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Petista anuncia ajuste sem cortes de gastos
Nelson Barbosa explica que a estratégia se baseia na expectativa do crescimento do PIB em 5% em 2007
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Coordenador do programa
econômico do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o economista Nelson Barbosa, secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda,
afirma que o ajuste fiscal proposto pelo petista não prevê
corte de gastos.
Toda a lógica do ajuste foi
concebida a partir de um PIB
de 5% já em 2007. Como a economia crescerá mais, as despesas podem aumentar, mas num
ritmo inferior ao crescimento
do PIB. Leia trechos da entrevista:
FOLHA - Se reeleito, Lula fará um
ajuste fiscal que implique corte de
gastos? É necessário?
NELSON BARBOSA - Não haverá
corte de gastos, mas sim a melhoria na qualidade do gasto
público, com crescimento da
economia. Assim você pode reduzir o peso de alguns gastos
em relação ao PIB, gradualmente. Os gastos continuam
crescendo só que, proporcionalmente, crescem menos do
que o PIB.
FOLHA - O público alvo do Bolsa Família não se expandirá em 2007?
BARBOSA - O crescimento para
os próximos anos será mais
lento que nos anos anteriores.
O peso no orçamento tende a
cair, mas não porque você vai
cortar gastos. Os reajustes
acompanharão a inflação.
FOLHA - Mas há um debate sobre
os reflexos de longo prazo na Previdência caso os benefícios continuem
a ser reajustados pelo mínimo.
BARBOSA - A proposta é manter
os benefícios vinculados com o
salário mínimo. Os gastos da
Previdência devem terminar
este ano em cerca de 7,9% do
PIB. A médio prazo, você conceder aumentos reais.
FOLHA - Como? Reduz benefícios?
BARBOSA - Não é reduzir. É estabilizar, porque o PIB cresce
mais rápido que a despesa. O
número de benefícios cresce,
por ano, 3% a 4%. Se o PIB crescer a 5% há espaço para aumentar o mínimo sem explosão do
gasto da Previdência.
FOLHA - Para que haja essa estabilização, o PIB terá que crescer em
média 5%. Há projeções de PIB de
3% em 2006. Como aumentar o PIB?
BARBOSA - As projeções do governo vão de 3,5% a 4%. As previsões de 3% são conservadoras. A redução de juros dá um
estímulo grande, mas não é só
isso. Começaremos 2007 com o
crescimento acelerando. Pode
chegar a 5% sim. É um processo
de queda na taxa de juros e de
melhora na qualidade do gasto
público com o aumento do investimento em infra-estrutura.
FOLHA - Manutenção de escolas e
hospitais é custeio. Funcionalismo
idem. Haverá corte?
BARBOSA - Com o PIB crescendo mais rápido, você pode reduzir o peso desses gastos em
relação ao PIB e ainda assim
aumentá-los em termos reais.
É ajuste com crescimento.
FOLHA - Vamos supor o PIB de 5%.
BARBOSA - Aí você pode, por
exemplo, reajustar os gastos de
despesa da máquina a 1%. O
gasto que subiu foi basicamente com programas sociais. Os
demais estão estáveis em relação ao PIB.
FOLHA - E o gasto com servidores?
BARBOSA - O gasto com funcionalismo, neste ano, deve fechar
em 5,1% do PIB. Ao final de
2002, ele foi de 5,3% do PIB. Ou
seja, hoje nós gastamos menos
que o governo anterior, mesmo
tendo aumentado o número de
funcionários públicos. Isso é
choque de gestão. Como reduz
isso gradualmente? O orçamento de 2007 está dado. A
partir de 2008, você pode fazer
com que o gasto com funcionalismo continue crescendo, só
que proporcionalmente menos
que a economia.
FOLHA - Então os reajustes do funcionalismo serão menores.
BARBOSA - O reajuste real será
dado pelas condições macroeconômicas. O peso do gasto
com funcionalismo não será
aumentado. A proposta orçamentária de 2007 prevê gasto
em torno de 5% [do PIB]. E a
partir de então produzir uma
redução gradual via crescimento da economia e via aumentos
menores do gasto com pessoal.
FOLHA - O ajuste fiscal de Lula não
prevê redução de carga tributária?
BARBOSA - Prevê desoneração
de investimento e exportações.
FOLHA - Para o setor empresarial,
crescimento do PIB sem redução de
carga tributária é algo incompatível.
BARBOSA - Uma redução da carga em si pode ser fruto de uma
racionalização do sistema tributário, como a unificação das
alíquotas do ICMS. Você pode
ter uma redução da alíquota,
mas essa redução, justamente
porque diminui os impostos e
aumenta o lucro, pode gerar
um crescimento maior da economia que acaba se refletindo
na manutenção da carga no
mesmo patamar. O governo
não trabalha com meta de carga
tributária. Trabalha com desonerações das alíquotas.
FOLHA - A relação dívida/PIB cai?
BARBOSA - Sim, pelo maior
crescimento do PIB e pela redução da taxa de juros.
FOLHA - O economista Yoshiaki
Nakano, colaborador de Geraldo
Alckmin, propôs um ajuste fiscal rigoroso, com corte de despesas equivalente a 3% do PIB. É viável?
BARBOSA - Acho inviável. É
uma coisa radical. Corre o risco
de provocar uma recessão profunda. O PSDB propõe uma terapia de choque e nós propomos uma terapia gradualista.
Eles quebraram a economia em
1998 e em 2002.
FOLHA - Conter gastos não significa reduzir investimentos?
BARBOSA - Não. É conter benefícios previdenciários, assistenciais e custeio da máquina para
abrir espaço a investimentos .
FOLHA - É possível conter despesas
de custeio da máquina mantendo
sua estrutura atual?
BARBOSA - Sim. Nos últimos
anos, os gastos ficaram estáveis
em relação ao PIB. O gasto com
pessoal e encargos sociais é hoje mais baixo que o do governo
anterior, apesar do aumento de
ministérios e do número de
funcionários públicos. Vender
avião é propaganda. Criação de
ministérios não cria novos gastos.
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