|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A REVANCHE DOS 300
Novo presidente da Casa diz que sua eleição é o "alvorecer de um novo tempo", após excesso de MPs que imobilizou o Congresso
Severino critica o governo na sua estréia
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O novo presidente da Câmara,
Severino Cavalcanti (PP-PE), afirmou ontem, em discurso na abertura do ano legislativo, que sua vitória simboliza um "alvorecer de
um tempo novo", após um período de imobilismo causado pelo
excesso de medidas provisórias e
pela "inquietude" de parlamentares que não tinham participação
efetiva na Casa.
As críticas de Severino ao governo foram duras, mas não tiveram
tom agressivo. Porém ele deu o
recado claro de que a Câmara
quer assumir o papel pretendido
pelo governo de centralizar os debates nacionais, "renovar a esperança" e atender o anseio do povo
por mudanças.
"[Esta Casa] luta pela retomada
de suas prerrogativas, abaladas
pela desenvoltura com a qual o
Poder Executivo edita medidas
provisórias, que, do ponto de vista operacional, provocam o trancamento da pauta, imobilizando
o Congresso Nacional", disse Severino, em discurso lido.
Ao sair do plenário, ele amenizou o tom de afronta. "Não estou
aqui para atropelar o presidente
da República, só irei exigir que haja respeito ao Poder Legislativo."
Antes da cerimônia, pela manhã, Severino havia criticado a
medida provisória 232, editada no
último dia de 2004, que aumentou
tributos de prestadores de serviço
e sofreu críticas da oposição e de
empresários. "Não vou deixar os
pequenos empresários à mercê
das vontades dos tecnocratas. Lula é um grande brasileiro e não
pode fazer com o que os pequenos empresários sejam penalizados", disse Severino.
Sobre a promessa de lutar pela
equiparação do salário dos deputados à remuneração de ministros
do STF, disse: "Vou manter minha palavra, cumprir a Constituição e dar aos deputados as condições de exercer o mandato".
Na abertura de sua fala, Severino deu o tom da cerimônia, que
considerou ser "uma demonstração viva da independência e da
harmonia dos Poderes". Foi
aplaudido cinco vezes.
Registrou o que foi considerado
o trampolim de sua candidatura:
a insatisfação generalizada da
maioria dos deputados.
"Posso assegurar que há certa
inquietude entre os membros da
Câmara por um motivo relevante:
querem as senhoras e os senhores
deputados ter participação efetiva
na elaboração de leis", disse,
ecoando as reclamações de sua
base no baixo clero.
O discurso começou um pouco
tímido, mas ganhou embalo com
frases de efeito. "A mudança havida na Câmara indica o alvorecer
de um tempo novo. O fortalecimento da esperança, palavra quase mágica e que tem movido o
sentir de nosso povo, sinaliza uma
consciência de mudança, muito
adiada e muito aguardada". Ao final, com os braços abertos, Severino pediu ajuda de Deus para trilhar o caminho da grandeza.
Antes de seu discurso, o ministro José Dirceu (Casa Civil) fez a
entrega da mensagem presidencial ao Congresso Nacional, cuja
carta foi lida pelo deputado Inocêncio Oliveira. Nela, o presidente
Luiz Inácio da Silva elogiou a independência do Legislativo.
Em seguida, discursaram o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, e o novo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que reforçou a
crítica ao excesso de MPs e a necessidade de aprovar a reforma
política. "Não se trata mais de
abrir a caixa-preta da política. A
nossa obrigação é jogar essa caixa-preta no lixo da história. É nosso dever construir uma nova caixa, que não seja apenas aberta,
mas também transparente."
Depois da cerimônia, Severino
foi até o gabinete presidencial para se instalar. Foi rodeado pela
mulher, filhos e netos enquanto
deputados faziam uma romaria
para cumprimentá-lo. Entre os visitantes, lideres do PMDB oposicionista, Anthony Garotinho e
Michel Temer (PMDB-SP).
Dirceu saiu do Congresso sem
falar com a imprensa -delegou a
Aldo Rebelo (Articulação Política) a tarefa de dar explicações pela
derrota de Greenhalgh.
Texto Anterior: A revanche dos 300: Presidente eleito guarda patrimônio em dinheiro vivo Próximo Texto: "Vamos cuidar de coisas grandes", afirma Jobim Índice
|