São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

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Para senador italiano, Tarso disse "umas cretinices"

Carta do parlamentar foi usada para justificar decisão

FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"O ministro da Justiça disse umas cretinices", afirmou ontem o senador e ex-presidente da Itália Francesco Cossiga, 80, em entrevista por telefone à Folha sobre os argumentos de Tarso Genro para conceder o asilo político a Cesare Battisti.
O político redigiu uma carta utilizada por Tarso Genro como uma das principais justificativas para a decisão da última terça-feira. No texto, enviado ao governo pelos advogados de Battisti, Cossiga diz que os quatro assassinatos cometidos entre 1978 e 1979 não foram crimes comuns, mas políticos.
"Battisti usou a carta de uma forma absolutamente equivocada. Na Itália o crime político é um agravante. Foi isso que eu quis dizer", disse Cossiga. "Entre um que assalta um banco para pôr o dinheiro no bolso e outro que rouba para financiar a Al Qaeda, o segundo é condenado de forma mais dura, seja pela legislação italiana, alemã, francesa ou britânica".
Para o italiano, Battisti é "certamente" um terrorista - "isso eu não tenho dúvida nenhuma". Ele também nega qualquer possibilidade de perseguição política contra o ex-militante do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo).
"O ministro disse umas cretinices [na decisão]. Disse, por exemplo, que Battisti correria risco de vida, porque se voltasse para a Itália os serviços secretos paralelos o matariam", comentou. "Tudo besteira, coisas sem sentido. Por caridade, isso é coisa do passado sul-americano. Da Argentina, do Brasil na época da ditadura."
Tal preocupação, no entanto, não foi apresentada por Tarso, mas pelo próprio Battisti ao alegar a perseguição que poderia sofrer caso fosse extraditado. A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça afirma que o ministro não levou em conta tal argumentação ao decidir sobre a questão.
Cossiga disse que o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não poderiam se voltar contra toda a esquerda da América do Sul". "A legenda de Lula, que se faz de democrático na Europa, é no fundo um partido populista católico. Na Itália nós os chamamos de "cato-comunistas'", disse. "Os grandes aliados do governo Lula são apenas os países antiamericanos da América do Sul", completou.
Cossiga é um histórico integrante da Democracia Cristã, ala de centro-esquerda da política italiana. Ele foi presidente da Itália entre 1985 e 1992.
Durante os anos em que Battisti atuou pela extrema esquerda italiana, Cossiga foi ministro do Interior, órgão responsável pela polícia italiana.
No cargo, foi um dos autores da legislação que possibilitou a condenação de Battisti à prisão perpétua, mesmo sem sua participação no processo judicial.


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