|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI EM APUROS
Ministro, que nega ter estado na casa, visitava imóvel "quinta sim, quinta não", em 2003 e 2004, segundo ex-funcionário
Caseiro detalha idas de Palocci à "casa do lobby"
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O caseiro Francenildo dos Santos Costa, 24, confirmou ontem,
em entrevista coletiva, que o ministro Antonio Palocci (Fazenda)
esteve várias vezes, entre 2003 e
2004, na casa do Lago Sul em Brasília alugada pelo economista Vladimir Poleto -o que contradiz
depoimento prestado pelo ministro em janeiro à CPI dos Bingos.
Segundo o caseiro, Palocci costumava aparecer na casa "quinta-feira sim, quinta-feira não", além
de alguns sábados e domingos,
durante oito meses entre 2003 e o
início de 2004.
Na casa, segundo as investigações da CPI, lobistas se encontravam para se divertir e discutir formas de atuação em negócios de
seu interesse no governo federal.
"Tenho conhecimento de que
era ele porque eu ia atrás para ver
quem era. Eles falavam: "Ó, o chefe vai chegar tal dia'", disse Francenildo, referindo-se aos outros
freqüentadores da casa, como Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão
Preto (SP), Ademirson Ariovaldo
da Silva, assessor especial do ministro, e Rui e Ralf Barquete, este
ex-assessor especial da Caixa Econômica, além de Poleto. De acordo com o caseiro, "chefe" era como o grupo de se referia a Palocci.
"Entrei numa barca furada.
Pensava que eram pessoas honestas, e não eram. No final era essa
sujeira que está aí", disse ele.
Palocci, por meio da assessoria
do Ministério da Fazenda, negou
anteontem ter estado na casa. Ontem, procurada para falar sobre a
nova entrevista de Francenildo, a
assessoria não respondeu.
Francenildo disse que uma vez
conversou com Palocci pelo interfone da casa, num sábado à noite.
O ministro disse que estava com
problemas para deixar a casa.
"Eu estava fechando a casa
quando tocou o interfone. [O ministro] disse: "Estou perdido aqui
e tô querendo sair". Abri o portão
dos fundos e ele foi embora."
O caseiro contou que nas noites
de quinta-feira em que Palocci esteve na casa, sempre havia uma
mulher, normalmente trazida
uma hora antes por Ademirson
ou por Poleto. Ademirson trazia a
garota num Santana preto com
placas de Ribeirão Preto. Em todas as vezes, apenas Palocci e a
mulher ficaram na casa. O caseiro
e sua mulher permaneciam numa
casa nos fundos do imóvel.
Palocci, segundo ele, chegava às
"18h, 19h", sempre guiando um
Peugeot prata pertencente a Ralf
Barquete. "Saía 20h30, 22h, não tinha hora certa", completou.
Às terças-feiras e quintas-feiras,
o grupo de Ribeirão Preto costumava realizar festas com três ou
quatro garotas. Nessas ocasiões,
contudo, o ministro nunca esteve
presente, segundo Francenildo.
As festas eram freqüentadas
também por "três ou quatro"
amigos do grupo de Ribeirão. O
caseiro não soube apontar os nomes desses participantes, dizendo
que "não conhece deputados".
Nessas festas, segundo o caseiro
podia conferir ao recolher o lixo,
eram consumidas cápsulas de
Viagra, remédio que eleva a potência sexual masculina. Num
certo dia, algumas garotas teriam
consumido drogas. Isso deixou
Poleto indignado. Teria telefonado para alguém para dizer que
"não queria mais" que aquelas garotas fossem enviadas para a casa.
O caseiro confirmou também
ter presenciado a entrega de um
envelope a Ademirson no estacionamento do Ministério da Fazenda. O envelope conteria dinheiro,
segundo lhe contou o motorista
Francisco das Chagas Costa.
"O Francisco disse: "Vamos acolá. Entra no carro, vamos entregar
um dinheiro no ministério'", contou o caseiro. Do estacionamento,
o motorista telefonou para Ademirson, que desceu e pegou o pacote das mãos do motorista
Francenildo contou que Poleto
sempre usava dinheiro em espécie para pagar os salários dos funcionários da casa, cobrir despesas
gerais e adquirir mercadorias para o consumo nas festas.
Ele concedeu a entrevista, na casa de um amigo do seu advogado,
Wlício Chaveiro -que disse ter
entrado na causa a pedido de um
amigo. O caseiro negou ter recebido qualquer ajuda financeira antes ou depois de sua entrevista ao
jornal "O Estado de S. Paulo".
A Polícia Federal vai ouvir Francenildo e o motorista na investigação do "mensalão". Na semana
passada a PF enviou o inquérito
ao Supremo Tribunal Federal. Os
depoimentos só serão marcados
quando o inquérito voltar à PF.
Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Palocci em apuros: CPI convoca caseiro, Delúbio e Okamotto Próximo Texto: Frases Índice
|