|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
9% diz ter recebido oferta de compra de voto em 2004
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pesquisa Ibope divulgada ontem em Brasília mostra que 9%
dos entrevistados receberam
oferta de dinheiro ou de algum
outro bem material em troca de
votos nas eleições municipais do
ano passado. A região Sul aparece
com o maior índice: 12%, seguida
da Nordeste com 11%.
Encomendado pela ONG
Transparência Brasil e pela Unacon (União Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle), o levantamento aponta
também que 2% dos eleitores pesquisados disseram ter pago propina a funcionários municipais
durante os quatro anos do último
mandato.
Outros 6% relataram ainda que
servidores condicionaram a resolução de problemas ligados à administração municipal ao voto
em algum candidato, o que foi
chamado de "uso da máquina".
"Esses dados são preocupantes.
Se o percentual de oferta de compra de voto é nesse nível, ele pode
comprometer a legitimidade das
eleições. Tem que ser coibido",
afirmou Cláudio Weber Abramo,
da Transparência Brasil.
Para o cientista político David
Fleischer, da UnB (Universidade
de Brasília), o resultado não chega
a comprometer a legitimidade
das eleições, mas é preocupante
por mostrar defeitos no sistema.
"A lei [prevendo punição em
caso de compra de voto] existe,
mas não há meios para cumpri-la.
Aprovar a lei sem dotar a Justiça
Eleitoral de meios para fiscalizar e
cassar as candidaturas é transformá-la em letra morta", afirmou
Fleischer à Folha.
A lei 9.840, de 1999, proíbe o
candidato de "doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor, com
o fim de obter voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função
pública". A pena pode variar de
multa à cassação do registro ou do
diploma após eleito.
Abramo também cobrou agilidade da Justiça no julgamento de
casos ligados a compra de votos.
Universo
Realizada entre os dias 10 e 15 de
fevereiro, a pesquisa ouviu 2.002
eleitores com 16 anos em mais de
143 municípios, incluindo todas
as regiões metropolitanas e capitais do país. Segundo o Tribunal
Superior Eleitoral, o Brasil teve
121.391.630 eleitores em 2004.
A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou menos. Segundo Abramo, não há
pesquisas semelhantes a essas em
outros países para comparação.
A primeira realizada pela
Transparência Brasil para apurar
a compra de votos foi em 2000.
Não é comparável à pesquisa deste ano porque as perguntas foram
diferentes, mas, de acordo com
Abramo, o índice vem se mantendo no mesmo patamar.
Naquele ano, 6% dos entrevistados disseram ter recebido oferta
de compra de voto por dinheiro.
Em 2002, o percentual total passou para 3%, sendo 1% por dinheiro e 2% por bens e favores.
Somente por dinheiro, o índice ficou em 3% no ano passado.
Um dado interessante: a oferta
direta de compra de votos apresenta distribuição semelhante entre eleitores de cidades de pequeno e grande porte, do interior e
capital e independentemente da
renda familiar. Já eleitores mais
jovens, entre 16 e 24 anos, são
mais suscetíveis.
Expectativas
A pesquisa levantou a opinião
dos eleitores sobre o desempenho
dos prefeitos: 52% responderam
que eles fizeram uma boa administração, porém 30% acham que
eles roubaram. Sobre o novo prefeito, 66% consideraram que ele
deve ter um bom governo e 21%
disseram achar que ele roubará.
"Notamos que, quando o cidadão paga propina, ele reduz a confiança nas instituições. Suas avaliações e expectativas tornam-se
mais pessimistas", afirmou Abramo. Entre os que pagaram propina, 82% consideram que a administração não foi boa.
Ao cruzar os resultados dos eleitores que declararam acreditar
que os ex-prefeitos roubaram,
27% deles consideraram que fizeram bons governos.
Texto Anterior: MP abre espaço para prefeitos driblarem a LRF Próximo Texto: Rumo a 2006: Novo presidente do TSE quer mudar título Índice
|