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Requião faz cena em TV para criticar Justiça
Governador corta sua própria voz em programa de canal estatal em protesto à decisão judicial que o proíbe de fazer promoção pessoal
Juiz federal diz que só tenta vetar mau uso da emissora e que não se trata de censura; telespectador era conduzido a canal de secretário do PR
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Para protestar contra o juiz
federal que o proibiu de atacar
adversários pela TV Educativa
do Paraná, o governador Roberto Requião (PMDB) cortou
sua própria voz no programa
"Escola de Governo", uma reunião semanal transmitida pela
emissora para anúncio de obras
e projetos das secretarias estaduais. Quando Requião se manifestava, o som era cortado e
uma tarja com a palavra "censurado" era colocada na tela.
Foi a primeira exibição do
programa desde que o juiz Edgard Lippmann Júnior, do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, atendeu na semana
passada parte de um recurso da
Procuradoria em Curitiba, que
acusa Requião de usar a TV estatal para promoção pessoal e
ataques a adversários, mídia,
juízes e Ministério Público. O
juiz proibiu as críticas, mas não
suspendeu o programa, como
pedia a Procuradoria.
Na exibição, além da tarja,
uma mensagem associava o silêncio de Requião à decisão do
juiz e avisava que o pronunciamento poderia ser acompanhado sem cortes de áudio na emissora Canal 21, do empresário
Luiz Mussi, secretário especial
do governo. Procurado pela Folha, Mussi não ligou de volta.
O programa começou ontem
com depoimentos gravados em
solidariedade ao governador e
de repúdio à ordem judicial.
Entre os que criticaram a decisão, estavam o senador Pedro
Simon (PMDB-RS); o líder do
MST João Pedro Stédile; o ex-assessor do presidente Lula
Frei Betto; e os presidentes da
Fenaj (Federação Nacional dos
Jornalistas), Sergio Murillo de
Andrade, e da ABI (Associação
Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo.
"A censura é uma prática
abominável que tivemos nos 21
anos de ditadura militar", afirmou Frei Betto.
Ao final das declarações, Requião foi anunciado para falar.
Enquanto as câmeras o mostravam conversando com a platéia, o som era cortado e aparecia a mensagem de censura. O
áudio voltava quando os secretários iam a um púlpito falar sobre suas pastas. Quando Requião conversava com eles, o
som era interrompido de novo.
Em entrevista, o governador
criticou o Judiciário. "Querem
me transformar num divulgador de receitas de bolo, como
aconteceu na ditadura", disse,
numa referência à publicação
de receitas pelo jornal "O Estado de S. Paulo" em protesto pelas notícias retiradas pelos censores do regime.
Outro lado
O juiz Edgard Lippmann Júnior disse à rádio CBN que sua
decisão não impede Requião de
falar. "O que fizemos no processo foi vedar o mau uso da TV
Educativa. Nunca impedi o governador de falar." Procurado
pela Folha, ele afirmou que
não daria mais entrevistas.
O juiz disse que vai aguardar
manifestação do Ministério
Público para analisar se o teor
do programa de ontem extrapolou a determinação judicial.
"Se ficar caracterizado que isso
se constitui numa afronta, vai
ser analisado por mim, porque
já existe uma multa prevista
[de R$ 50 mil por cada agressão]", disse Lippmann Júnior.
O juiz disse lamentar críticas
de Requião sobre a decisão. Ele
afirmou que recusa o convite
feito pelo governador do Paraná para debater a decisão no
programa.
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