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Vaticano pede a bispo que encerre greve
D. Lorenzo Baldisseri, representante de Bento 16, enviou carta a d. Luiz Cappio; na BA e no DF, grupos anunciam "jejuns solidários"
Cappio diz que carta mostra preocupação com sua saúde e torce para ele interrompa greve o quanto antes, mas
não exige fim do protesto
Marco Aurélio Martins/Agência A Tarde
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Integrantes de movimentos sociais fazem homenagem ao bispo em frente à capela onde ele jejua |
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOBRADINHO (BA)
O representante do papa
Bento 16 no Brasil, núncio
apostólico d. Lorenzo Baldisseri, enviou ontem a d. Luiz Flávio Cappio, 61, carta em que pede ao bispo que termine o
quanto antes a greve de fome,
que já dura 18 dias. Ao mesmo
tempo, a nota da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil) convocando os cristãos
a se unirem ao bispo de Barra
(BA) animou os grupos que
apóiam o religioso.
À Folha Cappio disse que a
carta é "amiga, fraterna, mostra preocupação com a minha
saúde, torce para que eu interrompa o jejum o quanto antes e
volte ao trabalho na diocese,
mas não é uma mensagem do
Vaticano me mandando parar".
D. Aldo Pagotto, arcebispo da
Paraíba, comemorou a mensagem do núncio. Ele é contra a
greve de fome de Cappio, a favor do projeto de transposição
do governo e foi um dos religiosos brasileiros que pediram a
carta a d. Lorenzo: "A igreja reprova esse ato contra a própria
vida, esse ato que não é um jejum religioso, mas político".
Em 2005, d. Lorenzo também enviou carta a Cappio em
que pedia o fim da greve. Era
assinada pelo cardeal italiano
Giovanni Battista Re, "ministro" do papa que responde tanto pelos bispos de todo o mundo como pela América Latina.
À época, Cappio disse que não
colocou fim à greve por causa
da mensagem. Mas dois dias
depois de recebê-la, o religioso
encerrou o protesto.
Agora, o quadro é diferente
por causa da nota da CNBB em
apoio ao bispo.
Protestos, jejuns temporários e invasões de prédios públicos foram anunciados ontem em vários locais, como
atos de solidariedade ao bispo
após o chamado da entidade.
O recrudescimento das ações
foi comemorado pelas entidades que acompanham Cappio
na igreja de Sobradinho (a 540
km de Salvador). Todos temiam o isolamento do religioso
depois da reunião de quarta-feira, em Brasília, entre a cúpula da CNBB e o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
No encontro, Lula disse que
não paralisaria a obra de transposição das águas do rio São
Francisco, como reivindica o
bispo, e declarou que caberia à
igreja buscar uma solução para
acabar com a greve de fome.
Cappio, que tinha esperança
em um acordo, se surpreendeu
com a declaração. No mesmo
dia, conversou por telefone
com seu amigo, o presidente da
CNBB, d. Geraldo Lyrio Rocha.
Os dois voltaram a conversar
no dia seguinte. D. Geraldo
quis saber como estava a situação dele na cidade. Foi informado que a obra não havia sido
paralisada dois dias após a Justiça determinar sua suspensão,
por meio de liminar. O assunto
foi citado na nota.
Cappio acredita que as novas
mobilizações populares pressionarão ainda mais o governo.
"Quem parte para a guerra está
preparado para lutar. Estou
preparado."
Seus aliados já definiram as
formas de luta. Desde anteontem, o anúncio dos chamados
"jejuns solidários", realizados
por períodos determinados, se
intensificaram. Em Brasília, 15
pessoas ligadas ao MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) iriam ficar sem comer
na paróquia Santa Maria.
Em Salvador, manifestantes
anunciam uma vigília a partir
de hoje na praça da Sé. Em
Guanambi (BA) e Irecê (BA),
escritórios da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do
Vale do São Francisco) foram
invadidos por pessoas solidárias ao bispo de Barra.
A Via Campesina e pastorais
sociais promoverão um ato público em Brasília na segunda-feira. Os organizadores anunciam a presença dos atores Osmar Prado e Letícia Sabatella.
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