São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Roberto Wider Filho, que atuou no caso, diz que grupo político usou comissão para defender "quadrilheiros"

Promotores criticam CPI de Santo André

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Promotoria criminal e as testemunhas do suposto esquema de corrupção ligado à Prefeitura de Santo André criticaram duramente o trabalho dos vereadores da CPI. Disseram que o relatório final, entregue na última quarta-feira passada, serviu para "defender um grupo quadrilheiro".
No relatório de seis meses de trabalho, transcrito em cerca de 12 mil páginas, os cinco vereadores da CPI concluíram pela inexistência de um esquema de cobrança de propina e sugeriram uma investigação nas empresas de transporte urbano da família de Rosângela Gabrilli, uma das principais testemunhas do caso.
A empresária, em depoimento à Promotoria, acusou o vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza (PT), secretário afastado de Serviços Municipais, e outros cinco empresários de cobrarem R$ 40 mil por mês para que ela pudesse atuar no setor de transporte público da cidade.
"Um grupo político [de Santo André" utilizou um instrumento forte e consagrado do Poder Legislativo, que é a Comissão Parlamentar de Inquérito, para defender um grupo de quadrilheiros que atuava na prefeitura", afirmou o promotor criminal Roberto Wider Filho, um dos responsáveis pela investigação.
Para Wider Filho, os vereadores que estudaram os documentos e ouviram as testemunhas e os investigados só poderiam chegar a uma única conclusão: "de que realmente houve a cobrança de propina", afirmou.
"Não sei se por vontade própria ou alheia -isso eu não poderia dizer- mas os vereadores atuaram na produção de provas de defesa para uma organização criminosa. É a primeira vez que vejo isso acontecer em uma CPI", disse Wider Filho.

Empresária
Procurada pela Folha, Rosângela Gabrilli disse que o resultado da CPI não a surpreendeu. "Confio apenas no trabalho do Ministério Público e da Justiça. É um juiz que tem de decidir se as provas existem ou não, e isso um juiz já fez ao aceitar a denúncia [acusação formal]", afirmou a empresária.
A denúncia oferecida pelo Ministério Público em maio deste ano foi aceita em primeira instância. Além do vereador, os empresários Sérgio Gomes da Silva, Ronan Maria Pinto, Irineu Nicolino Bianco, Humberto Tarcísio de Castro e Luiz Marcondes de Freitas Júnior foram denunciados por formação de quadrilha e extorsão.
No dia 5 de novembro, o Tribunal de Justiça anulou a decisão judicial de primeira instância por entender que a Promotoria deveria ter ouvido os citados antes do oferecimento da denúncia à Justiça.
A investigação voltou para as mãos dos promotores, que deverão ouvir todos os citados, provavelmente em janeiro, para depois oferecerem uma nova denúncia.

Consciência tranquila
"Não sofri nenhuma pressão ou influência em meu trabalho. Agora, se a cobrança de propina não deixa recibo, não seremos nós, os vereadores, que iremos assinar esse recibo", afirmou o relator da CPI, o vereador Donizeti Pereira (PV).
"Dentro do meu limite humano, estou com a consciência tranquila", completou.
O vereador voltou a afirmar que o fato de os cinco membros da CPI pertencerem à base de sustentação da administração municipal petista não interferiu no resultado final dos trabalhos.
"Quando comecei a investigar, não tinha nenhuma opinião fechada. Ouvimos todas as pessoas e analisamos todos os documentos. Nosso trabalho foi o melhor possível", afirmou Pereira.


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