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JANIO DE FREITAS
Dois momentos
Ao que parece, do que viveu Paulo Egydio como operador de Geisel nada o marcou mais que o caso Vladimir Herzog
A NARRATIVA DO ex-governador
paulista Paulo Egydio Martins em seu vindouro livro de
memórias (mencionada na Folha
de domingo por Mônica Bergamo),
sobre o caso Vladimir Herzog, tem
um remoto antecedente carioca.
Já fora do governo, Paulo Edygio
viajou ao Rio e, como de costume
nessas ocasiões, marcou um almoço com o ex-deputado Gilberto
Azevedo, mais do que companheiro de política, seu velho amigo. Almoço no Timpanas, o tradicional e
hoje extinto português da rua São
José, no centro, que Azevedo, bom
conversador e bem informado, freqüentava em companhia de algum
convidado. Naquele dia não faltava
um convidado, jornalista levado
para conhecer o ex-governador.
Paulo Egydio teve participação
intensa, como operador de Geisel,
no período de maiores dificuldades
entre o general e o esquema de repressão militar em São Paulo. Mas,
ao que parece, de tudo o que viveu
e testemunhou então, nada o marcou mais do que o caso Vladimir
Herzog. Natural que, à época do
encontro no Rio, o assunto tivesse
longa presença. Não, porém, para
publicação. Nem seria mesmo o caso, nas circunstâncias da época e
nas peculiaridades temerárias do
assunto.
Foi uma narrativa pormenorizada que Paulo Egydio fez, do encontro que teve em um evento, quando
ainda não divulgada a morte de
Herzog, com o cônsul inglês em
São Paulo. Do qual ouviu a referência à perda de "um homem nosso"
na prisão do DOI-Codi, sem entender a expressão. E sem pressentir o
que a explicaria em seguida: "Era
agente nosso".
Ao narrar o diálogo, Paulo Edygio continuava atônico com o episódio, não tinha nenhuma comprovação do dito pelo cônsul, nem
consta que tenha jamais aparecido
um indício ou suspeição a respeito,
a não ser para quem assim considerou o período de Herzog na Inglaterra. Resta aguardar a memória
organizada por Paulo Egydio para
a história, com a expectativa de
que, sobretudo em outros assuntos, honre a oportunidade a que
seus correligionários têm fugido,
ou ludibriado.
Uma linha telefônica especial,
entre o Palácio dos Bandeirantes, o
Planalto e o Alvorada, servia a parte das tarefas de Paulo Egydio na
colaboração a Geisel.
Até hoje ele não sabe de um pequeno incidente proporcionado
pela tal linha, e muito ilustrativo
daquele período.
Foi na paulistana avenida Angélica, em casa de um grande jornalista, por 25 anos integrante da Folha e, então, já aposentado. O telefone deu uns escalos esquisitos e
Noé Gertel, por curiosidade, pegou
o fone. Ouviu um diálogo breve. De
um lado, era Paulo Egydio, que dizia em seguida a rápido cumprimento: "Houve mais um". Na outra
ponta, Geisel responde: com uma
imprecação. Depois, duro e veloz:
"Desliga e mantém sigilo". E bateu
ele o telefone. Nem a linha especial
era muito especial. E os trapalhões
das escutas policiais-militares, menos ainda.
Não tardou, o general Ednardo
D'Avila Mello, comandante do 2º
Exército, era destituído por Geisel.
Para muitos, data desse ato o inicio
do êxito (relativo) de Geisel sobre a
repressão militar.
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