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Testemunhas dizem ter recebido ameaças de morte
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ANAPU (PA)
Dois trabalhadores rurais listados como testemunhas no inquérito que investiga o assassinato da
freira norte-americana Dorothy
Stang, 74, disseram ter recebido
ameaças de morte do fazendeiro
Vitalmiro Bastos de Moura,
apontado como suspeito de ser o
mandante do crime, ocorrido no
sábado, em Anapu, oeste do Pará.
As testemunhas pediram e passaram a receber, ontem, segurança da Polícia Civil de Anapu. Os
dois contam que receberam "recados" enviados pelo fazendeiro,
conhecido como Bida, segundo
os quais eles seriam mortos se
comparecessem à Polícia Federal
para depor sobre o caso. Os recados foram dados por outros trabalhadores rurais que moram na
região. O fazendeiro teve a prisão
decretada e está foragido.
Sindicalistas e trabalhadores rurais da região dizem que o clima é
de tensão e medo. O presidente
do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Anapu, Francisco de
Assis dos Santos Souza, disse que
dois homens foram à casa de seu
pai, anteontem, e ameaçaram toda a sua família de morte.
A fazenda de Moura fica na gleba Bacajá, área reivindicada por
220 famílias que seriam assentadas no PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentado) Esperança,
local em que a religiosa foi morta,
ao sul da sede de Anapu e às margens da rodovia Transamazônica.
A implantação do PDS pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), como
Dorothy pedia desde 99, resultaria na retirada de Moura da área.
As testemunhas ameaçadas são
trabalhadores rurais que participaram de uma reunião com a religiosa americana na sexta-feira,
um dia antes da morte dela, dentro do PDS Esperança.
Na reunião, ela expôs a cerca de
30 pessoas ações do projeto. As
testemunhas disseram que estavam no encontro três dos quatro
acusados de autoria do crime.
A testemunha J.S.L., 53, afirmou
em depoimento à polícia que a
ameaça ocorreu anteontem. "Me
avisaram ontem [anteontem] na
minha casa que os fazendeiros
disseram que aqueles que os "dedaram" iam ser mortos. Iam me
matar se eu viesse na Polícia Federal. Mas eu confio em meu Deus",
disse à polícia ontem.
Às 17h de ontem, equipes da polícia trouxeram a Anapu outro
trabalhador do PDS Esperança,
cujo nome não foi revelado, também ameaçado. Ele disse que preferia ficar na própria delegacia a
ter de voltar ao assentamento.
O delegado Marcelo de Souza
Luz, da delegacia de Anapu, informou ontem que ainda não sabia
em que local colocaria as testemunhas. Na 3ª Companhia da Polícia
Militar, já está desde domingo a
testemunha ocular do assassinato, C.B.C., 49. "O que não podemos é deixar essas pessoas morrerem", disse Luz.
Enterro
O corpo de Dorothy Stang foi
enterrado ontem em Anapu. O
cortejo saiu da Igreja de Santa Luzia às 11h15 e percorreu a rodovia
Transamazônica por 2 km, até
chegar ao Centro de Formação
São Rafael, onde foi rezada a missa de corpo presente.
"A irmã Dorothy foi assassinada por aqueles que querem a
Amazônia para si, que querem
explorá-la sem trégua", disse o
bispo da prelazia do Xingu, Erwin
Krautler, que celebrou a missa em
companhia do bispo do Maranhão, Xavier Gilles.
"Aqui é terra sem lei, quem
manda aqui é o [revólver] 38.
Quando não dá para resolver o
caso por ameaça, eliminam mesmo", disse Krautler.
Às 14h20, o corpo da religiosa
foi enterrado numa área de floresta. "Dorothy não vai ser sepultada, ela vai ser plantada. O sangue
dela não foi derramado em vão. A
luta continua", disse a missionária Julia Depweg, amiga de Stang.
O governador do Acre, Jorge
Viana (PT), compareceu representando o governo federal, e o
senador Eduardo Suplicy (PT-SP), o Congresso. Também estavam presentes a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) e o deputado
federal Babá (PSOL-AL). Segundo a PM, 6.000 pessoas acompanharam a cerimônia.
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