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VIAGEM AO EXTERIOR
"Está claro que erradicar a pobreza exige combater a corrupção", afirma secretário-geral da ONU
Brasil reage a fala de Annan sobre corrupção
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SALAMANCA
Marco Aurélio Garcia, assessor
especial do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para assuntos internacionais, reagiu ontem com
muita ênfase à suposição de que o
escândalo de corrupção no Brasil
estaria afetando a execução dos
programas sociais.
"A corrupção não é um ferrolho, não está travando as ações do
governo", disparou Garcia, em
entrevista após a primeira sessão
de trabalho da 15ª Cúpula Ibero-Americana, de que participa o
presidente brasileiro, em Salamanca (Espanha).
A pergunta que deu origem à
frase presumia que o secretário-geral da ONU (Organização das
Nações Unidas), Kofi Annan, estivesse se referindo ao Brasil, quando afirmou, sempre na sessão
inaugural da Cúpula Ibero-Americana: "Está claro que erradicar a
pobreza exige combater a corrupção, promover a transparência e a
boa governança".
Trata-se, na verdade, de um
bordão clássico das organizações
internacionais e de discursos de
governantes, mesmo daqueles sobre os quais pesam suspeitas fortes de corrupção.
Por isso mesmo, Marco Aurélio
Garcia sentiu-se à vontade para,
primeiro, repetir frases que o governo Lula tem utilizado na presente crise: "A corrupção é um
problema sistêmico" e "o governo
a está combatendo com rigor".
Depois é que engatou a declaração de que "o combate à pobreza
não está sendo afetado pela corrupção, bem ao contrário".
Pobreza
Sem se referir à corrupção, o
próprio presidente Lula retomará
o tema do combate à pobreza no
discurso que fará hoje, na terceira
e última sessão de trabalho dos 22
governantes ibero-americanos ou
de seus representantes.
O tema que tocou a Lula é a projeção internacional da comunidade ibero-americana. Oportunidade lógica para retomar as idéias
que ele próprio já lançou e que
outros governantes também propuseram para atacar a fome e a
miséria no mundo.
O presidente retomará outro tema quase obsessivo na diplomacia brasileira, que é o da reforma
das Nações Unidas.
O ponto de chegada para o Brasil seria conseguir um lugar permanente do Conselho de Segurança, o coração do sistema internacional, mas o veto norte-americano no mínimo adiou a consecução do objetivo.
Por isso, diz Marco Aurélio, o
presidente não defenderá especificamente a posição brasileira.
Dará ênfase apenas à necessidade,
de resto óbvia, de reformar a
ONU, que ainda mantém uma estrutura pós-Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), quando já
desapareceu até a Guerra Fria que
a sucedeu.
O objetivo agora equivale a fatiar o processo de obtenção da vaga no Conselho de Segurança. Primeiro, cravar na agenda global a
necessidade da reforma; depois
vender a posição do G4 (Brasil,
Índia, Alemanha e Japão), exatamente a que foi rejeitada pelos Estados Unidos.
Só depois entraria na pauta a
questão de que países ocupariam
as novas vagas a serem eventualmente criadas no Conselho de Segurança.
Garcia reconhece que há "uma
certa fadiga" de reuniões de cúpula, motivo pelo qual o governo
brasileiro está defendendo uma
convergência para diminuí-las.
Hoje, um presidente como Lula
tem no mínimo dez reuniões internacionais às quais está obrigado a comparecer.
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