|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para senador italiano, Tarso disse "umas cretinices"
Carta do parlamentar foi usada para justificar decisão
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"O ministro da Justiça disse
umas cretinices", afirmou ontem o senador e ex-presidente
da Itália Francesco Cossiga, 80,
em entrevista por telefone à
Folha sobre os argumentos de
Tarso Genro para conceder o
asilo político a Cesare Battisti.
O político redigiu uma carta
utilizada por Tarso Genro como uma das principais justificativas para a decisão da última
terça-feira. No texto, enviado
ao governo pelos advogados de
Battisti, Cossiga diz que os quatro assassinatos cometidos entre 1978 e 1979 não foram crimes comuns, mas políticos.
"Battisti usou a carta de uma
forma absolutamente equivocada. Na Itália o crime político
é um agravante. Foi isso que eu
quis dizer", disse Cossiga. "Entre um que assalta um banco
para pôr o dinheiro no bolso e
outro que rouba para financiar
a Al Qaeda, o segundo é condenado de forma mais dura, seja
pela legislação italiana, alemã,
francesa ou britânica".
Para o italiano, Battisti é
"certamente" um terrorista -
"isso eu não tenho dúvida nenhuma". Ele também nega
qualquer possibilidade de perseguição política contra o ex-militante do PAC (Proletários
Armados pelo Comunismo).
"O ministro disse umas cretinices [na decisão]. Disse, por
exemplo, que Battisti correria
risco de vida, porque se voltasse
para a Itália os serviços secretos paralelos o matariam", comentou. "Tudo besteira, coisas
sem sentido. Por caridade, isso
é coisa do passado sul-americano. Da Argentina, do Brasil na
época da ditadura."
Tal preocupação, no entanto,
não foi apresentada por Tarso,
mas pelo próprio Battisti ao
alegar a perseguição que poderia sofrer caso fosse extraditado. A assessoria de imprensa do
Ministério da Justiça afirma
que o ministro não levou em
conta tal argumentação ao decidir sobre a questão.
Cossiga disse que o PT e o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva "não poderiam se voltar
contra toda a esquerda da América do Sul". "A legenda de Lula,
que se faz de democrático na
Europa, é no fundo um partido
populista católico. Na Itália nós
os chamamos de "cato-comunistas'", disse. "Os grandes aliados do governo Lula são apenas
os países antiamericanos da
América do Sul", completou.
Cossiga é um histórico integrante da Democracia Cristã,
ala de centro-esquerda da política italiana. Ele foi presidente
da Itália entre 1985 e 1992.
Durante os anos em que Battisti atuou pela extrema esquerda italiana, Cossiga foi ministro do Interior, órgão responsável pela polícia italiana.
No cargo, foi um dos autores
da legislação que possibilitou a
condenação de Battisti à prisão
perpétua, mesmo sem sua participação no processo judicial.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Janio de Freitas: A esmo e a granel Índice
|