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JANIO DE FREITAS
O método do milagre
Quem se espantou com a
pesquisa Sensus encomendada pela Confederação Nacional
dos Transportes, a ponto de alguns a quererem sob investigação,
não se deu conta de que a principal contribuição da pesquisa não
é à disputa eleitoral, é à fé. Se você
está entre os que não acreditam
em milagre, pode entregar os pontos: os seus nada mais valem
diante dos pontos percentuais que
o Sensus apresenta.
Sempre é possível demonstrar
mais fascínio ao já suscitado por
um milagre, o que explica as observações, modestas embora, que
acrescento às feitas por vários
doutos. Começo por notar que a
coleta de opinião pelo Sensus se
deu entre 6 e 9 de fevereiro, mas a
divulgação do resultado só veio
no dia 14, anteontem. Ou, para facilitar a memorização da data, no
dia dos 26 anos do PT eleitoralmente festejados por Lula junto
aos companheiros, delubianos ou
não.
Outra data útil: a sondagem do
mais recente Datafolha deu-se
nos dias 1º e 2 de fevereiro. Logo,
daí à sondagem do Sensus o intervalo foi de apenas quatro dias. O
que houve de especial nesses quatro dias? Nada. Bem entendido,
nada aos nossos olhos e ouvidos
vulgares. Porque a pesquisa Sensus detectou uma revolução formidável, ocorrida em algum instante daqueles quatro dias, no
sentimento e na opinião política
do eleitorado de 24 Estados. (A
propósito, o Brasil costuma ter 26
Estados, mas a "explicação metodológica" do Sensus refere-se a
sondagem em 24, sem esclarecer
se os excluídos foram Sergipe e
São Paulo, Minas e Amapá, ou
quais outros. Nem constou citação ao Distrito Federal).
Pois bem, no intervalo de quatro dias o apoio a Lula, para hipotético 1º turno, passou de 33% no
Datafolha para 40,2% no Sensus.
Sete pontos que indicariam mudança de opinião em cerca de
20% do eleitorado, nas presumíveis 96 horas sem fatos de relevância. Serra, naturalmente, despencou, ou o milagre ficaria pela metade: seus 34% no Datafolha minguaram para 28,6%. Mas, curioso, os eleitorados de Garotinho e
Heloísa Helena não foram incluídos no milagre da volatilidade: os
10% do primeiro ficaram em
10,5% e os 6% dela só perderam
um ponto percentual apagado pela margem de erro.
Os créus sempre disseram que
milagre precisa de comprovação.
Lá está na pesquisa Sensus, sob a
forma de 2º turno. Nos quatro
dias de intervalo, Serra descamba
de vitoriosos 49% no Datafolha
para humilhados 37,6% no Sensus, ao passo que Lula vai dos 41%
identificados pelo Datafolha para
celestiais 47,6% no Sensus. O eleitorado aderiu a Lula até enquanto dormia.
Com Alckmin na lista, em lugar
de Serra, Lula vai de 36% para
42,2%, ao passar do Datafolha
para o Sensus. Alckmin cai dos
20% no Datafolha para 17,4% no
Sensus. Os eleitores da Garotinho
e Heloisa Helena insistem em não
se envolver em milagre. E já que
definitivo é o segundo turno, Lula
voa de 48% no Datafolha para
51,3% no Sensus. Alckmin cai de
39% no Datafolha para 29,7% no
Sensus.
Cesar Maia, um dos descobridores da fraude em que a união SNI/
Moreira Franco quis tomar a vitória de Brizola, encontra na pesquisa Sensus incongruências que
a derrubam mais do que ela derrubou Serra. Vê-se que não quer
levar em consideração que "o método do Sensus", segundo a explicação do seu presidente Ricardo
Guedes a "O Globo", "difere do
usado pelo Datafolha e pelo Ibope". É verdade. Difere em variados sentidos.
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