assume'; com lema "apagão da saúde", Serra tenta levar debate para esfera municipal e afirma que PT é "ruim de serviço"
Frente a frente, Serra critica Marta, que ataca Alckmin e FHC
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O primeiro debate entre José Serra
(PSDB) e Marta Suplicy (PT) transformou-se numa verdadeira operação desmanche das gestões da própria Marta
(por parte de Serra) e das administrações
Geraldo Alckmin e Fernando Henrique
Cardoso, ambos do PSDB, pela prefeita.
O fato de o debate, promovido pela Rede Bandeirantes, ter sido um mano a mano, com perguntas de candidato para
candidato em três de seus cinco blocos,
facilitou o ataque direto, quase sempre virulento de parte a parte. Marta puxou a linha de ataques com um comentário já esperado sobre o candidato a vice de Serra,
o pefelista Gilberto Kassab.
A petista lembrou que Kassab
havia sido secretário do Planejamento de Celso Pitta, o prefeito de
pior avaliação em toda a história
das pesquisas na cidade. Chegou a
exagerar, ao dizer que Kassab seria o responsável por tudo o que
acontecera na gestão Pitta, e disse
que, se acontecesse alguma coisa
que levasse Serra a não terminar o
mandato, seria a "volta da turma
do Pitta".
Serra respondeu dizendo que
Kassab ficara um ano apenas na
equipe de Pitta e lembrou que "o
chefe de campanha" de Marta
(alusão ao marqueteiro Duda
Mendonça) também havia sido o
chefe de campanha de Pitta.
Marta voltou ao tema Kassab
uma e outra vez em vários outros
blocos, inclusive na fala final.
Não faltaram insinuações recíprocas de corrupção, embora
nem um nem a outra chegassem
ao ponto de formular uma acusação frontal nesse capítulo.
Marta puxou o assunto com
uma pergunta sobre o custo muito maior dos hemoderivados (derivados do sangue) durante o período Serra no Ministério da Saúde (US$ 0,61 por unidade contra
US$ 0,16 no governo Lula).
Serra retrucou dizendo que o
secretário de Saúde de Marta,
Gonzalo Vecina, seria "testemunha da correção" de sua gestão
(ele foi levado por Serra para o
ministério). Acusou "gente de
confiança do PT" de responsabilidade pelo escândalo batizado de
"Operação Vampiro".
"Os vampirões presos são companheiros de militância e de financiamento de sua campanha",
contra-atacou Serra.
O tucano escolheu vários assuntos para atacar o PT e a gestão
Marta, não exatamente por corrupção, mas por "não dar valor ao
dinheiro" e por "ser ruim de serviço". Nessa categoria, o candidato citou vários casos, mas insistiu
particularmente no aumento de
R$ 150 milhões para R$ 220 milhões nos túneis da avenida Faria
Lima. Marta demorou para responder que o aumento havia sido
provocado por problemas, como
"rochas" e "fios" encontrados durante a execução da obra.
A prefeita, que leu todas as perguntas que fez, levou sempre o assunto para a administração estadual, atacando o governo do
PSDB, e a gestão federal tucana.
Serra reclamou o tempo todo
que Marta fugia das questões municipais, que, em tese, deveriam
ser o centro do debate. Depois da
enésima reclamação de Serra, a
prefeita respondeu que citava
continuamente o governo estadual, porque o governador Alckmin era "o padrinho de Serra".
Completou: "Você não tem o que
mostrar na cidade de São Paulo".
Serra retrucou que elevara de
R$ 650 bilhões para R$ 1,3 bilhão
o volume de recursos para São
Paulo, durante a sua gestão como
ministro, e insistiu em trazer o foco de novo para a questão municipal, culpando Marta pelo que
chamou de "apagão na Saúde" e
por não ter acrescentado um único leito para a cidade.
O debate seguiu essa tônica do
começo ao fim. Serra acusava o
"sufoco tributário" representado
pelo criação de taxas e/ou aumento de impostos em São Paulo, responsável, segundo ele, pelo fato
de 2.500 empresas terem deixado
a cidade, no período Marta, levando consigo capital no valor de R$
5 bilhões (acusação já feita no debate do primeiro turno na Globo).
Marta devolvia acusando FHC e
Serra de serem "os pais" do desemprego no país. Serra retrucava
lembrando que no primeiro ano
do governo Lula o desemprego
chegara ao recorde, e de novo retomava temas municipais.
A prefeita, quando saia do tema
federal, era para citar problemas
estaduais, como o da segurança
pública. Cobrou de Serra o fato de
o PSDB, em 10 anos no governo
estadual, não ter resolvido o problema da Febem. Serra puxava
também o tema Febem para a
prefeitura, acusando Marta de
não ter colaborado com o governo estadual, ao contrário do que
fazem outros municípios, inclusive governados pelo PT.
Depois de tantas citações a problemas da administração Alckmin, Serra ironizou: lembrou que
Alckmin não era o candidato, que
acusações parecidas já haviam sido feitas na campanha de 2002,
pelo candidato do PT, José Genoino, o que não impediu que Alckmin fosse reeleito.
Como três dos cinco blocos foram dedicados a duas perguntas
de cada candidato para o adversário, era natural e inevitável que a
temperatura subisse. Mesmo assim, só houve um momento em
que o mediador Carlos Nascimento concedeu direito de resposta (a Serra), pelo que considerou ofensa pessoal.
Foi quando Marta leu nota da
revista "Época" na qual supostamente FHC dizia que "o problema não era Serra, mas o demônio
que existe nele".
O tucano lamentou que a prefeita partisse "para ataques de natureza pessoal", com "intenções venenosas". Criticou também o fato
de que, na sua opinião, Marta preferisse, em vez de responder às
perguntas, fazer esse tipo de ataques. "Não é construtivo, não faz
bem aos eleitores de São Paulo."
Ficou claro que a campanha no
segundo turno seguirá a tônica do
debate da Bandeirantes: a agressiva tentativa de Marta de desconstruir as gestões do PSDB no Estado e na União, e Serra pondo o foco todo nas deficiências da gestão
petista na prefeitura.
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