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Candidatos usam pesquisas para tentar corrigir falhas de discurso
Percepção do eleitor é que Lula deve explicar dossiê e Alckmin, ser menos agressivo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar da maior repercussão
das pesquisas de intenção de
voto, os levantamentos considerados mais importantes pelos marqueteiros são as chamadas "qualitativas". Mantidas
em segredo, elas os ajudam a
definir a estratégia e a persuadir o candidato e seus aliados a
adotar comportamentos que
hesitam ou rejeitam.
As qualitativas a respeito do
debate de domingo passado na
Rede Bandeirantes foram fundamentais para os primeiros
programas do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) e do
ex-governador Geraldo Alckmin (SP) no horário eleitoral
que começou na quinta-feira.
Na avaliação do eleitorado,
Lula devia explicações sobre o
caso do dossiê, os escândalos de
corrupção e as ausências nos
debates do primeiro turno.
Alckmin tinha um filão, sim, na
exploração do dossiê, mas sua
agressividade, que teria sido
acima do tom no início do debate, deveria ceder lugar à discussão de propostas concretas.
Por último, o eleitor leva em
conta a questão ética, mas dá
mais peso, quanto menor a renda e a escolaridade, a medidas
que possam melhorar sua vida.
Em tempo: as pesquisas qualitativas se diferenciam dos levantamentos quantitativos
(amostra representativa de todo o eleitorado) por reunir um
pequeno grupo de pessoas de
características comuns.
Neste momento da campanha, o maior interesse dos marqueteiros é identificar os anseios do eleitor que ainda não
está 100% convicto do seu voto,
sobretudo o "lulista" ou aquele
que optou por Heloísa Helena
(PSOL) e Cristovam Buarque
(PDT) no primeiro turno. É o
eleitor que Alckmin deseja conquistar e que Lula luta para segurar ou convencer.
As campanhas têm excluído
das qualitativas o eleitorado
convicto. Um debate teria pouca influência sobre esse tipo de
eleitor, muito pesquisado no
início da campanha para o marqueteiro descobrir os principais atributos do candidato.
Primeiro turno
As qualitativas com o eleitorado convicto foram fundamentais para que Luiz González, marqueteiro de Alckmin,
rebatesse a pressão para atacar
Lula no início da campanha.
Ele dizia que o tucano precisava se apresentar e passar a ser
visto como alternativa antes de
"desconstruir" o oponente.
Os programas de Lula na
quinta e na sexta trouxeram
um presidente que disse querer
fazer discussão "profunda" e
não apenas falar de corrupção,
apesar de ter lançado "vacinas"
ao editar o debate de modo a
parecer vitorioso nesse quesito.
Alckmin voltou ao figurino realizador, corrigiu o discurso excessivamente paulista e rebateu a percepção de que Lula se
importaria mais com o social.
Castigo
Nas pesquisas do PT, surgiu
um tipo de eleitor batizado de
"voto castigo" (desejou forçar o
segundo turno). Ele não prefere Alckmin, mas abandonou
Lula temporariamente. Outros
entrevistados acharam que Lula se comportou no debate como quem "não foge da briga".
Dizer que desejava saber mais
sobre quem teria dado o dinheiro para comprar o dossiê
foi inspirado nas qualitativas.
Ainda sobre a tentativa dos
petistas de comprar denúncias
contra o PSDB, as qualitativas
de Alckmin revelaram que, em
vez de perguntar a origem do
dinheiro, seria melhor indagar
"de onde veio o dinheiro?".
Na pesquisa tucana, apesar
de a agressividade ter sido considerada acima do tom, Alckmin teria mostrado que é "bom
de briga", em contraste com a
pecha de chuchu (insosso).
Bons momentos de Lula
aconteceram quando ele colou
em Alckmin o carimbo de defensor da privatização. Muitos
eleitores acham que privatizar
é desperdiçar o patrimônio público. A segurança, um ponto
frágil, teve boa resposta quando
o tucano disse que, como presidente, não se omitiria.
(KENNEDY ALENCAR)
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