São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI EM APUROS

Ministro, que nega ter estado na casa, visitava imóvel "quinta sim, quinta não", em 2003 e 2004, segundo ex-funcionário

Caseiro detalha idas de Palocci à "casa do lobby"

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O caseiro Francenildo dos Santos Costa, 24, confirmou ontem, em entrevista coletiva, que o ministro Antonio Palocci (Fazenda) esteve várias vezes, entre 2003 e 2004, na casa do Lago Sul em Brasília alugada pelo economista Vladimir Poleto -o que contradiz depoimento prestado pelo ministro em janeiro à CPI dos Bingos.
Segundo o caseiro, Palocci costumava aparecer na casa "quinta-feira sim, quinta-feira não", além de alguns sábados e domingos, durante oito meses entre 2003 e o início de 2004.
Na casa, segundo as investigações da CPI, lobistas se encontravam para se divertir e discutir formas de atuação em negócios de seu interesse no governo federal.
"Tenho conhecimento de que era ele porque eu ia atrás para ver quem era. Eles falavam: "Ó, o chefe vai chegar tal dia'", disse Francenildo, referindo-se aos outros freqüentadores da casa, como Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor especial do ministro, e Rui e Ralf Barquete, este ex-assessor especial da Caixa Econômica, além de Poleto. De acordo com o caseiro, "chefe" era como o grupo de se referia a Palocci.
"Entrei numa barca furada. Pensava que eram pessoas honestas, e não eram. No final era essa sujeira que está aí", disse ele.
Palocci, por meio da assessoria do Ministério da Fazenda, negou anteontem ter estado na casa. Ontem, procurada para falar sobre a nova entrevista de Francenildo, a assessoria não respondeu.
Francenildo disse que uma vez conversou com Palocci pelo interfone da casa, num sábado à noite. O ministro disse que estava com problemas para deixar a casa.
"Eu estava fechando a casa quando tocou o interfone. [O ministro] disse: "Estou perdido aqui e tô querendo sair". Abri o portão dos fundos e ele foi embora."
O caseiro contou que nas noites de quinta-feira em que Palocci esteve na casa, sempre havia uma mulher, normalmente trazida uma hora antes por Ademirson ou por Poleto. Ademirson trazia a garota num Santana preto com placas de Ribeirão Preto. Em todas as vezes, apenas Palocci e a mulher ficaram na casa. O caseiro e sua mulher permaneciam numa casa nos fundos do imóvel.
Palocci, segundo ele, chegava às "18h, 19h", sempre guiando um Peugeot prata pertencente a Ralf Barquete. "Saía 20h30, 22h, não tinha hora certa", completou.
Às terças-feiras e quintas-feiras, o grupo de Ribeirão Preto costumava realizar festas com três ou quatro garotas. Nessas ocasiões, contudo, o ministro nunca esteve presente, segundo Francenildo.
As festas eram freqüentadas também por "três ou quatro" amigos do grupo de Ribeirão. O caseiro não soube apontar os nomes desses participantes, dizendo que "não conhece deputados".
Nessas festas, segundo o caseiro podia conferir ao recolher o lixo, eram consumidas cápsulas de Viagra, remédio que eleva a potência sexual masculina. Num certo dia, algumas garotas teriam consumido drogas. Isso deixou Poleto indignado. Teria telefonado para alguém para dizer que "não queria mais" que aquelas garotas fossem enviadas para a casa.
O caseiro confirmou também ter presenciado a entrega de um envelope a Ademirson no estacionamento do Ministério da Fazenda. O envelope conteria dinheiro, segundo lhe contou o motorista Francisco das Chagas Costa.
"O Francisco disse: "Vamos acolá. Entra no carro, vamos entregar um dinheiro no ministério'", contou o caseiro. Do estacionamento, o motorista telefonou para Ademirson, que desceu e pegou o pacote das mãos do motorista
Francenildo contou que Poleto sempre usava dinheiro em espécie para pagar os salários dos funcionários da casa, cobrir despesas gerais e adquirir mercadorias para o consumo nas festas.
Ele concedeu a entrevista, na casa de um amigo do seu advogado, Wlício Chaveiro -que disse ter entrado na causa a pedido de um amigo. O caseiro negou ter recebido qualquer ajuda financeira antes ou depois de sua entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo".
A Polícia Federal vai ouvir Francenildo e o motorista na investigação do "mensalão". Na semana passada a PF enviou o inquérito ao Supremo Tribunal Federal. Os depoimentos só serão marcados quando o inquérito voltar à PF.


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