São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

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O FUTURO

Severino faz governo temer por Lula em 2006

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para presidente da Câmara, a maior derrota do governo no Congresso, acendeu o sinal amarelo em relação ao projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e desencadeou fatos que devem dar novo molde à reforma ministerial aguardada.
Para membros das cúpulas do governo e do PT, Lula deve usar a reforma ministerial pensando menos na governabilidade no Congresso e mais na solidificação de acordos partidários para garantir apoio à sua reeleição.
Ou seja, Lula deve adotar uma agenda congressual enxuta, para ser menos dependente de Severino, cuja vitória catapulta ao comando da Câmara o chamado baixo clero, grupo de parlamentares de pouca expressão que vota com governos em troca de verbas e cargos. Pode ficar caro negociar com o novo comando da Casa.
Mais: há efeitos da desarticulação política na Câmara que podem mudar a correlação de forças nos partidos aliados e trazer novos atores ao centro das decisões. Os maiores exemplos estão no PP e no PMDB. Severino é do PP, partido aliado que sonhava com um ministério. No PMDB, a ala governista enfrenta adversidades.
Ontem, por exemplo, havia maioria na bancada para derrubar o atual líder do PMDB, José Borba (PR), membro da ala governista. Aliados de Borba tentavam tirar nomes da lista. Até as 18h30 de ontem, a bancada do PMDB tinha 90 deputados -desses, 46 pela saída de Borba em benefício do oposicionista Saraiva Felipe (MG). Ou seja, Lula não sabe se pode contar com seus atuais aliados no PMDB, o que tem efeito direto sobre o xadrez da reforma ministerial.
O ministro Eunício Oliveira (Comunicações), de quem Lula gosta, está no cargo ancorado na presença de Borba na liderança e o conseqüente apoio de parte da bancada ao governo.
Se Saraiva confirmar a operação de derrubada, Eunício se enfraquecerá e sofrerá bombardeio do próprio PMDB.

PT x Aldo
A derrota na Câmara reativou a articulação do PT para tentar derrubar o ministro Aldo Rebelo da pasta da Coordenação Política.
Os ataques agora se concentram menos na pessoa de Aldo e numa divergência específica dele com o ministro José Dirceu (Casa Civil) e mais na avaliação de que o PT precisa controlar um posto tão estratégico.
Até petistas que defendem Aldo afirmam que falta ao ministro autoridade para agir sobre a base de sustentação política do governo no Congresso.
Os críticos de Aldo no PT afirmam, nos bastidores, que o ministro fez jogo duplo, apostando também na possibilidade de vitória do dissidente petista Virgílio Guimarães e, portanto, numa derrota do petismo oficial.
Virgílio conseguiu o apoio de parte da base de sustentação do governo, justamente a fatia que faltou a Greenhalgh.
No Senado, o PT fez um acordo com aliados -no caso, o recém-eleito presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL)- e não enfrentou problemas.
Ou seja, as dificuldades, na visão dos aliados do ministro da Coordenação Política, começaram a explodir na Câmara dos Deputados porque o PT, por problemas internos, bancou a candidatura de Greenhalgh sem costurar direito internamente (vide Virgílio), o que lhe tirou autoridade para cobrar apoio dos aliados.


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