São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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Lula afirma que Citibank não é tão competente quanto dizia

Presidente se esquiva de falar sobre situação cubana e cita como pretexto caso de banco

Em encontro com Fidel, que durou duas horas e meia, o brasileiro disse que o cubano está pronto para "retomar seu papel político"

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Lula e Sergio Gabrielli (Petrobras), em frente a painel de Che


LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

Integrante declarado da geração que, segundo ele, é "apaixonada pela Revolução Cubana", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não daria palpites sobre o regime cubano até porque "quem dá muito palpite quebra a cara". Em vez de Cuba, Lula preferiu criticar o Citibank, banco americano que teve prejuízos de quase US$ 10 bilhões.
"Eles [Citibank], que davam tanto palpite sobre como administrar os países e as coisas, quando chegou a hora de provarem suas competências, eles demonstraram que não têm tanta competência quanto falavam", afirmou Lula na Embaixada do Brasil em Havana ao ser questionado sobre eventual abertura política na ilha. O Citibank disse por meio de sua assessoria no Brasil que não vai comentar a declaração.
Sobre Cuba, Lula afirmou que o Brasil não quer criar nenhuma "pirotecnia anticubana", ao ser questionado sobre o tema dos direitos humanos na ilha, especificamente sobre dois casos recentes. Um deles é o dos boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara. Eles viajaram ao Brasil para participar do Pan. Detidos pela Polícia Federal no Rio, acabaram embarcados rumo a Cuba.
Outro caso é dos músicos que pleiteiam refúgio no Brasil. Em dezembro, Miguel Costafreda, Juán Díaz e Arodis Pompa viajaram ao Brasil para se apresentar, fugiram da pousada em Recife e pediram refúgio na PF. Lula negou que os boxeadores tenham manifestado desejo de ficar no Brasil, porque, segundo ele, não pediram asilo, e disse que o Brasil resolveu as questões dentro do previsto em lei. "Nós não queremos contribuir para cercear a liberdade das pessoas quererem escolher o país que vão morar, mas também não queremos criar nenhuma pirotecnia anticubana como de vez em quando se tenta criar no mundo", afirmou.
Lula se encontrou ontem com o ditador Fidel Castro, 81. Depois da reunião, de duas horas e meia, o brasileiro afirmou que o cubano "está com uma saúde impecável" e pronto para "retomar seu papel político". Lula fez as declarações por volta das 21h30 (0h30 no horário de Brasília), ao chegar ao aeroporto José Marti, em Havana, junto com Raúl Castro, 76, irmão de Fidel que assumiu o poder de forma interina.
No comunicado à imprensa, Lula falou sobre a alegria de ter encontrado Raúl e Fidel. Disse que conversou sobre vários assuntos com o ditador cubano. "Um homem que está com uma lucidez incrível. Que está com uma saúde impecável a ponto de eu dizer a um jornalista cubano que, se um dia ficar doente, quero ter a mesma capacidade de falar que teve o Fidel comigo", afirmou Lula, que retornou em seguida ao Brasil. O brasileiro disse que convidou Raúl a visitar o Brasil, mas lamentou que o cubano não possa vir para o Carnaval.
Doente, Fidel está afastado do poder desde 2006. "Tenho carinho especial pelo Fidel. Venho a Cuba desde 1985, houve tempo em que eu vim a Cuba todo ano", havia dito Lula antes do encontro. Após um encontro reservado com Raúl, Lula afirmou que "é sempre hora de investir em Cuba". Mas, na prática, o volume de investimentos firmados efetivamente ficou aquém do que vinha sendo falado por negociadores brasileiros.
Brasil e Cuba assinaram acordo nas áreas de vigilância sanitária de medicamentos, saúde em geral e para análise da rede subterrânea de águas. Não foram anunciadas cifras de investimentos brasileiros no país. O ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento) confirmou crédito de US$ 100 milhões, com direito a mais US$ 100 milhões para que a ilha compre alimentos do Brasil. A Petrobras assinou três acordos de cooperação com a cubana Cupet.


Os jornalistas LETÍCIA SANDER e EDUARDO KNAPP voaram da Guatemala a Cuba a convite da Presidência, devido à ausência de vôos comerciais com horários compatíveis com a cobertura da viagem de Lula


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