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FBI ajudará Brasil a abrir arquivos de Dantas
Instituto de Criminalística conclui que não tem condições de decifrar a senha que protege discos rígidos de banqueiro
Alguns policiais acreditam que não deve haver dados novos em HDs apreendidos, pois Dantas já sabia que era alvo de uma investigação
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, jogou a
toalha. Cinco meses depois de a
Polícia Federal ter apreendido
cinco discos rígidos de computador no apartamento do banqueiro Daniel Dantas, o órgão
concluiu que não tem condições de quebrar a senha que
protege os arquivos ali guardados. Vai pedir ajuda ao FBI, a
polícia federal dos EUA.
Esses discos não são os mesmos apreendidos em 2004 na
Operação Chacal. Os de 2004 já
foram abertos pelo Instituto de
Criminalística e seus dados são
usados na investigação que originou a Operação Satiagraha.
Para que as eventuais provas
produzidas pela abertura do
disco rígido tenham validade
no Brasil, a PF e o Ministério
Público Federal vão se valer de
um acordo que o país assinou
com os Estados Unidos em
2001 para remeter os discos.
Esse acordo, chamado MLat
(Mutual Legal Assistance
Treaty ou Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal), permite a troca de informações criminais entre os dois
países sem muita burocracia.
Foi por meio desse acordo, por
exemplo, que os EUA enviaram
um contêiner com documentos
bancários que permitiram que
a Justiça brasileira instaurasse
ações penais contra mais de
cem doleiros.
Não é exatamente uma vergonha, como imagina o senso
comum, que o Instituto Nacional de Criminalística não tenha
conseguido decifrar os códigos
que protegem os discos rígidos
encontrados no apartamento
de Dantas, dentro de um armário, num corredor que dá acesso ao quarto do banqueiro.
Dois especialistas em criptografia ouvidos pela Folha estimam que um arquivo bem protegido, com chaves de 128 bits,
por exemplo, podem consumir
anos de trabalho de um computador de grande porte para
que a senha seja quebrada.
Essas senhas são feitas com
combinações de zero e um, como toda a linguagem de computadores. Para se calcular a
possibilidade de combinações
de uma senha de 128 bits, por
exemplo, basta pegar o número
2 e elevá-lo a 128. Para se ter
uma idéia da ordem de grandeza, daria algo como o número
dez seguido de 128 zeros. Outra
comparação: as combinações
possíveis numa criptografia de
128 bits são maiores que o número de átomos do universo.
Ordem judicial
A PF e o Ministério Público
Federal têm um plano B caso o
FBI não consiga abrir os arquivos de Dantas -uma possibilidade nada remota nesse caso,
segundo peritos brasileiros.
O plano B prevê que a Justiça
americana peça à empresa que
produziu a criptografia usada
por Dantas para fornecer a senha. Numa comparação ligeira,
seria como pedir a um fabricante de cadeado que fornecesse a
senha de abertura.
Há precedentes legais nos
EUA para esse tipo de pedido. O
Departamento de Justiça dos
EUA já conseguiu ordens judiciais para que empresas que
trabalham com dinheiro virtual fornecessem a senha da
criptografia que protegia os arquivos porque havia suspeita
de que essa tecnologia era usada por terroristas.
A legislação criada após os
ataques de 11 de setembro de
2001 prevê que o dono de um
computador portátil forneça a
senha em vistorias em aeroporto caso o funcionário requisite.
Há policiais que são céticos
sobre a possibilidade de haver
dados novos nos discos rígidos
apreendidos no apartamento
de Dantas. A razão do ceticismo
é simples: o banqueiro sabia
que a PF o investigava antes
mesmo de a Folha noticiar a
existência da apuração, em
abril deste ano.
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