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Judiciário ameaça governo contra corte no Orçamento
Argumento é que arrecadação vai diminuir; tribunais querem decidir onde cortar
Marco Aurélio Mello, do TSE, não participou de encontro, que reuniu membros de tribunais superiores; ele não foi avisado diretamente
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra
Ellen Gracie, disse ontem que
uma redução profunda no Orçamento do Judiciário para
2008 afetará também a arrecadação do Executivo. O argumento, apresentado durante
reunião com representantes de
três tribunais superiores, foi
ilustrado com números do Tesouro Nacional e endossado pelos participantes do encontro.
O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Marco Aurélio Mello, que
está em férias no Rio, não participou. A Folha apurou que ele
não foi comunicado diretamente sobre a reunião, o que,
segundo ele, "contribuiu para
não emprestar importância" ao
encontro. Mello reclamou da
falta de uma pauta específica.
Segundo exposição feita na
reunião, o Judiciário custou à
União, em 2006, cerca de
R$ 12,9 bilhões -descontando
o imposto de renda e contribuição patronal dos servidores,
que eleva o valor para R$ 17,8
bilhões. O paradoxo, dizem, é
que a Justiça Federal conseguiu reaver aos cofres do governo, mediante ações judiciais, cerca de R$ 13 bilhões.
Portanto, um corte profundo
no Judiciário, argumentam,
prejudicaria também a arrecadação do Executivo.
"O bom funcionamento do
Judiciário é bom para o Estado", disse à Folha o ministro
José Coelho Ferreira. Os participantes, porém, declararam
não ser contra os cortes, mas
"desde que sejam feitos pelos
próprios órgãos", e não pelo governo ou pelo Congresso.
O governo Lula pretende reduzir R$ 20 bilhões no projeto
orçamentário de 2008, forma
de compensar o rombo causado pelo fim da CPMF.
Ellen Gracie pediu para que
cada tribunal analisasse onde
será possível cortar gastos, inclusive investimentos, e que
apresente a proposta à Comissão Mista de Orçamento até o
dia 31 deste mês. Antes de levar
os números ao Congresso uma
nova reunião será agendada no
Judiciário. O relator-geral do
Orçamento, deputado José Pimentel (PT-CE), prometeu
apresentar o projeto final em
12 de fevereiro.
Além de Gracie, estiveram
no encontro o presidente do
STJ (Superior Tribunal de Justiça), Raphael Monteiro de
Barros Filho, o presidente do
TST (Tribunal Superior do
Trabalho), Rider Nogueira de
Brito, o vice-presidente do
STM (Superior Tribunal Militar), José Coelho Ferreira, e o
presidente do TJ (Tribunal de
Justiça) do Distrito Federal,
Lécio Resende da Silva -o tribunal do DF é o único que conta com Orçamento federal.
Agruras
O STF, via assessoria, informou que a reunião realizada
ontem com representantes dos
tribunais superiores foi convocada a pedido deles. Marco Aurélio Mello, que não compareceu, negou. "Não pedi reunião
nenhuma. Se eles pediram, não
tive conhecimento", disse.
Apesar das queixas, Marco
Aurélio assegurou não haver
nenhum desentendimento entre ele e a presidente do STF.
"Estamos afinados. Além do
mais, ninguém melhor do que
ela, a chefe do Poder Judiciário,
para saber sobre as agruras do
Orçamento", declarou.
Mello retorna hoje a Brasília.
Ele se disse pronto para participar de uma nova reunião.
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