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GOVERNO EM DESCOMPASSO
Jaques Wagner diz que projeto de mudança vai para Congresso neste ano; João Paulo descarta análise já
Reforma sindical opõe Planalto e Câmara
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Integrantes do governo e a presidência da Câmara continuam
em descompasso e não se entendem sobre o futuro das reformas
trabalhista e sindical.
Ontem, enquanto o ministro Jaques Wagner (Trabalho) afirmava que o cronograma do governo
está de pé, ou seja, a reforma sindical começaria a tramitar no
Congresso ainda neste ano, o presidente da Câmara, João Paulo
Cunha (PT-SP), rebatia, dizendo
que elas só caminharão em 2005.
Wagner participou de um debate com deputados e com o presidente do TST (Tribunal Superior
do Trabalho), Francisco Fausto,
sobre as reformas.
"Recebi uma missão do presidente, que é fazer o Fórum Nacional do Trabalho [órgão integrado
por representantes dos trabalhadores, das empresas e do governo] andar o mais rápido possível.
Na questão sindical, vamos concluir a proposta até o final deste
mês. Ela vai à Presidência, que deverá remetê-la ao Congresso",
disse o ministro ontem.
"Mandar, pode mandar, mas a
reforma trabalhista só [sai] em
2005", respondeu categoricamente o presidente da Câmara dos
Deputados, ao ser informado das
declarações do ministro do Trabalho.
As reformas sindical e trabalhista são tratadas oficialmente como
o próximo passo do governo no
Congresso. Por diversas vezes, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou essa intenção.
Anteontem, a Folha revelou a
posição de João Paulo, contrário à
discussão em 2004 por ser um ano
eleitoral. O Palácio do Planalto
não havia se manifestado até ontem sobre a posição do deputado.
"Do ponto de vista do Executivo, não tive nenhum diálogo com
o presidente ou com a Casa Civil
que estabelecesse um calendário
diferente daquele imaginado",
afirmou Wagner, que ressaltou
considerar como prioridade a reforma sindical.
"O número de 17 mil sindicatos,
que existe hoje, é uma pulverização muito grande. Existe sindicato de fachada e acaba que a negociação não tem o poder que deveria ter", disse o ministro.
Ano atípico
Wagner e João Paulo não se encontraram pessoalmente. "[O
adiamento] é uma coisa objetiva.
O ano que vem é atípico, só há
cinco meses de trabalho, a partir
de junho vamos entrar no processo eleitoral, e essa reforma é muito profunda, muito séria, mexe
com a vida de milhões de brasileiros", reforçou João Paulo.
Segundo ele, a reforma do Judiciário e possivelmente a reforma
política devem ser discutidas no
próximo ano, já que reuniriam
projetos que tramitam há bastante tempo no Congresso. "A reforma política está há dez anos aqui",
afirmou João Paulo.
"Verdadeira guerra"
O presidente do TST disse que
esperava uma votação ágil da reforma trabalhista, mas concordou com a opinião de João Paulo.
"Eu constato essa realidade,
acho difícil que a reforma seja votada neste ano e acho difícil ela ser
votada no ano que entra, que é
um ano eleitoral. A reforma trabalhista será uma verdadeira
guerra, ela interessa a todo mundo", afirmou Francisco Fausto.
Segundo ele, as reformas tributária e da Previdência, em tramitação no Senado, afetaram segmentos da sociedade, coisa que
não ocorreria com as questões
trabalhista e sindical.
"A reforma previdenciária interessou a uma parcela da população, os funcionários públicos. A
tributária interessou a Estados,
municípios, União etc. Agora, na
trabalhista é outra história. Todo
mundo no Brasil ou é empregado
ou é empregador", disse Fausto.
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