São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

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Lula desiste de apoiar fim da reeleição e mandato de 5 anos

Presidente diz a Suplicy que a experiência mostrou que o atual sistema é bom

Avaliação do Planalto é que mudança da regra agora iria beneficiar a oposição, já que possibilitaria acordo entre os tucanos Serra e Aécio


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou de opinião sobre o fim da reeleição e a criação do mandato presidencial de cinco anos sem direito à recondução, posição que vinha defendendo publicamente desde antes de sua chegada ao poder.
A Folha apurou que o governo federal não se empenhará para aprovar a proposta em tramitação na Câmara dos Deputados para acabar com a reeleição. Para o Palácio do Planalto, a ideia beneficiaria somente a oposição.
Nas palavras de um ministro, a medida "serviria para organizar a fila no PSDB".
Traduzindo: atenderia ao interesse da cúpula tucana de tentar patrocinar um acordo entre os dois presidenciáveis do PSDB, os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves.
Articulado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, esse acordo prevê que Aécio ceda a vez da candidatura tucana a Serra em 2010 em troca de apoio para disputar o Palácio do Planalto em 2015.
O ex-presidente avalia que o fim da reeleição também o ajudaria a convencer o governador mineiro a aceitar ser vice de Serra, o que Aécio, atualmente, descarta.
O presidente Lula já teve interesse no final da reeleição, mas tem dito em conversas reservadas que acha que a prática da reeleição no Brasil mostrou que a regra é boa.
O presidente falou isso textualmente ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP) em uma conversa na última segunda-feira, durante um voo de São Paulo para Brasília.

Dilma
Em tese, o fim da reeleição seria conveniente a Lula, que deu sinais inequívocos de que embarcou de vez na candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Caso Dilma vença em 2010 sob a nova regra, ela não poderia concorrer em 2015 e deixaria aberta a chance de Lula tentar então um terceiro mandato.
Muitos petistas dizem que a lealdade de Dilma ao presidente a levaria a desistir de buscar eventual reeleição na hipótese de Lula querer concorrer de novo ao Palácio do Planalto.
Sem o empenho do governo, dificilmente será aprovado o fim da reeleição ainda na gestão do petista. Um eventual acordo pelo qual Aécio venha a desistir de disputar a Presidência em 2010 depende do empenho de Serra para acabar com a reeleição caso conquiste o Planalto.
Para o governo, é melhor estimular a tensão entre Serra e Aécio do que bancar o fim da reeleição e facilitar eventual entendimento entre os dois.


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