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São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2003

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GOVERNO EM DESCOMPASSO

Jaques Wagner diz que projeto de mudança vai para Congresso neste ano; João Paulo descarta análise já

Reforma sindical opõe Planalto e Câmara

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Integrantes do governo e a presidência da Câmara continuam em descompasso e não se entendem sobre o futuro das reformas trabalhista e sindical.
Ontem, enquanto o ministro Jaques Wagner (Trabalho) afirmava que o cronograma do governo está de pé, ou seja, a reforma sindical começaria a tramitar no Congresso ainda neste ano, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), rebatia, dizendo que elas só caminharão em 2005.
Wagner participou de um debate com deputados e com o presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho), Francisco Fausto, sobre as reformas.
"Recebi uma missão do presidente, que é fazer o Fórum Nacional do Trabalho [órgão integrado por representantes dos trabalhadores, das empresas e do governo] andar o mais rápido possível. Na questão sindical, vamos concluir a proposta até o final deste mês. Ela vai à Presidência, que deverá remetê-la ao Congresso", disse o ministro ontem.
"Mandar, pode mandar, mas a reforma trabalhista só [sai] em 2005", respondeu categoricamente o presidente da Câmara dos Deputados, ao ser informado das declarações do ministro do Trabalho.
As reformas sindical e trabalhista são tratadas oficialmente como o próximo passo do governo no Congresso. Por diversas vezes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou essa intenção.
Anteontem, a Folha revelou a posição de João Paulo, contrário à discussão em 2004 por ser um ano eleitoral. O Palácio do Planalto não havia se manifestado até ontem sobre a posição do deputado.
"Do ponto de vista do Executivo, não tive nenhum diálogo com o presidente ou com a Casa Civil que estabelecesse um calendário diferente daquele imaginado", afirmou Wagner, que ressaltou considerar como prioridade a reforma sindical.
"O número de 17 mil sindicatos, que existe hoje, é uma pulverização muito grande. Existe sindicato de fachada e acaba que a negociação não tem o poder que deveria ter", disse o ministro.

Ano atípico
Wagner e João Paulo não se encontraram pessoalmente. "[O adiamento] é uma coisa objetiva. O ano que vem é atípico, só há cinco meses de trabalho, a partir de junho vamos entrar no processo eleitoral, e essa reforma é muito profunda, muito séria, mexe com a vida de milhões de brasileiros", reforçou João Paulo.
Segundo ele, a reforma do Judiciário e possivelmente a reforma política devem ser discutidas no próximo ano, já que reuniriam projetos que tramitam há bastante tempo no Congresso. "A reforma política está há dez anos aqui", afirmou João Paulo.

"Verdadeira guerra"
O presidente do TST disse que esperava uma votação ágil da reforma trabalhista, mas concordou com a opinião de João Paulo.
"Eu constato essa realidade, acho difícil que a reforma seja votada neste ano e acho difícil ela ser votada no ano que entra, que é um ano eleitoral. A reforma trabalhista será uma verdadeira guerra, ela interessa a todo mundo", afirmou Francisco Fausto.
Segundo ele, as reformas tributária e da Previdência, em tramitação no Senado, afetaram segmentos da sociedade, coisa que não ocorreria com as questões trabalhista e sindical.
"A reforma previdenciária interessou a uma parcela da população, os funcionários públicos. A tributária interessou a Estados, municípios, União etc. Agora, na trabalhista é outra história. Todo mundo no Brasil ou é empregado ou é empregador", disse Fausto.


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