São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

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Candidatos usam pesquisas para tentar corrigir falhas de discurso

Percepção do eleitor é que Lula deve explicar dossiê e Alckmin, ser menos agressivo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da maior repercussão das pesquisas de intenção de voto, os levantamentos considerados mais importantes pelos marqueteiros são as chamadas "qualitativas". Mantidas em segredo, elas os ajudam a definir a estratégia e a persuadir o candidato e seus aliados a adotar comportamentos que hesitam ou rejeitam.
As qualitativas a respeito do debate de domingo passado na Rede Bandeirantes foram fundamentais para os primeiros programas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (SP) no horário eleitoral que começou na quinta-feira.
Na avaliação do eleitorado, Lula devia explicações sobre o caso do dossiê, os escândalos de corrupção e as ausências nos debates do primeiro turno. Alckmin tinha um filão, sim, na exploração do dossiê, mas sua agressividade, que teria sido acima do tom no início do debate, deveria ceder lugar à discussão de propostas concretas.
Por último, o eleitor leva em conta a questão ética, mas dá mais peso, quanto menor a renda e a escolaridade, a medidas que possam melhorar sua vida.
Em tempo: as pesquisas qualitativas se diferenciam dos levantamentos quantitativos (amostra representativa de todo o eleitorado) por reunir um pequeno grupo de pessoas de características comuns.
Neste momento da campanha, o maior interesse dos marqueteiros é identificar os anseios do eleitor que ainda não está 100% convicto do seu voto, sobretudo o "lulista" ou aquele que optou por Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT) no primeiro turno. É o eleitor que Alckmin deseja conquistar e que Lula luta para segurar ou convencer.
As campanhas têm excluído das qualitativas o eleitorado convicto. Um debate teria pouca influência sobre esse tipo de eleitor, muito pesquisado no início da campanha para o marqueteiro descobrir os principais atributos do candidato.

Primeiro turno
As qualitativas com o eleitorado convicto foram fundamentais para que Luiz González, marqueteiro de Alckmin, rebatesse a pressão para atacar Lula no início da campanha. Ele dizia que o tucano precisava se apresentar e passar a ser visto como alternativa antes de "desconstruir" o oponente.
Os programas de Lula na quinta e na sexta trouxeram um presidente que disse querer fazer discussão "profunda" e não apenas falar de corrupção, apesar de ter lançado "vacinas" ao editar o debate de modo a parecer vitorioso nesse quesito. Alckmin voltou ao figurino realizador, corrigiu o discurso excessivamente paulista e rebateu a percepção de que Lula se importaria mais com o social.

Castigo
Nas pesquisas do PT, surgiu um tipo de eleitor batizado de "voto castigo" (desejou forçar o segundo turno). Ele não prefere Alckmin, mas abandonou Lula temporariamente. Outros entrevistados acharam que Lula se comportou no debate como quem "não foge da briga". Dizer que desejava saber mais sobre quem teria dado o dinheiro para comprar o dossiê foi inspirado nas qualitativas.
Ainda sobre a tentativa dos petistas de comprar denúncias contra o PSDB, as qualitativas de Alckmin revelaram que, em vez de perguntar a origem do dinheiro, seria melhor indagar "de onde veio o dinheiro?".
Na pesquisa tucana, apesar de a agressividade ter sido considerada acima do tom, Alckmin teria mostrado que é "bom de briga", em contraste com a pecha de chuchu (insosso).
Bons momentos de Lula aconteceram quando ele colou em Alckmin o carimbo de defensor da privatização. Muitos eleitores acham que privatizar é desperdiçar o patrimônio público. A segurança, um ponto frágil, teve boa resposta quando o tucano disse que, como presidente, não se omitiria.
(KENNEDY ALENCAR)


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