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TRANSIÇÃO
Vice-líder no Senado critica definição da data em função de conveniência do ditador; para FHC, adiamento fere democracia
Governo ironiza "fator Fidel" para adiar posse
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A eventual mudança da data da
posse do presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva, motivada entre outras razões pela vontade da
cúpula do PT de contar com a
presença do presidente cubano, o
ditador Fidel Castro, na solenidade, acirrou os debates no plenário
do Senado ontem. O vice-líder do
governo, Romero Jucá (PSDB-RR), ironizou a informação de
que o PT quer adiar a posse para
possibilitar a vinda de Fidel Castro para participar da cerimônia.
"É algo estranho. Estamos definindo a data da posse do presidente do Brasil pela agenda de Fidel. Se, há alguns anos, o governo
brasileiro quisesse alterar a posse
do presidente eleito por causa de
dificuldades na agenda do presidente dos Estados Unidos, a esquerda iria subir nas tamancas",
disse Romero Jucá. Em 1º de janeiro, Cuba comemora a tomada
de Havana, que aconteceu em
1959, o que dificultaria a vinda de
Fidel Castro ao Brasil.
Fora dos microfones, Jucá foi
mais irônico. "Se querem incentivar a vinda de chefes de Estado
para a posse, devem propor o sorteio de uma Mercedes entre os
que vierem", afirmou.
Resposta
O porta-voz do presidente eleito, André Singer, divulgou nota
contestando a informação publicada pela Folha de que a presença
de Fidel pesa decisivamente no
esforço pelo adiamento da posse.
A Folha confirma a informação,
transmitida ao jornal por um assessor direto do presidente eleito.
O líder do bloco da oposição, senador Eduardo Suplicy (PT-SP),
telefonou ao presidente nacional
do PT, deputado José Dirceu (SP),
ainda durante a sessão, para responder a Jucá.
"O deputado José Dirceu pede
para esclarecer que Fidel Castro,
que já esteve na posse do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1º de janeiro de 95, faria esforço especial para estar aqui na
posse de Lula, em que pese ser importante a presença dele em Cuba
nessa data", disse.
Defensor da transferência da
posse do presidente eleito de 1º
para 6 de janeiro, o presidente do
Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), reagiu ontem às declarações
feitas pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso na Inglaterra,
criticando a iniciativa do Congresso Nacional.
Para FHC, o adiamento da data
fere a democracia, porque mexe
na duração dos mandatos -dele
e de Lula. Ele afirmou que a alteração da Constituição para mudar o dia da posse poderia ser
questionada no STF (Supremo
Tribunal Federal).
Tebet rebateu, afirmando que a
medida não viola a Constituição.
"Quando existe unanimidade nacional, existe legitimidade. Se o
Congresso quiser fazer [a mudança] vai fazer", disse o senador.
Segundo Tebet, FHC está certo
ao dizer que não quer a prorrogação do seu mandato, mas, se o
Congresso aprovar a proposta de
emenda constitucional mudando
a data, "como democrata, o presidente terá de cumpri-la".
"Passo eu"
Tebet apontou a solução para o
caso de FHC e o vice-presidente,
Marco Maciel (PFL-PE), recusarem a prorrogação dos seus mandatos: "Se o Marco Maciel também não quiser, passo eu a faixa
[presidencial a Lula]. Qual é o
problema?", perguntou.
Também em discurso, o líder do
PSDB, senador Geraldo Melo
(RN), disse que 1º de janeiro é
uma data inconveniente para a
posse, mas ficaria "muito ruim"
para o Congresso alterar a Constituição às pressas, "com o propósito de garantir mais grandiosidade
a uma festa que será grandiosa
por si só".
Melo fez um "apelo" a Lula para
que "dispense essa cortesia" que
estão lhe oferecendo.
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