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JUDICIÁRIO
Maior racionalidade na aplicação de verbas e simplificação processual seriam meios de melhorar a Justiça
Especialistas dizem que faltam recursos
da Reportagem Local
Excesso de recursos processuais
e carência de recursos financeiros.
Esses são os dois principais problemas do Judiciário brasileiro, na
opinião da maioria dos especialistas ouvidos pela Folha.
"O Judiciário padece de insuficiência de meios e de conservadorismo na aplicação da moderna
tecnologia", afirma o professor titular de direito tributário da USP
(Universidade de São Paulo) Alcides Jorge Costa.
Neste ano, o orçamento da Justiça Estadual de São Paulo foi de R$
1,69 bilhão. O valor corresponde a
9,41% das receitas líquidas do Estado, já descontados o repasse aos
municípios e o pagamento de dívidas e precatórios (dívidas decorrentes de decisões judiciais).
O orçamento tem se mantido
quase inalterado desde 95. Era de
R$ 1,52 bilhão naquele ano e passou para R$ 1,61 bilhão em 96.
De 95 a 97, o valor subiu 11%. No
mesmo período, o número de processos em andamento no Estado
cresceu 51,8%: passou de 4,2 milhões, em janeiro de 95, para 6,4
milhões, em janeiro de 97.
Parte do conservadorismo tecnológico do Judiciário se deve à
ausência de investimentos.
Em 97, a rubrica "investimentos" ficou com o valor apenas simbólico de R$ 1, situação idêntica à
de 96, quando o valor foi de R$ 3,
segundo a assessoria da presidência do Tribunal de Justiça.
O problema não é, porém, só a
carência de recursos. Uma das deficiências mais graves apontadas
pelos especialistas é a ausência de
planejamento em sua aplicação.
"Os recursos são insuficientes,
mas poderiam ser usados de forma
mais racional", diz o juiz Dyrceu
Cintra Jr., presidente da Associação Juízes para a Democracia.
Disparidades
A maioria dos prédios de primeira instância da Justiça do Trabalho
em São Paulo funciona em edifícios precários. No da av. Rio Branco (centro), por exemplo, a fila para os dois elevadores costuma
avançar pela calçada do prédio.
Enquanto isso, o TRT (Tribunal
Regional do Trabalho) está instalado em um edifício bem mais
confortável na rua da Consolação.
O prédio onde funciona o STJ
(Superior Tribunal de Justiça), em
Brasília, tornou-se um caso clássico de desperdício de recursos no
Judiciário. Inaugurado em 1994,
custou US$ 171 milhões. O projeto,
do arquiteto Oscar Niemeyer, ocupa uma área de 136,5 mil m2. Entre
outros exageros, ele possui 77 gabinetes para 33 ministros.
"Há uma imensa irracionalidade administrativa", concorda o
promotor Ronaldo Porto Macedo
Jr.. Em sua opinião, a Justiça deveria adotar formas profissionais de
gestão e planejamento.
Simplificação dos processos
As soluções apontadas para a crise vão do aumento de recursos à
adoção da súmula vinculante, que
obriga os juízes de primeira instância a seguirem decisões do STF
(Supremo Tribunal Federal) em
determinados casos.
Mas uma das sugestões mais frequentes é a simplificação processual, com a diminuição dos recursos. De 10 especialistas ouvidos pela Folha, 8 defenderam essa saída.
"Há um fetiche do processo",
diz o juiz do Tribunal de Alçada
Criminal de São Paulo José Roberto Nalini. Segundo ele, 70% dos recursos que chegam aos tribunais
são resolvidos com discussões técnicas sobre aspectos processuais,
sem discussão do mérito do caso.
Os advogados Orlando Giacomo
Filho e Sílvio de Salvo Venosa, do
escritório Demarest e Almeida,
concordam. "A simplificação do
processo é essencial", diz Venosa.
A opinião é partilhada pelos juízes Cintra Jr., Wiliam Lima Cabral
e Pedro Garcia, pelo promotor Ronaldo Porto Macedo Jr. e pelo professor Alcides Jorge Costa.
O advogado Fernando Serec, do
escritório Tozzini, Freire, Teixeira
e Silva, discorda de seus colegas.
Em sua opinião, não há como simplificar o processo sem ameaçar os
direitos dos cidadãos que recorrem ao Judiciário.
O advogado Walter Ceneviva
também não vê na mudança legislativa a solução para a morosidade
da Justiça. "A curto prazo, a reforma da lei processual não tem nada
a ver com a eficiência do Judiciário."
(CLÁUDIA TREVISAN)
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