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Documentos apontam que Jango era vigiado no exílio
Papéis da polícia e do Exército do Uruguai têm relato de reunião do presidente
Obtido em dezembro por
entidade, material traz lista
de outros brasileiros que
estariam "comprometidos"
também com a "subversão"
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documentos da polícia e do
Exército do Uruguai até hoje
inéditos comprovam que o presidente João Goulart (1918-1976) era vigiado no exílio por
ser considerado "subversivo".
Em documento do Departamento de Inteligência do Exército, o primeiro do governo
uruguaio a vir à tona, Jango
aparece em lista com outros
seis brasileiros por "estar comprometido com a subversão".
Abaixo dos nomes, há uma
ordem para que "se tenha conhecimento das atividades das
pessoas mencionadas". Não fica claro a quem ou a quais órgãos a determinação foi dada.
Há também o relato de reunião entre Jango, o então senador do Uruguai Zelmar Michelini (1924-1976), e o ex-presidente da Bolívia Juan José Torres (1921-1976). O encontro em
Buenos Aires demonstra que
havia troca de informações entre os governos sul-americanos, pois são narradas viagens
de Jango à Argentina.
Segundo o documento, Jango, Michelini e Torres se reuniram em data não especificada
para tratar de interceder por
asilados brasileiros, uruguaios
e bolivianos que estavam em
Buenos Aires. "Estão conjugando esforços para obter das autoridades argentinas uma definição sobre o problema dos asilados", diz um trecho.
Em outro documento, do Departamento Nacional de Informação e Inteligência da polícia
uruguaia, com data de 22 de fevereiro de 1974, há novamente
lista de nomes de brasileiros vigiados com endereços, números de documentos, telefones,
local e data de nascimento e
atuação política e profissional.
Os outros brasileiros monitorados eram Dagoberto Rodrigues (amigo de Jango); Edmundo Ferrão Moniz de Aragão (jornalista); Ivo de Magalhães (administrador financeiro); João Alonso Mintegui (adido comercial da Embaixada do
Brasil no Uruguai no governo
Jango); Neiva Moreira (jornalista); e Carlos Olavo da Cunha
Pereira (advogado e jornalista).
Reforço
Os dois documentos foram
obtidos no Uruguai em dezembro pelo Movimento de Justiça
e Direitos Humanos do Brasil.
O presidente da entidade,
Jair Krischke, afirmou que os
dados reforçam as suspeitas de
que havia interesse dos governos militares do Brasil e do
Uruguai de eliminar Jango.
"São provas documentais importantes porque todos os três
que estavam na reunião relatada no documento do Exército
estão mortos e, por coincidência, morreram em 1976."
Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 na Fazenda La
Villa, em Corrientes, Argentina, horas após deixar Maldonado, no Uruguai. Oficialmente,
teve um ataque cardíaco.
À Folha, em janeiro, o ex-agente de inteligência do governo uruguaio Mario Barreiro
disse que o presidente foi envenenado. Segundo Barreiro,
Jango foi vigiado de 1973 até
1976, período em que morou
no Uruguai e na Argentina.
O ex-agente está preso por
roubo, posse e tráfico de armas
em Charqueadas (RS).
Michelini foi assassinado em
maio e Torres, em junho de
1976, ambos em Buenos Aires.
Os depoimentos do coronel
argentino Antonio Herminio
Simón e do carcereiro Néstor
Norberto Cendon à Justiça daquele país também reforçam a
tese de espionagem a Jango.
Condenado em 18 de dezembro de 2007 a cinco anos de reclusão por participar da Operação Condor, Simón disse que o
Exército argentino tinha ligações com o Comando do 2º
Exército, atual Comando Militar do Sul. Segundo Cendon, o
serviço de inteligência argentino tinha base em Paso de Los
Libres, cidade da Província de
Corrientes, onde se localizava a
fazenda onde Jango morreu.
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